- Edição Nº2455 - 17-12-2020
Um despacho da agência Lusa dava conta, nos primeiros dias de Maio de 2019, de que apenas seis países da União Europeia não tinham nos seus sistemas políticos partidos de direita nacionalista ou extrema-direita, os quais estavam no governo em 10 estados membros e dispunham de representação em outros 12 parlamentos nacionais.
As honrosas excepções, à época, eram Portugal, Irlanda, Luxemburgo, Malta, Reino Unido e Roménia, mas foi sol de pouca dura. Em menos de um ano o grupo dos resistentes ficou reduzido a metade (Irlanda, Luxemburgo, Malta).
Um breve olhar para o resto do mundo não mostra um panorama mais animador, o que torna ainda mais pertinente a questão que a todos nos devia inquietar: que caminho é este que estamos a trilhar?
Durante longo tempo os poderes instituídos tentaram fazer-nos acreditar que a experiência terrível de duas guerras mundiais e décadas de ditadura fascista em diversos países, com o seu rol de vítimas, crimes e horror, eram garantia bastante para que «nunca mais», qual vacina eficaz e segura capaz de fornecer imunidade contra a peçonha do nazi-fascismo.
Os surtos que surgiram entretanto foram desvalorizados como epifonómenos sem importância, malgrado a tendência para se reproduzirem com cada vez maior rapidez. A democracia – ou aquilo a que se chama democracia no sistema capitalista – haveria de responder a tais desvios à norma instituída, que é como quem diz a política ao serviço do capital travestida em política ao serviço do povo. Nem mesmo quando Trump e Bolsonaro chegaram ao poder as campainhas de alarme soaram suficientemente fortes para levar à inversão de marcha.
Os resultados estão à vista. O discurso racista, xenófobo, machista, retrógrado, obscurantista; o discurso do ódio, da exclusão, da violência, aí está a cativar as vítimas do neoliberalismo, da globalização, das desigualdades do projecto europeu, servido por uma comunicação social que há muito deixou de ser o cão de guarda da democracia e se transformou – salvo as honrosas excepções – no pé de microfone, no papagaio, na voz do dono, enfim.
Longe vão os tempos em que os candidatos a ditadores usavam a força bruta à tiracolo. Hoje cuidam da imagem, andam pelas redes sociais, são sempre anti-sistema, e falam sem rebuços da lei e da ordem, da família e da justiça, de deus e da pátria, na certeza de que as suas palavras serão reproduzidas até à exaustão.
Os que, no poder instituído, acalentam no seio o ovo da serpente, já nem parecem dar conta do sabor amargo do veneno que vão bebendo. No afã de legitimar a cria, disfarçam o monstro e fazem de conta que basta o manto diáfano da ida às urnas para ocultar a besta fascista.
Anabela Fino
1 comentário:
Um texto de alerta,para não nos fazer esquecer que o holocausto não começou nos campos de concentração.Bjo
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