quinta-feira, novembro 30, 2017

O "nosso" ministro das finanças vai ser candidato!


MAS A QUÊ? 
E QUEM SERÃO OS ELEITORES?

terça-feira, novembro 28, 2017

As cadeiras e os pedregulhos

Antes do fim de semana, vi assim as cadeiras e os pedregulhos.
Parecia tudo (tudo o que era...) mais ou menos arrumado. Por ora...


Hoje, em nova volta pelo quintal, as coisas (pedregulhos e cadeiras)
pareceram mais desarrumadas. E ainda não ventou...

sábado, novembro 25, 2017

Notícias expressas da semana de 20 a 24

Começa-se a semana a ler uma notícia-artigo que faz sorrir


Página a página no mesmo Expresso-Economia vão-se encontrando motivos para outros estados de humor (ou de reflexos e/ou reflexões), como um poema do Manuel António Pina, até se apanhar um com choque, isto é, ficar chocado, com a manipulação e a falta de deontologia de

... os russos são mesmo maus, como esse Putin o comprova ao contrariar o apodrecimento do que não pode estar a ser maduro na Venezuela!

E assim se passou a semana, a ler aqui e ali, isto e aquilo, até apanhar com um Expresso-curto, via email, que até tem cabeçalho apelativo, mas um final que provoca espanto, admiração, quiçá inveja

... como é que o homem consegue?! E lembra-se que a "fantástica biografia" (se é a que a Revista faz idêntico panegírico) tem, só!, 662 páginas. Fica-se sem fôlego. Caótico e desordenado.   




sexta-feira, novembro 24, 2017

Para o quase-diário - um 25 de Novembro, o de 1967

Seria para o quase-diário, que durante anos escrevinhei, não estivesse ele "em estaleiro"... Por isso, vem para aqui o que se me impõe registar.
Acabávamos de almoçar quando a vizinho que, por dias combinados, nos vem ajudar em lides caseiras entrou, e depois das saudações, me perguntou se eu me lembrava das cheias de há 50 anos, de que ouvira coisas na televisão e mal se lembrava tão pequena era mas, de que guardava uma recordação.
O que ela veio trazer-me!!!
Andava há uns dias com esse dia na memória a aguardar espaço (ou tempo) para a ele voltar, por efeito de mails (do Jorge Vasconcelos, por exemplo) e outros sinais, mas a vizinha Rosa, com o seu questionar, despoletou tudo, isto é, fez arranjar tempo (ou espaço) para recuar 50 anos.
Nesse dia 25 de Novembro de 1967, a Estampa organizara um colóquio para, com os depoimentos nele gravados e segundo a coordenação e apresentação de Urbano Tavares Rodrigues, vir a editar o 2º volume de uma nova colecção - Polémica - que lançara.
O tema proposto foi A Condição da Mulher Portuguesa e a editora (e o coordenador) incluíra-me entre os depoentes, como economista a parceirar com uma socióloga (Isabel Martins, mais tarde também escritora conhecida como Isabel Barreno), quatro escritores (Isabel da Nóbrega, Augusto Abelaira, Natália Nunes e Agustina Bessa Luís) e uma jurista (Maria da Conceição Homem de Gouveia).
O colóquio realizou-se no fim da tarde. E chovia!
No meu depoimento, comecei com o lamento/justificação por, com tais interlocutores, ter de me atribuir a tarefa de "(...) apresentar os áridos números, (e) sei que isso me pode tornar no desinteressante estragador de troca de impressões vivas, sobre temas vivos.(...)".
E chovia lá fora!
Depois de prologar a introdução/lamento, disse:
"(...) Mas vamos às tarefas auto-atribuídas. Lá fora, aqui ao lado, há frio, há fome, há quem apanhe chuva.(...)".
Era o dia 25 de Novembro de 1967. De há 50 anos. Só horas depois se teve a clara consciência da tragédia que, estes anos passados, se assinala, particularmente com a justa lembrança (vivida por alguns de nós) da solidariedade dos jovens estudantes universitários e do Partido Comunista, então na dura e violenta clandestinidade, mobilizada para minorar a tragédia sofrida pelos de "ali ao lado"!

A propósito, ao folhear o livro, deparei-me com este trecho do depoimento de Isabel Barreno:
«(...) Um dia, a assistente social foi visitar a oficina, viu as mulheres trabalhando ao torno, e, conversando com o contramestre, mostrou-se muito satisfeita com a promoção daquelas mulheres, "e elas agora ganham o salário de um torneiro não é verdade?"; o contramestre disfarçou, mostrou-se pouco à vontade, "bom, por enquanto não, por enquanto são aprendizes"; a assistente social insistiu, "sim, mas depois vão ganhar o mesmo que os outros torneiros, não é?", e o homem então resolveu entrar a direito no assunto: "oh minha senhora, não diga isso, parece mal, as mulheres a ganharem o mesmo que os homens, até parece comunismo".(...)».
Ah!, pois parece...

Com a força de muitos...

O prazer - amargo mas de esperança - de ler (e de transcrever) um pequeno texto muito vivido e... bem escrito.

 - Edição Nº2295  -  23-11-2017

Um pinheiro de Natal

Em Póvoa de Mosqueiros, Santa Comba Dão, já faz frio. As noites pedem lareiras acesas, mas foi a conversa a propósito dos incêndios, no salão da Associação local, que aqueceu o ambiente da passada sexta-feira.
Afirmada a avaliação do Partido sobre as origens e os responsáveis da dramática situação vivida este Verão, e a exigência de que o Governo responda, com clareza, às necessidades imediatas das populações e aos apoios à restituição das condições de vida e de trabalho, as opiniões e perguntas sucedem-se, vindas de quem viveu a tragédia e tem para contar momentos de horror, mas também de coragem, de sobrevivência e de capacidade de luta pela vida que continua.
No seu olhar seguramente septuagenário, rugas no rosto cansado mas vivo da experiência, na sua determinação de mulher beirã habituada às agruras dos dias, a primeira intervenção põe tudo a nu.
«Nós aqui perdemos a floresta toda. Desde aqui até ao Mondego não há uma árvore que tenha ficado viva. Isto foi só o seguimento do que nos fizeram ao longo destes anos todos. Nós não temos médicos, não temos escolas, não temos transportes. Estamos para aqui abandonados por toda a gente.»
Compreensível sentimento de abandono por sucessivos governos, de quem, apesar de todas as evidências, não consegue identificar na política de direita a origem dos seus problemas.
Da mesa, os camaradas de lá lembraram os que sempre lá estiveram, na luta contra o encerramento do SAP de Santa Comba Dão, contra a privatização da água, bem como na vitoriosa luta contra o encerramento do Tribunal.
A septuagenária não desarma. «Olhe que nós aqui já nem temos sequer um pinheiro para o Natal». A noite já vai longa e escura. Tão escura como estão hoje os pinheiros que outrora deram verde e vida àqueles lugares.
Voltamos com a certeza de que o que faz falta àquele povo é um pinheiro de Natal onde se possa pôr uma outra política, patriótica e de esquerda. Mas esse tem de ser cortado com a força de todos.

João Frazão

quinta-feira, novembro 23, 2017


anexo 3 a Reflexões Lentas - a talhe de foice... o pil(h)ar e a Europa Social

Também não deixam de ser curiosos e significativos estes encontros, nesta 5ª feira, com 3 textos que vieram mesmo a calhar. Este "a talhe de foice" da Anabela Fino, a propósito da "coincidência" do centenário do 7 de Novembro com mais uma falaciosa e pomposa iniciativa relativa à dita Europa Social veio lembrar-nos outras com semelhante pompa e circunstância e também a frase batida (e bem batida...) da coesão económica e social. (... e o que rimos com excelente "achado" do "inefável senhor com nome de esquentador"... embora as pilhas é que durem, durem, durem!)

 - Edição Nº2295  -  23-11-2017
Poemário

Não deixa de ser curioso e particularmente significativo que justamente no ano em que se comemora o centenário da Revolução de Outubro os dirigentes da União Europeia tenham ido a Gotemburgo, na Suécia, para o que pomposamente designaram de «Cimeira Social sobre equidade no emprego e no crescimento».
O evento ocorreu 20 (vinte!) anos depois da primeira «cimeira social», que já em 1997 se chamou do Emprego e teve a singular particularidade de não ter nenhuma das suas conclusões aplicadas, a começar pelo compromisso de se realizar encontros sobre o assunto pelo menos uma vez por ano. Quer isto dizer que as boas intenções então anunciadas foram arrumadas no limbo, que é aquele lugar onde se lançam coisas de que não se faz caso, mal se apagaram os holofotes mediáticos que sempre alumiam estes actos, não porque não houvesse muito a fazer no que ao emprego e direitos sociais diz respeito, mas porque na verdade nenhum dos dirigentes da zona UE estava realmente preocupado com isso.
Duas décadas passadas, o inefável senhor com nome de esquentador, Juncker, que tal como o aparelho dura, dura, dura.... na política europeia, foi à Suécia dizer que desta vez é que era, que se lembrava bem da conversa fiada de 1997 (a expressão não é dele, mas exprime bem o sentido) e que esperava que o «que quer que seja acordado» agora pelos líderes europeus «não seja visto pelas belas mentes, que são numerosas, como um poema», ou seja, como mais conversa fiada. «Não é um poema, é um programa: um programa de princípio agora, um programa de acção a seguir», garantiu o presidente da Comissão Europeia.
agora é que é aprovado em Gotemburgo dá pelo nome de «Pilar Europeu dos Direitos Sociais», que por acaso já tinha sido anunciado por Juncker no seu discurso sobre o Estado da União, em 2015, já lá vão dois anos, quando então apresentou a Europa Social como uma prioridade.
A declaração integra 20 princípios e direitos que deverão vigorar na UE, como o direito ao ensino e à orientação profissional, à igualdade de oportunidades e de tratamento entre homens e mulheres, ou a garantia de «salários mínimos apropriados, a um nível que permita satisfazer as necessidades do trabalhador e da sua família».
Tratando-se, como é por demais evidente, de direitos elementares que era suposto a UE respeitar e promover desde a sua génese, a questão que se coloca é a de saber se finalmente se reconhece a necessidade de dar o passo decisivo de, parafraseando Juncker, dar força de lei ao poema. Não reconhece. Os 20 pontos do pilar dos direitos sociais não são vinculativos, não têm força de lei, ao contrário de tantos outros emanados de Bruxelas, pelo que não será preciso consultar os astros para perceber que não passam de poemário.
Para quem já se tenha esquecido, cabe lembrar que estes e outros direitos sociais ainda por cumprir na muito moderna e democrática UE foram aprovados e levados à prática há 100 anos na Rússia pela Revolução de Outubro. A tal que hoje se procura demonizar e bem se percebe porquê.


Anabela Fino 

anexo 2 a reflexões lentas - russos os maus das fitas todas

O recorte do Expresso que scaneei, sendo recensão bibliográfica com a assinatura de Luís M. Faria, antes de muitas outras "pérolas" tanto ou mais aleivosas começa com esta: «Conforme este livro recorda a certa altura, Marx não confiava nos russos. "Logo que um russo consegue infiltrar-se aqui, abrem-se as portas do inferno", disse o autor de "O Capital"(...)»! Ah!... disse? Onde? Não importa...o que importa é que os russos são os maus das fitas todas, como o provam esses tais de Estaline, de Lenine e agora (parece) de Putin, safando-se, como excepções uns Gorbatchov, Ieltsin e, noutras "artes" - no cinema, na literatura, na música -, uma quantidade enorme deles, desde que não se matam em políticas
E então não é que, já publicado o "post" me encontro com o Correia da  Fonseca a tratar, muito bem como sempre - a meu juízo - do "tema", e a titular Os maus... que são os russos, claro.
Transcreve-se, com gosto mas... leia o avante!

 - Edição Nº2295  -  23-11-2017
Os maus
Por reprodução de informações provenientes dos Estados Unidos, de onde aliás parece vir quase tudo quanto entra nas nossas cabecinhas, ou talvez também por outras vias, já sabíamos que os russos haviam interferido nas eleições presidenciais norte-americanas e desse modo impedido que Hillary, essa santa, se instalasse na Casa Branca e daí prosseguisse a política que levou a grande nação americana ao Afeganistão e ao Iraque (com o favorável voto Clinton) e decerto a levaria aonde mais lhe conviesse e lhe apetecesse. Em consequência, a eleição foi ganha por Trump, essa espécie de Tio Patinhas em versão mal-educada, que do alto da pirâmide constituída por negócios e cofres desatou a fazer coisas impróprias e indesejáveis, a começar por declarações em que confessou o desejo de se entender com a Rússia de Putin e a continuar com a recente visita à China do presidente Xi. Será adequado registar aqui que nas últimas semanas nem na televisão nem fora dela houve notícias de novos lançamentos de mísseis experimentais por parte da Coreia do Norte, o que mentes suspeitosas podem atribuir a eventuais conselhos chineses coincidentes com a visita de Trump. Bem se pode dizer que não há memória de que a eleição de um presidente norte-americano detestável e na verdade detestado tenha, durante o primeiro ano do seu mandato, resultado em factos tão distantes do retorno ou da intensificação da Guerra Fria. Isto não faz de Trump um santinho a merecer altar, longe disso, mas os comunistas são gente realista, pelo que é natural que olhem os factos com olhos de ver sem prejuízo de sempre lembrarem o que há muito sabem: que os Estados Unidos são o país líder do supercapitalismo devorador de tudo o que é justo, desejável e livre.

Uma nova maldade
Voltemos, porém, ao fio inicial desta pobre prosa: segundo o que nos foi ensinado pela televisão e outros media, os russos intervieram surdamente na campanha eleitoral que conduziria Trump à Casa Branca. É plausível, estes russos são uns metediços e ainda não deram provas completamente convincentes de estarem todos, mas todos, curados do vírus do comunismo. Além de que lhes continua colada a reputação de serem maus: como diriam algumas das nossas avós, têm o diabo no corpo. Ora, eis que recentemente a televisão, e decerto não apenas ela, nos presenteou com mais uma informação importante: os russos também interferiram em Espanha, designadamente no caso da Catalunha e porventura não só! Reconheçamos: estava a sociedade espanhola posta em repouso, do governo PP gozando o doce fruito, quando os russos injectaram na alma catalã a estranha apetência da independência. Uma vez mais não se sabe como, por que vias, com que métodos, mas sabe-se uma coisa: que é preciso serem maus para fazerem uma coisa destas. Porque são maus e a cada passo essa maldade se confirma, justifica-se que a russofobia, o horror à Rússia e aos russos em geral (com óbvio destaque para Vladimir Putin) se espalhe pelo mundo afora mais velozmente do que as gripes de Inverno. Com a prestimosa serventia dos media, naturalmente. Pois é também para isso que existem.

Correia da Fonseca


anexo 1 a reflexões lentas - Canto de amor a Estalinegrado

Ontem à noite, já por dentro da madrugada, decidi-me a pôr “preto no branco” algumas reflexões a pedirem arrumação. Rascunhei um textinho – que iria para o diário se estivesse em dia e não em estaleiro –, e deixei para hoje o “postá-lo” ou não. Hoje de manhã li, corrigi, scaneei o que me pareceu útil juntar… e (a)postei! Fiquei (quase) tranquilo.
Ao terminar o almoço, folheei o avante! que a Z. me trouxera “lá de baixo”, e detive-me em três textos (um de cada vez!, e por ordem diferente da que vai sair…). Foi uma excelente sobremesa, que me deixou reconfortado e me precipitou para este teclado com a imperiosa necessidade de os dar a conhecer. 1, 2, 3… leiam o avante!


Entre os múltiplos e extraordinários feitos alcançados pela Revolução de Outubro e pelo subsequente processo de edificação do socialismo, a vitória sobre o nazi-fascismo na Segunda Guerra Mundial é sem dúvida um dos mais notáveis. Fosse apenas pelo papel decisivo desempenhado pela União Soviética no esmagamento do nazi-fascismo e na criação de uma ordem mundial mais democrática e progressista e esta primeira experiência vitoriosa de construção do socialismo já mereceria um lugar cimeiro entre as grandes epopeias libertadoras da história da Humanidade.
Por mais que historiadores e estúdios de Hollywood o tentem ocultar, foi sobretudo graças à União Soviética – ao seu sistema socialista, ao seu Partido Comunista, ao seu Exército Vermelho e ao seu corajoso e abnegado povo – que o nazi-fascismo não conseguiu erguer o seu ansiado império de mil anos baseado na mais brutal exploração, no trabalho escravo e na supremacia da raça dos senhores. Este sinistro objectivo dos sectores mais agressivos e chauvinistas do grande capital alemão ruiu, foi derrotado, na Frente Oriental, nas estepes e ruas das cidades soviéticas.
Até à invasão do país dos sovietes, em Junho de 1941, o expansionismo hitleriano processara-se quase sem oposição, perante a rendição e a traição generalizadas das ditas «democracias ocidentais», empenhadas em empurrar contra a União Soviética a brutalidade nazi-fascista. Foi a Leste que a Alemanha nazi perdeu a guerra: aí sofreu as primeiras derrotas, perdeu 80 por cento dos seus homens, viu serem capturadas e derrotadas 607 das suas divisões (mais do triplo das que perdeu nas frentes do Norte de África, Itália e Europa Ocidental, juntas); aí se travaram as batalhas decisivas que mudaram definitivamente o curso da guerra. Moscovo, Leninegrado e Kursk e Stalinegrado abriram as portas à vitória final, consumada em Berlim a 9 de Maio de 1945. O heroísmo dos comunistas e do povo soviéticos teve um alto preço: mais de 20 milhões de mortos – cerca de 14 mil por dia, entre Junho de 1941 e a rendição alemã. 
Cidade Heróica
Leninegrado, Stalinegrado, Odessa, Sebastopol, Moscovo, Kiev, Novorossiysk, Kerch, Minsk, Tula, Murmansk e Smolensk são as 12 cidades soviéticas galardoadas com o título deCidade Heróica, pelo heroísmo demonstrado pelas respectivas populações no decurso dos anos de chumbo da Grande Guerra Patriótica, como na URSS ficou conhecida a Segunda Guerra Mundial. A estas acresce a Fortaleza de Brest, cujos defensores enfrentaram a primeira vaga da invasão nazi-fascista e se bateram até ao último sopro de vida pela liberdade e independência da sua pátria.
De entre estes heróis colectivos sobressai um nome, sinónimo de liberdade: Stalinegrado. O Marechal Jukov afirmou em tempos que a queda de Stalinegrado implicaria o isolamento do Sul do país e a perda do Volga, um dos mais importantes canais de abastecimento das tropas e das cidades soviéticas, pelo que mais ainda do que outras essa cidade não podia ser perdida. Outro Marechal, Vassiliévski, recordava que o lema resistir é vencer «penetrou na consciência dos defensores da cidade»; cada um deles «sabia com clareza que era precisamente aqui, nas margens do Volga, que se decidia a sorte não só da Guerra Patriótica mas de toda a Segunda Guerra Mundial». Mais ainda, foi o próprio próprio destino da Humanidade que esteve em jogo entre Julho de 1942 e Fevereiro de 1943.
Durante sete duros e heróicos meses, combateu-se rua a rua e casa a casa em Stalinegrado, que acabaria por ser a mais sangrenta das batalhas de toda a guerra: nela, os alemães perderam um milhão e meio de homens (um quarto das forças dirigidas contra a União Soviética), 3500 tanques e canhões e 3000 aviões de combate e de transporte. O próprio Von Paulus, comandante das tropas invasoras, reconhecia a combatividade dos defensores da cidade: «logo que obtemos vantagem em qualquer sector, os russos desferem-nos de imediato um golpe de resposta, lançando-nos com frequência para a linha de partida.»
A anteceder a rendição alemã em Stalinegrado, consumada no início de Fevereiro de 1943, está a contra-ofensiva soviética de Novembro do ano anterior, faz agora 75 anos. Nos dias 19 e 20, tropas de três frentes soviéticas, apoiadas pelos poderosos blindados T-34, desferiram potentes ataques contra as forças alemãs e romenas, impondo-lhes um cerco que se revelaria decisivo. A iniciativa passava definitivamente para mãos soviéticas, não só na cidade do Volga como em toda a Frente Oriental.
À vitória em Stalinegrado seguiram-se muitas outras: nos primeiros meses de 1944, o território da URSS encontrava-se totalmente libertado e até Maio de 1945 o Exército Vermelho, lado a lado com as resistências nacionais, libertou 113 milhões de europeus do jugo nazi-fascista e forçou a rendição final em Berlim, seguindo depois para o Extremo Oriente, para ajudar a desferir o golpe final no imperialismo japonês.
Assim se compreende a declaração de amor a Stalinegrado por parte do poeta chileno Pablo Neruda.


Gustavo Carneiro

Reflexões lentas - "o outro" e Lenine

A tarefa (assim tomei as iniciativas e/ou convites, com gosto e proveito) de falar sobre a revolução de Outubro na passagem do seu centenário  obrigou-me (repito: com gosto e proveito!) a reflectir, a ler e reler coisas para a necessária actualização da informação sobre factos e período, factos e período que são fruto e rumos da História da Humanidade. E a fazê-lo, obviamente, no momento vivo/vivido da luta de classes, em que a luta ideológica e, nesta, o papel da comunicação, são fulcrais.
As referências inevitáveis ao 7 de Novembro e a Lenine foram esclarecedoras. Pela positiva, quando se vê ou pressente a procura objectividade para as análises, independentemente das posições político-ideológicas de quem as faz; pela negativa, quando a "informação" se revela abjecta por apenas procurar cumprir o papel sabujo de mentir, caluniar, insultar. Enquanto no pouco tempo livre (ou por mim liberto...) saboreava páginas de  ensinamentos de Barata-Moura Sobre Lenine e a Filosofia, tropecei em/cito dois exemplos retirados da "nossa" informação...
Foi num jornal dito de referência que encontrei a raiz para uma reflexão (lenta, demorada), a partir de uma observação sobre a posição de Putin sobre e em Volgogrado, recusando (noutros termos, claro...) a demonização de Estaline e o seu apagamento da História versus a excessiva bondade no tratamento do papel de Lenine (nalguns lados, objecto de culto). O ataque sem tréguas (nem quaisquer peias de vergonha ou simples bom senso) ao comunismo passa por etapas e tem sempre o carimbo da fulanização, como seria inevitável num lado das abordagens que tudo analisa numa perspectiva do indivíduo, do homem uno e só a fazer a História. Pode quase dizer-se que Estaline serve, e serviu tanto que já está arquivado e só é referido como anátema e repulsa ou, surpresa..., porque não foi esquecido na cidade que teve o seu nome como referência e memória da resistência mais heróica de um povo ao avanço nazi e assim lembrado pelos habitantes da cidade agora crismada, pode muito fazer-se para apagar que o Exército Vermelho - se acaso existiu... - foi o que primeiro chegou a Berlim, e etc. E parece ser Lenine, se poupado pela "informação de classe", a modos de contraponto, o senhor que se segue na demonização fulanizada, arrumado que estará o "outro". É certo que, por exemplo com o aproveitamento do misterioso (?) assassinato de Trotsky, o currículo do tal de Lenine tem estado a acumular provas de malfeitorias que algumas franjas vão fornecendo, e têm ficado de reserva para uso oportuno.
Pois terei encontrado um caso desse uso oportuno numa coluna de referência bibliográfica do express(iv)o semanário, de onde retiro a seguinte frase, no meio de muitas outras aleivosias de semelhante jaez:
"... tal como noutra fase (Lenine) quis que os camponeses passassem fome, para acelerar a revolução..."






E não perco mais tempo, que ele é cada vez menos para tanto ainda a/por fazer... 

domingo, novembro 19, 2017

Para este domingo

Cooperação?... EM QUÊ?

NOTA DO GABINETE DE IMPRENSA DO PCP

Sobre a denominada 

Cooperação Estruturada Permanente

1 - O Governo do PS prepara-se para decidir da associação de Portugal à denominada «Cooperação Estruturada Permanente» (CEP), decisão para a qual conta com o apoio do Presidente da República e Comandante Supremo das Forças Armadas, e que se insere no processo de aprofundamento da militarização da União Europeia e da sua afirmação como pilar europeu da NATO, tendente à criação de um «exército comum» da União Europeia, num quadro de complementaridade com esse bloco político-militar.
2 - O PCP manifesta a sua mais viva discordância com tal intenção e com o caminho de aprofundamento da militarização da União Europeia e de ainda maior concentração de poder supranacional em matérias que estão no cerne da soberania e independência nacionais.
3 - O PCP critica igualmente o posicionamento hipócrita do PSD e do CDS que, tendo apoiado e ratificado o Tratado da União Europeia e defendendo a CEP, pretendem, simultaneamente, como o tenta fazer o PS, separar a associação de Portugal à CEP do objectivo há muito explicitado pelos principais responsáveis do processo de integração capitalista, da criação de «exército europeu» e da centralização dos processos de decisão e comando, e que tem a impulsioná-lo algumas das principais potências da UE, nomeadamente a Alemanha, a França, a Itália e a Espanha.
4 - Tal passo, não isento de contradições que, por certo, se manifestarão no seu desenvolvimento, tenderão a acentuar, a perversão da missão das Forças Armadas portuguesas, e funções constitucionalmente definidas, comprometendo a prazo capacidades nacionais, diminuindo desta forma a capacidade de decisão soberana e a independência nacional.

quinta-feira, novembro 16, 2017

Nações unidas nas Nações Unidas contra o bloqueio a Cuba...


... menos  duas (Estados Unidos e Israel!!!!). E o bloqueio continua.
Tornou-se quase uma cerimónia ritual. A Assembleia Geral da Nações Unidas vota, todos os anos, uma resolução que condena o bloqueio a Cuba, por esmagadora maioria com votos contra dos Estados Unidos e mais 2 ou três países, que este ano se reduziram a Israel.
E é como se não tivesse importância. Como se não fosse nada!



Par(a)lamento "Europeu"


quarta-feira, novembro 15, 2017

terça-feira, novembro 14, 2017

Políticas de urbanização e discriminação


 de:
As políticas urbanas enfrentam
as desigualdades 
entre homens e mulheres


As políticas de urbanização beneficiam maioritariamente os homens. Associativos e universitários militam por uma melhor consideração das mulheres no espaço público.

As políticas de urbanização sustentam as desigualdades entre mulheres e homens. Uma lógica que é possível mudar. Laura Perez Castano, conselheira municipal em Barcelona e presidente de  bate-se por uma abordagem género nas políticas da cidade. Ela intervirá na conferência internacional e inter-disciplinar dedicada à coprodução de políticas de seguran-ça urbana organizada pelo Forum Europeu pela segurança urbana (Efus), que se realizará de 15 a 17 de Novembro.

segunda-feira, novembro 13, 2017

Reflexões lentas... e (que se pretendem) muito sérias

De há uns tempos para cá parece que muita gente perdeu a noção do equilíbrio. No que faz, no que diz, como se reage ao que é feito ou dito.
Parece que se quer imitar (ou provocar) a natureza com os seus incêndios ("naturais"?), as suas secas (nunca mais chove que se veja...), as cheias (que se esperam a  seguir). E muito sossegada anda ela cá por estes lados, que por outras paragens as coisas têm estado mais descontroladas, com ventos em furacões e sismos em escalas que Richter ou Mercalli medem em números felizmente raros!
Então no que respeita à política, anda o mundo desaustinado, com a agitação apalhaçada de Trump, os ensaios funambulescos de Kim, o pouco referido mas muito relevante congresso do PC da China, a des-União Europeia a procurar desatar pares de botas como Brexit e Catalunha, o "sentimento russo" de Putin, as "chilesices" para com a Venezuela a alternarem com a aparente acalmia na Síria, a África em confusão por vários sítios, sempre nas malhas de uma herança colonial que veio impedir naturais evoluções e acirrar rivalidades étnicas, e mais tantos lugares de que a comunicação social "oficial" não trata (ou o faz com intermitências nada neutras) mas que não estarão em aquietado sossego.
E nós por cá? Todos bem? Qual quê! Frequentes desatinos num jogo desembestado de assacar irresponsavelmente responsabilidades aos "outros" quando tão necessário seria responsavelmente apurar responsabilidades, e agir conforme e consoante estas. Mas não. Muito fogo fátuo, declarações a redundar (que algum dizia, ignorantemente, "a arredondar"...) em pouca coisa, por vezes a propósito de nada, ou de quase nada, ou a despropósito. Ou enorme espalhafato para levantar ondas de poeira que escondam o que "outros" querem revelar com semelhante barulho para serem ouvidos.

Duas questões me trazem à reflexão:
1. A força de trabalho não qualificada, de baixa remuneração e os números do desemprego.
Depois de terem sido de susto, os recentes números do desemprego deveriam animar-nos. Mas a baixa dessa temperatura no "termómetro da economia" não tranquiliza quanto ao estado de saúde porque o emprego é feito em postos de trabalho de baixa qualificação, em situações de precariedade (turismo, sazonais), sem direitos, na raia do salário mínimo. E, sendo assim, há quem se queixe de não encontrar trabalhadores disponíveis para empregos criados... por culpa da concorrência da protecção social, dos subsídios de desemprego, do que permite aos/às trabalhadores/as rendimento monetário próximo do nível salarial oferecido e menor precariedade... e "tempo livre" para a vidinha. Que contra-senso!

2. Ainda os resultados das autárquicas. O Barreiro.
Reportando a umas anteriores reflexões, em que se referia o sentimento de perda e preocupação relativamente a resultados eleitorais e se citava expressamente Almada, Beja, Peniche (talvez para "libertação" do peso específico dos resultados de Ourém...), deve juntar-se o significado da perda da câmara do Barreiro.
Desde tempos de estudante e de economista em começo de profissão, o Barreiro é simbólico. A CUF e a Siderurgia (com os estaleiros navais) simbolizavam a indústria "pesada", o cerne do operariado, de uma classe. Tanto assim que nunca se esquecem as referências aos receios, dúvidas e hesitações de Salazar, nos anos 50, quanto à localização da siderurgia (e do seu operariado) em Coina, por ser tão perto da CUF (e do seu operariado). 
Mas a vida é feita de mudança(s). Também nas classes. A burguesia não é igual ao que era no século xix, o proletariado não tem o mesmo perfil que tinha nessa altura (e nos meados do século xx). Mas continuam a existir como classes. E movem-se. E lutam entre si, mesmo quando os protagonistas dessa luta não o sabem ou o querem (ou fazem por) esquecer.
O município do Barreiro que teve o resultado das eleições de 1 de Outubro não é o mesmo Barreiro de há décadas, é aquele em que a CDU perdeu a maioria absoluta, tem 4 vereadores, o mesmo número que o mais votado PS, sobrando 1 para o PSD. Também no Barreiro, a luta continua! Igual, mas diferente.  

7 de Novembro - final da exposição na USO

Ao longo de uma semana, editaram-se aqui - entre outros - "posts" relativos ao Centenário da Revolução de Outubro, ilustrados com reproduções de caixas de fósforos comemorativas do 60º aniversário (1977).
Voltar-se-á ao tema, em razão da participação no assinalar da data na Universidade Popular do Porto mas, por agora, encerra-se a série, com o fecho da "conferência", o agradecimento a JM Poças das Neves pelo comentário para que o convidáramos, e que foi excelente, para as presenças que animaram a Universidade Sénior na oportunidade da abordagem.

Reproduzem-se os tópicos finais e, antes, repetem-se três das caixinhas de fósforos que ilustraram a série, relevando as palavras chave que nos remetem a 7 de Novembro de 1917:

PAZ, PÃO, TERRA   






"(...)
11.2. Duas perguntas
11.2.1. O que querem os seres humanos?

Vou terminar. Com duas perguntas. Que ficam como mais dois novos tópicos para reflexão. Se não de mais ninguém, minha.
·      Primeira: o que querem as mulheres e os homens?
Diria que, com base em relações sociais que não sejam de exploração, querem ausência de discriminação, a começar pela que existe entre homem e mulher. Citando Marx, numa carta a Kugelman que, há 140 anos, escrevia com talvez inesperado humor: O progresso social mede-se pela posição social do belo sexo (incluindo as feias…)”.

Diria ainda que os homens e as mulheres querem tempo livre, seu!, libertos das tarefas sociais adequadas e exigência para que as necessidades da comunidade  nacional e internacional sejam satisfeitas. Por isso, as questões do tempo de trabalho social, dividido em emprego da força de trabalho (manual e intelectual) e em tempo livre, quer no capitalismo (em que o tempo que poderia ser livre é desemprego, com precária ou inexistente protecção social… conquista que tanto se deve ao século xx ter sido o século soviético), quer em socialismo/comunismo (quando e se) são fulcrais.

11.2.2. Que nome terá o séc. xxi?

·      Segunda (e última!,) pergunta: se o século passado, o século xx, queira ou não quem assim não entenda, foi chamado o século soviético, que nome terá o século xxi?
Pergunta sem resposta pois ela vai depender, infinitesimamente, de cada um de nós."


seguiu comentário 
e debate

domingo, novembro 12, 2017

7 de Novembro - "conferência" na USO

8ª "dose"
de caixas de fósforos comemorativas -1977


Quase no fim da exposição, a 08.11. na Universidade Sénior
de Ourém, li:

"(...)
11.1. O séc.xx, o século soviético

Estes tópicos – e só isso o são – não pretendem aumentar mas também não querem (nem poderiam) diminuir a justeza de chamar, ao século xx, século soviético.
Nos 70 anos da União Soviética, com 10 anos de guerra, com mais de meio século de cerco, de agressões, de guerra-fria, o mundo avançou para um futuro mais humano.
Por um caminho duríssimo, minado, com o sacrifício heróico de um povo que da fome se alcandorou à conquista do espaço. E à esperança de um mundo sem exploradores nem explorados.
O que foi conquistado pelo povo soviético extravasou, não fotocopiado tal-e-qual se pode ler nos clássicos e suas traduções, extravasou para o resto do mundo e foi exemplo e estímulo para outras batalhas, muitas delas ganhas, algumas de forma irreversível. Mesmo se e quando estão em perigo e parecem não o serem.

Porque é irreversível o facto de que, depois de 1917, e com a revolução soviética, o mundo se terá transformado e não voltará a situações que, sem ter havido o 7 de Novembro, não se considerariam desumanas, por mais desumanas que fossem.
(...)"

e que não podem voltar!

para este domingo - ainda - E SEMPRE - a tempo

de vez em quando
e com menos tempo entre as vezes

sábado, novembro 11, 2017

7 de Novembro - textos e pretextos

7ª "dose"
de caixinhas de fósforos comemorativas





É difícil viver com tanto ódio vesgo. Diria que é impossível conviver com os fautores desse ódio, com a total falta de escrúpulos intelectuais de quem teria, até, responsabilidades éticas pelos apelidos que carregam, lhes franqueia portas e emprestaria réstias de credibilidade.
A denúncia de José Manuel Jara deve ser divulgada para se contrapor à sem-vergonha do texto do sr. Sousa Tavares.

O Centenário da Revolução Socialista 
e as marteladas da cabecinha de Miguel Sousa Tavares

Miguel Sousa Tavares é o flibusteiro de serviço ao Expresso, monopolizando quase uma página inteira do semanário, excepto o fundo onde sobressai muito bem um anúncio do Rolex. Vem este comentário a propósito dos seus “Cem anos de mistificação”, retrato de um século, á la minuta, em que faz tiro ao alvo com a sua metralhadora imaginária contra a revolução russa. Este mestre da batalha literal arruma em duas penadas grandes intelectuais europeus do século XX, os Sartre, Aragon, Moravia e Picasso, condenados por cumplicidade com a revolução e o seu ideário socialista e comunista. Por acaso, esqueceu-se dos nossos, Fernando Lopes Graça, Bento de Jesus Caraça, Óscar Lopes, e tantos outros. O clarividente causídico derruba todas essas cabeças postumamente, sem piedade nenhuma.
Num aceso de raiva contra o centenário da Revolução que pretende  condenar irrevogavelmente às penas do inferno, escreve à vontade com o denodo que lhe faculta a sua rápida alfabetização em História. A descontracção típica do elitista autoconvencido tinha-o levado num crónica anterior a atribuir a Engels uma famosa frase de Proudhon, que no seu breviário de ideias feitas seria o resumo do marxismo: “La proprieté c’est le vol”. A ignorância atrevida não é castigada pois o monólogo de sua senhoria não tem resposta nas páginas do folhetim. Agora, julga fulminar a Revolução de Outubro na sua crónica de 4 Novembro. O fascismo, o nazismo, as duas guerras mundiais, o genocídio de povos, coisas menores, en passant, entrecho do verdadeiro enredo dos seus ódios contra a URSS.
A  maior epopeia militar da história da humanidade, na qual a barbárie da Nova Ordem Europeia nazi-fascista foi derrotada pelo povo soviético e pelo exército vermelho é miniaturizada por MST assim: “aquilo que os comunistas chamaram a ‘Grande Guerra Patriótica’". E com o seu proverbial direito de mentir reduz a seis milhões os 24 milhões de vítimas soviéticas da agressão nazi.  Faria bem, para a sua reeducação em ler a correspondência entre Churchill e Estaline. Para este grande senhor,  os crimes nazis contra a Humanidade são tretas. Que interessa o Tribunal de Nuremberga? Deve ser o que elabora o subconsciente de Tavares, para absolver o fascismo, irmão do nazismo, que a sua Mãe tão bem retratou no poema a Catarina Eufémia.
Na sua peleja ideológica contra o comunismo passado e presente, além de absolver o fascismo por amnésia histórica, amplia ao máximo as violências e perseguições ocorridas na guerra civil russa e noutros processos de repressão entre as duas guerras mundiais como se tal fosse a essência do marxismo e a da ideologia comunista. Para o excelente pensador MST, tão melindrado com a violência do lado bolchevique, o que diria do cristianismo se apenas referisse as guerras religiosas e a inquisição para o definir?  MST gostaria com certeza que o “imbecil “(sic) Nicolau II, ou o czar sucessor indigitado, Miguel, vencesse um bolchevismo inerme e castrado. Lenine no cadafalso pelos russos brancos, isso é que era… Depois, Tavares não vê o grande salto no desenvolvimento que a Revolução russa permitiu num país atrasado. Ignora as portas que a revolução abriu para a emancipação dos povos submetidos ao colonialismo e ao imperialismo. Está esquecido certamente de que a URSS foi o único país que apoiou o governo legítimo da República Espanhola, enquanto os “aliados democratas” lavavam as mãos como Pilatos. Não, como fazia a Emissora Nacional no tempo do “ Estado Novo” da ditadura fascista, “Rádio Moscovo não fala verdade”. Quem fala verdade é o Miguel Sousa Tavares.
Subjaz no discurso deste historiador improvisado a apologia mais descarada do capitalismo, o partido pelas classes “superiores”, de uma sociedade hierárquica com base na propriedade privada, na alta finança familiar, não tanto nos títulos decadentes da nobreza revezada na Revolução francesa, em que também rolaram muitas cabeças, incluindo as coroadas. Será que este plumitivo justiceiro também condena a revolução francesa pela violência que usou e que a derrotou depois? O retrato do comunismo em cores negras serve bem a propaganda do capital. Lá vêm os “kmeres vermelhos” para arrasar, esquecendo-se Sousa Tavares que quem destroçou essa ditadura de terror no Camboja foi o exército comunista da República Democrática do Vietname, vencedor do imperialismo francês e americano na luta de libertação nacional.  O perigo ainda tem de ser afastado, cem anos não chegaram. A queda da URSS não é o fim da História, nem o fim do comunismo, nem do socialismo. Toca a martelar e a ceifar as ideias do inimigo, do perigo que por aí anda, das esquerdas da esquerda.
A mais ridícula desfaçatez do emplumado Miguel Sousa Tavares atinge o paroxismo quando chama “cobarde” a Lenine. O pigmeu, perito em parlapatice, não tem alcance para avaliar o grande líder teórico e prático da Revolução Socialista vitoriosa. Que lhe resta? Injuriar! Hoje ainda, passados 100 anos sobre o 7 de Novembro de 1917, este burguês elitista e presumido representa o seu papel de classe, cuspindo na História e em quem a faz.
No fim, para fazer o papel de moderador, MST quer fazer as pazes com a Rússia. E passa a mão pelas costas de Putin, que o Ocidente nada clarividente toma erradamente por inimigo. Assim julga MST, mestre em ciências políticas. Todo satisfeito com o seu protegido, ignora que na Rússia, na Praça Vermelha, continua a poder visitar o Mausoléu do seu inimigo Lenine. E, certamente, desconhece ´também, como mentor da reabilitação de Putin, que ele mesmo considera que Volgogrado deveria voltar a ter o nome de Estalinegrado, cidade com o nome do seu arqui-inimigo.

José Manuel Jara
(Pode difundir-se livremente) 

sexta-feira, novembro 10, 2017

Reflexão lenta... e geringonçada.

GERINGONÇADA

Alguém de inventiva fértil e verbo fácil foi buscar, ao seu prolixo bric-à-brac, o vocábulo geringonça. Dele se serviu, achando-se graça, para apostrofar a solução encontrada no contexto parlamentar e nas condições criadas pela intervenção de Jerónimo de Sousa, no caudal das primeiras reacções aos resultados eleitorais das legislativas de Outubro de 2015.
Esse alguém (que os negócios já lá têm… como sempre tiveram!), que junta à criatividade léxica intenções das que forram o inferno, quis ironizar – ou melhor: ridicularizar – a fórmula encontrada no naipe, também simplificado ou simplista, de extrema-esquerda, esquerda, centro esquerda, centro direita, direita com uma pequena mancha verde no lado esquerdo e uma outra ainda mais pequena de cor incerta colocada entre os centros[1] em que se encontrava a Assembleia que é da República e eleita tinha sido. Com rangeres de dentes e manigâncias infrutíferas de escavacado Presidente da República, então de saída de palco pela porta da direita mais baixa.
Usando esta etiquetagem (com pinças, isto é, com aspas), “geringonça” teria sido uma imagem da fórmula negociada, entre-partes, da maioria de deputados que estava do lado esquerdo da direita empoleirada. Seria – e foi – a maneira provisória e desequilibrada de apoiar um executivo (o governo e sua “governança”, que é o que conta para esse alguém e para os de sua estirpe), previsivelmente condenada a depender de uma caranquejola[2] ou engenhoca de mau funcionamento e triste fim.
O facto é que, arrostando ironias e ridicularizações, predições e maldições, contra ventos e marés, incêndios e tragédias, incomodando seriamente mesmo quem hipocritamente “faz que sim mas que também…”, a “coisa” tem andado. Bem? Depende de quem (e do lado que) observa e avalia. O facto é que, com o tempo foi virando em aceitável – e, depois, até em simpático – o que tinha, no criador, intenção pejorativa.

Ao que é que isto vem? Pois vem ao facto de, por ter resistido, a tal de geringonça (dispensa as aspas…), começou a ser, também, um espectro que assusta quem, no atapetado e acolchoado dos gabinetes, quer aproveitar os desmandos do mundo, passou a alvo a abater pelo grupo dos padrinhos do anátema e seus divulgadores. Não pelo que se diz (errada mas não ingenuamente) ser – uma “aliança das esquerdas” – mas por quem a compõe, por incluir, entre as peças desconjuntadas, representantes de corrente de pensamento e acção que vem, desde 1848 (e antes de tal ter sido manifestado nessa data…), a ser espectro assustador.
E, além do apodo como intuitos escarnecedores, é notório, embora tão invisível quanto possível, o assédio e enleio aos outros parceiros ou parceiras para os separar de tal companhia e mai-las suas nefastas influências. Particularmente nas acções (orçamentos e tal) que ela possa condicionar e nas ideias que possa inocular nos ditos parceiros e (bem pior ainda…) nas massas a que possa levar conhecimento, ideologia, consciência. De classe.
Porque é ai que está a fronteira a não pisar. A que separa as classes, o salário do lucro, a moeda-meio de troca material da fidúcia financeira que deixou de merecer qualquer confiança porque imaterial e viajante por areias movediças e de off-shores.
Começou logo por se apregoar surpresa e novidade. Como se nunca os comunistas (e aparentados) e os sociais-democratas que se crêem e querem de esquerda (alguns a prazo e períodos curtos) tivessem feito acordos ou participado lado-a-lado em coisas parecidas com a apelidada geringonça, como “inimigos íntimos” que seriam, ou assim os disseram sempre inventivos. O que nem é preciso ir para lá do rectângulo ou andar muito atrás no tempo para desmentir. E se ilustra com as “uniões de esquerda” em França, ou os casos caseiros do Serviço Nacional de Saúde (aprovado pelos votos PS-PCP-UDP em 1979 contra o lado direito do hemiciclo), ou os anos lisboetas de acordo a dois a que o PCP trouxe o PS.
É certo que as memórias são para não se perder, sobretudo pelo PCP (ou PCF) sempre em risco de descartado depois de servir de trampolim para o poleiro onde os sociais-democratas exercem a sua vocação de se afirmarem de esquerda e fazerem política de (ou com a) direita. Pelo não pode haver distracções com tais parceiros e há que manter a memória sempre fresca. Exigindo respeito pelas identidades, e recusando o papel de tapetes em que se limpem os chanatos, única forma de continuarem de vermelho vivo as cores de todos os adereços.

E, de novo, vem isto a propósito de quê? Pois vem a propósito das recentes autárquicas. Usadas pela “informação ao serviço” para, aproveitando os resultados, se procurar fazer leituras que contribuam para ou se degeringonce ou recriar geringonças a dois, ou a três ou a quantos (e quais) os precisos… mas dispensando sempre o “mau da fita”.
Muito se tem tentado, através de analogias enviesadas, tomar o que foi usado para a Assembleia da República – e que só para esta poderia servir – como modelo ou bitola e, assim, mostrar que não funciona, ou que funcionaria mas sem a peça perturbadora sob a forma de CDU/PCP-PEV.
No Poder Local, nas autarquias, o executivo é a câmara, com um presidente e vereadores (ou a junta), e que fique claro que, se houvesse alguma possibilidade de analogia com o Poder Central, seria com o governo, com o 1º ministro e os seus ministros, e não com a AR. Ora no governo não entrou a geringonça, porque o PCP não quis – nem quer – vir a entrar. Embora haja quem não pense noutra coisa…
Se alguma outra analogia se pretendesse fazer, e que tivesse um mínimo de verosimilhança, seria entre a AR[3] e as assembleias deliberativas. Mas teria de se forçar muito e, para cada caso, isto é, para cada município, haveria que encontrar a fórmula geringonçada adequada.

É evidente, e seria estultícia escondê-lo, que esta é uma perspectiva. É a visão de quem tem da História a leitura da luta de classes. Visão que outros anatematizam (e contra a qual atiçam raios e coriscos), como é de sua classe, peremptórios na negação de classes e de luta entre elas, mas que praticam esta continuamente e, tantas vezes, com eficácia e desmesurada violência.
Pelo nosso lado, confessa-se alguma tristeza momentânea pelos resultados eleitorais das autárquicas. Não poderia ficar-se indiferente à perda de maiorias CDU em concelhos como Almada, Beja, Peniche – nossos verdadeiros símbolos – e mais quedas em tantos outros lugares, mas o que mais deve fazer pensar – e alertar! – são os porquês, as causas e o aproveitamento que está a ser feito para renovadas (e ridículas) certidões de óbito passadas ao PCP, para a promoção de acordos (diria conluios) a torto e a direito, ou seja, entre sociais-democracias e esquerdas-tortas e/ou as direitas de diferentes calibres, numa estratégia de classe de quem nega a luta de classes e, assim, procura atirar-nos fora de carroças geringonçadas e diminuir a nossa (da outra classe e suas organizações) influência na correlação de forças.
Cá estaremos!  
... e há mais!

  





[1] - Correspondendo essa etiquetagem a disposição dos partidos e grupos no espaço do anfiteatro parlamentar, usaria outra (minha!) semântica: esquerdalhos e esquerdinhas, esquerda consequente e com componente ambiental, social-democracia com reminiscências esquerdizantes, social-democracia anti-socialismos (salvo os democraticamente burgueses), democratas-cristãos com a alcunha de sociais democratas que hifenizam com obsoleto labéu popular-democrata, cristãos-democratas puros e, por último ou de resto, os precários ou indefinidos ou em trânsito.
[2] - Lembra-se o poema de Mário Sá Carneiro
[3] - para que a fórmula foi concebida e teve resultados positivos pelo que travou e pelo que permitiu recuperar – objectivamente, embora com “contabilidades”várias e outros contares – na situação dos trabalhadores e de todo o povo português.

Ponto e contraponto - a discriminação da mulher e o 7 de Novembro

6ª "dose"
caixas de fósforos no 60º aniversário



PONTO

 - Edição Nº2293  -  9-11-2017
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Mulheres trabalham dois meses gratuitamente

DESIGUALDADE As persistentes disparidades salariais entre homens e mulheres levam a que as mulheres trabalhem os últimos dois meses do ano gratuitamente.

Por ocasião do Dia Europeu pela Igualdade Salarial, a Comissão Europeia publicou, dia 31 de Outubro um relatório que descreve os diferentes focos de desigualdade que continuam a penalizar as mulheres nos 28 estados-membros.
Em média, a diferença no valor/hora entre homens e mulheres atinge os 16,3 por cento, a desfavor destas. Daqui resulta que as mulheres trabalham 59 dias por ano sem remuneração.
Segundo o relatório, o fosso salarial é mais reduzido na Itália e no Luxemburgo (ambos com 5,5%) e Roménia (5,8%); e mais elevado na Dinamarca (22%), na República Checa (22,5%) e na Estónia (26,9%). Em Portugal a diferença é 17,8 por cento, acima da média europeia, segundo os dados do documento, relativos a 2014.
Em relação a 2006, as diferenças salariais na UE apenas se reduziram 1,4 pontos percentuais, isto apesar de ser cada vez maior o número de mulheres com formação superior (33% contra 29% em 2006).
Porém, as discriminações não se verificam apenas a nível remuneratório. As mulheres tendem a trabalhar em sectores com baixos salários, têm menos promoções e estão sub-representadas nos cargos de gestão e direcção, estimando-se que apenas seis por cento dos cargos de direcção estejam ocupados por mulheres.
A Comissão Europeia constata ainda que «as mulheres tomam a seu cargo importantes tarefas não remuneradas, como o trabalho doméstico, o cuidado de crianças ou de familiares, em muito maior medida do que os homens».
De facto, os dados indicam que «os homens dedicam em média nove horas por semana na prestação de cuidados não remunerados e na realização de tarefas domésticas, enquanto as mulheres destinam 22 horas às referidas actividades, ou seja, perto de quatro horas diárias».
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CONTRAPONTO
de
UMA GRANDE INICIATIVA (texto de Lenine, de Junho de 1919!)
(…)
Todos devemos reconhecer que a cada passo, em toda a parte, e também nas nossas fileiras, se revelam vestígios da abordagem charlatanesca, intelectual burguesa, da questão da revolução. A nossa imprensa, por exemplo, não luta o suficiente contra estes restos putrefactos do apodrecido passado democrático-burguês e apoia pouco os rebentos simples, modestos, quotidianos, mas vivos, do verdadeiro comunismo.
Tomemos a situação da mulher. Nenhum partido democrático do mundo, em nenhuma das repúblicas burguesas mais avançadas, faz, neste aspecto, em dezenas de anos, nem a centésima parte daquilo que nós fizemos no primeiro ano do nosso poder. Não deixamos, no sentido literal da palavra, pedra sobre pedra das infames leis da desigualdade de direitos da mulher, das restrições ao divórcio, das ignóbeis formalidades que o rodeiam, sobre o não reconhecimento dos filhos naturais, a investigação da paternidade, etc. - leis de que subsistem em todos os países civilizados numerosos vestígios, para vergonha da burguesia e do capitalismo. Temos mil vezes razão para nos sentirmos orgulhosos do que fizemos neste domínio. Mas quanto mais limpamos o terreno da cangalhada de velhas leis e instituições burguesas, tanto mais claro se tornou para nós que isto foi apenas a limpeza do terreno para a construção, mas ainda não a própria construção.
A mulher continua a ser escrava do lar, apesar de todas as leis libertadoras, porque está oprimida, sufocada, embrutecida, humilhada pelos   pequenos trabalhos  domésticos, que a amarram à cozinha e aos filhos, que malbaratam a sua actividade num trabalho improdutivo, mesquinho, enervante, embrutecedor e opressivo. A verdadeira emancipação da mulher e o verdadeiro comunismo só começarão ali e onde começar a luta em massa (dirigida pelo proletariado, detentor do poder do Estado) contra esta pequena economia doméstica, ou, mais exactamente, quando começar a sua transformação em massa numa grande economia socialista.
Concedemos nós na prática suficiente atenção a esta questão, que, do ponto de vista teórico, é indiscutível para qualquer comunista? Certamente que não! Preocupamo-nos suficientemente com os rebentos do comunismo que já existem neste domínio? Uma vez mais, não e não! As cantinas públicas, as creches e os jardins infantis - eis exemplos destes rebentos, eis meios simples, correntes, sem pompa, grandiloquência nem solenidade, de facto capazes de emancipar a mulher, de facto capazes de minorar e suprimir a sua desigualdade em relação ao homem pelo seu papel na produção social e na vida social. Estes meios não são novos. Foram criados (como, em geral, todas as premissas materiais do socialismo) pelo grande capitalismo, mas neste eles têm sido, em primeiro lugar, uma raridade, e em segundo lugar - o que tem particular importância -, ou "eram empresas mercantis, com todos os piores aspectos da especulação, do lucro, do engano, da falsificação, ou então uma acrobacia da caridade burguesa", odiada e desprezada, com toda a razão, pelos melhores operários.
É indubitável que estas instituições são já muito mais numerosas no nosso país e começam a mudar de carácter. E indubitável que entre as operárias e camponesas há muito mais talentos organizativos do que os que nós conhecemos, pessoas que sabem organizar o trabalho prático, com a participação de um grande número de trabalhadores e de um número muito maior de consumidores, sem a abundância de frases, a futilidade, as brigas e a charlatanice sobre planos, sistemas, etc., de que "padece" a "intelectualidade", sempre demasiado presumida, ou os "comunistas precoces”. Mas não cuidamos como deveríamos desses rebentos do novo.

Vejamos a burguesia. Como sabe admiravelmente dar publicidade àquilo que lhe é necessário! Como exalta as empresas "modelo" (na opinião dos capitalistas) nos milhões de exemplares dos seus jornais, como sabe fazer, de instituições burguesas, "modelo" objecto de orgulho nacional! A nossa imprensa não se preocupa, ou quase não se preocupa, em descrever as melhores cantinas ou as melhores creches, em conseguir, com uma insistência diária, a transformação de algumas delas em instituições-modelo, em fazer propaganda delas, em descrever pormenorizadamente a economia de esforço humano, as vantagens para os consumidores, a poupança de produtos, a libertação da mulher da escravidão doméstica, a melhoria das condições sanitárias que se conseguem com um exemplar trabalho comunista e que se podem alcançar, que se podem alargar a toda a sociedade, a todos os trabalhadores.