Para Dühring, «…tudo está tão suficientemente demonstrado pelo famoso pecado
original, em que víamos Robinson escravizar "Sexta-feira"? Esta escravização era um ato de violência
e, portanto, um ato político. E, como esse ato de dominação é o ponto de
partida e o fato fundamental de toda a história até os nossos dias,
introduzindo nela o pecado original da injustiça, embora um pouco atenuado ao
se converter mais tarde "nas formas
bem mais indiretas da dependência econômica", e, como desse avassalamento
primitivo brota toda a "propriedade
baseada na força", que vem até hoje imperando, é evidente que os
fenómenos económicos têm a sua raiz em causas políticas e, mais concretamente,
na violência. E quem não se conformar com essas deduções é (seria) um reacionário camuflado.»
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Contrapõe Engels «… mesmo admitindo, por um momento, que o Sr. Dühring tenha razão ao afirmar
que toda a História, até aos nossos dias, tem as suas raízes na escravização do
homem pelo homem, não chegaríamos, desse modo, nem aproximadamente, ao ponto
nevrálgico da questão. Surgiria imediatamente a pergunta: que levou Robinson a escravizar "Sexta-feira"? Fez isso
apenas por diversão? Sabemos que não. O que se nos afirma, pelo contrário,
é que "Sexta-feira" era "espoliado
como escravo, ou como simples instrumento para serviço económico, e mantido
somente na categoria de instrumento". Robinson, portanto, escraviza "Sexta-feira"
para que este trabalhe em seu beneficio. E como pode Robinson se aproveitar do
trabalho de "Sexta-feira"? Somente conseguindo que "Sexta-feira"
crie, por seu próprio trabalho, mais meios de vida do que os que Robinson
possui para lhe fornecer, a fim de que se mantenha em condições para trabalhar (satisfação das necessidades para sobreviver). Isto é, Robinson,
contra as prescrições expressas e imperativas do Sr. Dühring "não toma como ponto de partida um agrupamento
político" criado por meio da escravização de "Sexta-feira",
"por si mesmo considerando-o, pelo
contrário, exclusivamente, como meios para fins ligados à subsistência"
(… à satisfação das suas necessidades), e agora, ele que
procure entender-se com o seu dono e Senhor.»
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«… A mesma coisa que, como vemos,
acontece com Robinson e "Sexta-feira", pode ser observada com todos
os casos de poder e avassalamento de que nos fala a História. A escravização
tem sido sempre, para empregar a elegante expressão do Sr. Dühring, um "meio para fins ligados à
subsistência" (concebida a subsistência em seu sentido mais amplo) (… à satisfação
das necessidades), sem ter sido em parte alguma um "agrupamento político",
implantado graças a si mesmo. É preciso que se seja um Sr. Dühring para se poder imaginar
que os impostos cobrados pelos Estados não são mais que "efeitos de
segunda ordem" e que o
"agrupamento político" de nossos dias, que coloca, de um lado, a
burguesia poderosa e, de outro lado, o proletariado oprimido, chegou a existir
graças a si mesmo, e não como conseqüência dos "fins de subsistência"
dos burgueses dominantes, ou seja, pela produção de lucro e acumulação do
capital.»
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Haveria muito mais a transcrever...
1 comentário:
Aprender,aprender,aprender.Bjo
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