Ocupa-se, há desmedido tempo, o tempo de
informação política com uma questão. Com a ajuda do Expresso-curto, muito bem “tirado” por Valdemar Cruz (A verdade
como ponto de vista), procuro resumir:
Qual
é a questão?
“Em
causa está apurar se houve ou não acordo para isentar a anterior administração
(nomeada para a CGD) de apresentar as declarações de património e rendimentos.”
Como
se discute a questão?
“…
entre a mentira
pura e dura, a hipótese de uma sugestão de falsidade, ou a
eventualidade de uma omissão da verdade, do que estamos a falar é de exercícios retóricos muito ao gosto de
Nietzsche, que defendia ser impossível obter uma certeza sobre a definição
do oposto de mentira.”
Pretende-se
chegar à verdade?
“A
verdade é, sempre foi, uma questão de poder. Do poder de quem tem o poder de fazer valer
um ponto de vista. Da aceitação de um postulado deste jaez não
resulta uma necessária negação de um outro princípio basilar exposto por Karl
Marx, creio que nas “Teses sobre Feuerbach”(*), quando rejeita a arbitrariedade
ou subjetividade dos conceitos e afirma a existência de uma verdade objetiva.”
Ou pretende-se criar e alimentar um “caso
de política”, no sentido perverso (e conotável) da expressão?
“Problema
diferente, agora já do domínio da política pura e dura, e não tanto da
filosofia, é perceber
se o que move CDS e PSD é tão só o rigor contido na busca da tal verdade
objetiva, despida, portanto, de qualquer subjetividade, ou, tal
como defendem vozes do PCP, do BE, mas também do PS, através da suposta ideia
de uma exclusiva procura da verdade, que teria sido gravemente ofendida no
Parlamento, não estão antes a alimentar jogos florais ancorados numa discussão bizantina.
Qual
o objectivo maior da discussão?
“Como
a política não é um bom lugar para exercícios de inocência, o objetivo maior, disseram-no ontem Jorge
Coelho (SIC Notícias) ou João Ferreira (RTP 3), seria o de
criar instabilidade num momento particularmente delicado para a CGD.
Tratar-se-ia de um processo de descredibilização que dura há um ano, do qual
resultaria a intenção
de criar dificuldades à capitalização daquele que é agora o
único banco português, e abrir caminho para a sua privatização. Seja ou não este o
objetivo último, e já que estamos a debater os caminhos da verdade, parece não
constituir uma
sugestão de falsidade afirmar que o Governo se tem posto a
jeito. (…) É demasiada trapalhada para tão escasso assunto. Logo, os pormenores
serão apenas um atalho para uma caminhada mais funda.”
________________________
(*) – seria
esta? (talvez noutra tradução):
2
A questão de saber se ao pensamento humano pertence a verdade
objectiva não é uma questão da teoria, mas uma questão prática. É na práxis que o ser humano tem de comprovar a
verdade, isto é, a realidade e o poder, o carácter terreno do seu pensamento. A
disputa sobre a realidade ou não realidade de um pensamento que se isola da
práxis é uma questão puramente escolástica.
1 comentário:
Artigo bom do VC, o teu blog completa-o! Muito bom!
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