São tão “fofinhos”
Isto apesar de outras dúvidas que leitor prenhe de
dúvidas pudesse ter a partir do título, Todas
diferentes, todas desiguais, no entanto suficientemente esotérico para
aliciar para a leitura ou provocar reacção contrária.
Mas, ultrapasse o leitor que somos o título e as
linhas patamares de entrada em que o comentador da obra magna (a segunda!) dá a
pista de que Piketty se propõe fazer a história social, e económica, e
ideológica, da desigualdade.
Lidas as duas páginas, em que putativo leitor é poupado
a quase uma pela dimensão da foto do autor, seria injusto dizer que, como era
uso dizer (não sei se ainda é) nos tribunais, aos costumes disse nada porque, aos costumes… disse de outra
maneira. Mais, aos costumês, disse de maneira que talvez sirva para esconder
outras maneiras… De quê?... de abordar a história social e a magna (essa sim,
magna) questão da(s) desigualdade(s).
Porque o que parece evidente, a este leitor com dúvidas
e em dúvida, é que a Piketty, e ao comentador por ele, o que importa não é fazer
a história daquilo que rdiz, o que implicaria procurar as causas, que noutras
abordagens se identificam, mas atenuar ou apaziguar os efeitos dessas causas. Assim
como que um piscar de alertas dirigido ao poder que controla o(s) discurso(s). Porque
são vários os discursos que legitimam o
privilégio e, logo, a desigualdade, como o do inventariador dos efeitos, e o
do seu comentador.
Sim, porque é quase caricata a apresentação das própostas
«como base para um programa de esquerda»:
atribuição de poder aos trabalhadores (por quem?, pelo Papa?, pelos que detém o
poder e, com ele, controlam o discurso que os legitima?) e… a criação de
impostos fortemente progressivos. Pois!
É tão fácil apresentar “soluções. Como diz Jerónimo, o papel aguenta tudo.
Parafrasei-se, “à maneira”, Almeida Garrett (1799-1854):
de quantos desiguais se faz um privilegiado?
Ou cite-se (isto é, recite-se) Cunhal (em 1998[2]):
“O capitalismo ter-se-ia superado a si próprio. Teria deixado de ser
capitalismo, para ser agora «economia de mercado». Já não haveria capitalistas
mas «empresários». Seria um «capitalismo civilizado», sem classes antagónicas,
um capitalismo sem proletários, sem luta de classes, nem natureza de classe de
governos e políticas, seria uma sociedade nova definitiva e final constituída
por cidadãos conscientes, cordatos e mutuamente solidários, aceitando,
assinando e cumprindo «pactos de regime», «pactos sociais», «pactos» e mais
«pactos» pelos quais os cidadãos trabalhadores (agora dizemos nós) aceitariam
renunciar a direitos fundamentais e vitais. Ou seja, ser explorados pelos cidadãos
capitalistas e os cidadãos capitalistas continuar a explorar os trabalhadores e
a justificar-se perante a opinião pública através dos seus fantasiosos teorizadores.”.
[1] - Todas diferentes, todas iguais, Luis M. Faria
[2] - O Caminho para o derrubamento do fascismo - o IV Congresso, edições avante!
Sem comentários:
Enviar um comentário