domingo, fevereiro 05, 2017

Os mediocráticos e o tempo (não) perdido... ou a máquina de fazer parvos

Extractos de «páginas diárias»:

"... e conversámos sobre a crónica da Ana Leonardo de ontem (na revista do Expresso), e fiquei a saber que era dedicada a um filho da mãe que dá pelo nome de Walter (é assim, com W?), o huguinho de sua Mãe.

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E registo – aqui – duas novidades novas (!)
  • ·        Uma invenção para os medíocres em desesperada demanda do mediático: os mediocráticos;
  • ·        Os quais, pelas amostras - e sem remorsos -, excluo do meu tempo perdido ou a perder!
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Tenho mais que fazer… como aproveitar – para aqui e ali – textos como este:



ISTO ANDA TUDO LIGADO
ANA CRISTINA LEONARDO

A MÁQUINA DE FAZER PARVOS



A recente controvérsia a propósito da “linguagem inapropriada” de um livro incluído no Plano Nacional de Leitura, recomendado por professores de Português aos alunos do 8º ano, veio recordar a falta que faz a inteligência. Ao escrever inteligência, refiro-me ao médico, pedopsiquiatra, psicanalista e educador João dos Santos, homem cuja sensibilidade, sustentada na firme aliança entre teoria e prática, jamais lhe permitiu abandonar a árvore a troco da floresta. As suas conversas com João Sousa Monteiro, reunidas no livro “Se Não Sabe Porque É que Pergunta?”, continuam a ser um manancial de sabedoria e encantamento e é nele que vem relatado este pitoresco episódio que versa precisamente sobre vida sexual. Convidado para uma conferência, João dos Santos conta que “a certa altura, levanta-se uma senhora lá do meio daquele anfiteatro muito grande, lá de cima, e diz-me: ‘Eu já expliquei ao meu filho tudo quanto havia sobre o nascimento das crianças, e ele agora quer ver mesmo como é que os pais fazem, quer estar lá no quarto para ver como é. O que é que o sr. fazia?’ e eu disse-lhe, de cá de baixo da minha cátedra: ‘Olhe, minha sra., se fosse comigo, eu dava-lhe dois estalos, porque não gosto que se metam na minha vida.’” A criança a quem a abnegada mãe se referia seria decerto mais nova do que os alunos do 8º ano que terão, no geral, entre 12 e 14 anos, mas ainda assim atirar-lhes com esta definição de puta: “uma mulher tão porca que fode com todos os homens e mesmo que tenha racha para foder deixa que lhe ponha a pila no cu” parece temerário, por muito que os indignados com o que chamam puritanismo parental argumentem que no 8º ano são mais os infantes que conhecem os “factos da vida” do que os “atos ilocutórios”, não sendo isso que está em causa, afinal, trata-se de Português, e se é de Português para Miller falta tudo ao autor da frase, Miller que obviamente não escrevia para criancinhas nem defendia que “o sexo do homem é muito mais honesto, visível e mais facilmente lavável, enquanto o das mulheres é mais sinistro”, o que nos traz ao ponto – sexo lavável?! –, daí que corrigido o “lapso”, nas palavras do responsável do PNL, o livro em causa passe a ser recomendado a alunos apenas do 10º ano e seguintes, o que me faz regressar a João dos Santos que cito livremente:
se fosse comigo, eu dava-lhe dois estalos, porque não gosto que se metam com a literatura.

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