Estes economistas já vêem Portugal
fora do euro e dizem como vai ser
Por Margarida Bon de Sousa , publicado em 25 Mar 2013 - 13:59
Defensores da saída do euro invocam o caso da Islândia.
E dizem que a recuperação será mais rápida
(...)
A propósito... e só para lembrar!
Extracto de actas do Parlamento Europeu (em 50 anos de economia e militância - e mais 5...):
«SESSÃO DE SÁBADO, 2 DE MAIO DE 1998
4. Moeda única
Declarações de voto
Ribeiro (GUE/NGL). – Senhora Presidente, os deputados do Partido Comunista Português, com a solenidade que a ocasião exigiria, mas que a euforia para impressionar a opinião pública não permite, declaram que:
- o seu voto é a expressão coerente de uma posição contra este projecto, o modo como foi conduzido e os interesses que serve. Não é um voto contra a estabilidade de preços, o equilíbrio orçamental, ou o controlo de dívidas, mecanismos e instrumentos. É, sim, um voto contra a sua utilização para impor estratégias que concentram riqueza, agravam desemprego, agudizam assimetrias e desigualdades, criam maior e nova pobreza e exclusão social, diminuem a soberania nacional e aumentam défices democráticos;
- é também um voto contra a formação do núcleo duro para a Comissão Executiva do BCE, privilegiando zonas geográfico-monetárias e partilhando influência entre grandes famílias partidárias, numa evidente polarização do poder na instituição que condicionará todas as políticas dos Estados-Membros;
- após este passo, continuarão a combater os já reais e os previsíveis malefícios do projecto que integram os mecanismos e instrumentos criados. Procurarão, do mesmo modo, contribuir para que sejam potenciadas as suas virtualidades;
- lamentam, por último, que o Parlamento tenha perdido a oportunidade para se credibilizar como instituição democrática, por ter cedido à pompa e circunstância de um ritual de homologação ou de confirmação do que lhe foi apresentado.»*
_____________________________________________
* - Em confronto, por me parecer muito significativa a vários títulos, transcrevo, também das actas, a declaração de voto dos deputados do Partido Socialista:
«Marinho, Torres Couto, Apolinário, Barros Moura, Campos, Candal, Correia, Torres Marques, Lage, Moniz (PSE), por escrito. – O euro entrará em vigor em 1 de Janeiro de 1999. É uma certeza que desmente categoricamente os vaticínios negativos que muitos faziam.
Portugal, contrariamente às previsões daqueles que não apostavam um cêntimo nas suas possibilidades, venceu, brilhantemente, todos os exames e está na primeira fila dos países fundadores, participando com orgulho neste momento, verdadeiramente crucial da história da Europa, que assim dá sinais de não querer envelhecer e declinar. Ao contrário também daqueles que arrogantemente garantiam a pés juntos que para atingir o euro seria necessário sacrificar os interesses imediatos dos cidadãos e, ao mesmo tempo, previam uma crise da produção nacional. Portugal desmentiu, nesta recta final do euro, todas as teorias académicas e ideias adquiridas: o crescimento económico do país acelerou, o nível de vida dos portugueses melhorou e a capacidade de exportar aumentou.
Tudo isto foi conseguido porque a grande maioria dos portugueses se sentem identificados com este grande projecto, porque trabalhadores e empresários souberam aproveitar a conjuntura favorável e porque, é justo dizê-lo, o Governo socialista soube combinar habilmente a expansão da procura interna com o investimento público e apostou na iniciativa privada, dinamizada pela baixa da taxa de juro. Tudo isto realizado num clima de tranquilidade social e de solidariedade de que a introdução do rendimento mínimo garantido foi o símbolo maior.
Não se pode dizer que não haverá problemas ou dificuldades. Todavia, tal como o país mostrou ser capaz de realizar as «performances» inesperadas que realizou, também será capaz de, com o mesmo espírito e dinamismo, aproveitar as oportunidades que tem à sua frente e aproximar-se mais depressa dos níveis médios de riqueza e das exigências de competitividade dos nossos parceiros do euro, com os quais encetamos esta caminhada inédita na história contemporânea. Caminho esse que não dispensa, antes exige, uma intensificação da dimensão política e social da integração europeia. A Europa política tem agora a palavra, o funcionamento democrático da União Europeia e o envolvimento dos cidadãos têm a prioridade.
Nós, que desde sempre nos batemos e sonhámos com este momento, temendo quantas vezes em silêncio que não nos pertencesse a alegria da chegada, sabemos reconhecer quem nos indicou o caminho e quem o tornou possível. Vivemos um acontecimento singular da história da Europa, um princípio e não um fim, e estamos conscientes que nesta nova etapa do projecto europeu, esta instituição, será chamada a uma maior intervenção nos destinos da Europa.»
9 comentários:
Claríssimo.
Sábias palavras: saber o que aconteceu é papel dos estudantes, saber o que vai acontecer é obra dos sábios. Os sábios não se consideram acima dos outros, ninguém é sábio sem humildade.
As posições aqui descritas, são lições de história, não serão revistas pelos que só vêem tv mas haverão de ser estudadas pelos estudantes.
Um abraço farto de tanto economista
É interessante a comparação entre as duas declarações de voto!!!!!
A realidade mostra que o Grupo GUE/NGL tinha razão.
Um beijo.
Ê ôbvia,a diferenca de visao sobre o euro,exposta neste extracto de acta.A realidade da situacao presente,deu-nos razao.
Um beijo
No próximo dia 3, cá pelos meus sítios, não te esqueças de ler estas algumas destas passagens... é que a memória é uma coisa....
Eu que até já fui mais «europeísta» não posso deixar de reconhecer a justeza destas posições... Por outro lado, se o nosso (des)governo tivesse coragem para muito simplesmente - e logo apenas - anunciar a sua intenção de negociar a saída do Euro, suspeito que os «senhores que puxam os cordelinhos» (em Bruxelas, em Frankfurt e em Berlim) mudavam logo de discurso e de praxis... Cheira-me que há em tudo isto muito de «jogo de poker»...
Eu,no meu fraco entender de simples operário emigrante na Holanda desde 1964 e já velhote(quase 89 anos), digo que o EURO foi engendrado pelos Banqueiros e os detentores do Poder Económico-Financeiro que assim transformaram o valor de 200 escudos em 1 Euro e desta maneira, obtiveram ordenadões escandalosos de muitos milhares de escudos por mês.Até aqui na Holanda que tem um nível de vida melhor que Portugal, há muita gente que quer voltar à moeda anterior,o Gulden.
A diferença entre a verdade e o foguetório...
Abraço.
Muito bem Sérgio.
Um abraço,
Pedro
Enviar um comentário