18.12.2020
O uso de máscaras (e de mascarilhas), que para tantos surge como novidade incómoda, é muito antiga.
Só que, cá pelos ocidentes, até este ano de (des)graça de 2020, as máscaras e mascarilhas se usavam para finalidades em que os seus portadores ou queriam esconder as suas identidades (assaltos a bancos por exemplos muito filmados) ou queriam divertir-se em épocas festivas, como os carnavais a antecederam as quaresmas.
Aliás, os romances de capa e espada podiam chamar-se de capa, mascarilha e espada…
Agora, e aqui por este
Portugal, depois de algumas dúvidas, hesitações e balbucios, a Direcção Geral
de Saúde acabou por se render e recomendar (ou mais que isso) o uso de máscaras
para fins sanitários de prevenção de contágios e de acesso ao nosso interior de
vírus e outras espécies virulentas para a nossa saudinha, o que já era uso e
costume (injustamente ridicularizado neste jeito euro ou ocidento-centrismo)
por cidadãos de urbes orientais.
E encontro aqui, nesta referência à DGSaúde, uma via fértil para metáforas sobre máscaras e disfarces.
É que esta sigla-abreviação já foi em tempos usada para esconder uma coisa que se chamava PIDE, e Pide ficou para a triste História de um tempo português em que a PVDE (“pevide”) a antecedeu como designação abreviada, e foi prosseguida sob a máscara de DGS, ou seja (mas não pegou) Direcção-Geral de Segurança, a DGS de Marcelo que queria continuar salazarismo renovando-o.
E esta dança das designações e siglas para definir, e também para esconder, situações, instituições e factos tem que se lhe diga... é como a Nau Catrineta que tem muito para contar.
Ainda ontem (ou foi anteontem?) apareceu uma palavra nova que perturbou um bocado: vigentismo.
A sua origem (no caso presente… e não sei se haverá outros) está no texto de um jornalista (Germano Oliveira) que chama a atenção – alerta! – para a proposta de emenda à nossa Constituição que começaria por, na introdução, em vez de se dizer que “A 25 de Abril de 1974, o Movimento das Forças Armadas, coroando a longa resistência do povo português e interpretando os seus sentimentos profundos, derrubou o regime fascista” se diria que… derrubou o regime vigente.
E o jornalista, com todo o discernimento, define o que seria o vigentismo, uma máscara para esconder o fascismo, e abrir-lhe as portas do sistema político democrático para o destruir, e para restaurar o derrubado fascismo!
Gosto de trabalhar as palavras, inventar formas novas de dizer o mesmo mas, também, para as denunciar quando a sua intenção é deletéria, é de corromper, de esconder significados de palavras que se propõe substituírem as conhecidas e usadas.
E é curioso que haja quem, em nome do vigentismo, se proponha anti-sistema, mas qual?, associando-lhe um anti-sistemismo que pode ter todas as variantes que se lhe queira atribuir, com a virtude de mudar… com a armadilha de utilizar o verbo mudar como se fosse verbo não transitivo: mudar para ficar tudo na mesma, como tantas vezes e de tantos se pode citar.
de tomar o verbo como não transitivo. quando porque mudar tem de conter.
E ao defender-se, ou a propugnar a mudança sem se explicitar de onde e para onde, de quê e para quê, está a tomar-se a posição mais radical da não-mudança,da violência para a continuidade do capitalismo que não tem futuro impedindo a humanização do sistema político em que o ser humano se organiza, a superação pelo socialismo.
1 comentário:
Reflexões à volta das máscaras.Muito bom.Bjo
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