sábado, dezembro 19, 2020

Foi num dia assim...

 Foi num dia assim, há 59 anos, na Rua da Creche, ao Calvário, hoje Rua Dias Coelho.

... como se fosse hoje...



4 comentários:

Maria disse...

Abraço muito grande. Era o que queria dizer-te. Fica escrito....

Maria disse...

A José Dias Coelho

Seja minha a tua força, irmão
seja meu o teu braço, camarada
Sejam estes muros não um paredão
sejam uma ponte ou mesmo uma estrada.

Seja nela meu o teu anseio, irmão
seja minha a luta que na tua terra travas
seja ela o fruto das coisas que amavas.

Sejam essas coisas, as mesmas, irmão
sejam as que amo aqui nesta cela
seja para sempre a minha na tua mão
seja para todos uma vida bela
seja nela o trigo com a sua cor dourada
sejam as papoilas vermelhas de querer
seja sempre o dia que sucede à madrugada
seja outro o sentido da palavra morrer.

Sejam os mortos aqui ao nosso lado
sejam os seus também os nossos passos
seja em luta o ódio acumulado
sejam retesados nossos membros lassos.

Sejam as colinas de vontade erguidas
seja a sua força a que do amado vem
sejam nossas as tuas palavras queridas
seja minha a tua vontade também.

E não há muros, bombas ou insultos
que detenham as árvores ao nascer da terra
nem façam brotar flores de pensamentos estultos
nem parar o sol. E não será a guerra
com que os lobos sonham em noites de orgia
que impedirão que nasçam.

Das auroras por nascer
das estruturas por erguer
dos caminhos por andar
das flores por brotar
estendem-se as mãos do futuro
que envolvem teu corpo de bandeira.

Alda Nogueira
(Prisão de Caxias, 1963)

Olinda disse...

Sei que este dia,é um dia muito triste para ti.
Como disse um poeta catalão:"De vez em quando,é necessário que morra um homem,pelo seu povo.Mas nunca um povo por um só homem"José Dias Coelho deixou escrito numa gravura para o Avante,dias antes ao seu cobarde assassinato:"De todas as sementes confiadas à terra,é o sangue derramado pelos mártires que faz nascer as mais copiosas searas.Um abração,camarada.

Sérgio Ribeiro disse...

Muito obrigado, camaradas e amigas Maria e Olinda.
Há dias em que a compreensão do "outro" nos aquece bem cá por dentro.