segunda-feira, fevereiro 01, 2010

Shakespeare, a economia... e Marx - 4

Não vou insistir muito. Aliás, estas notas são mais para "uso interno", embora não resista a publicá-las. Sempre na esperança de que tenham alguma utilidade...
Como escrevi nesta pequena série de reflexões, a lembrar episódios de há mais de 40 anos (tinha eu, veja-se lá!, pouco mais de 30 anos), Marx serve-se de Shakespeare, e cita-o com a mesma intenção que me levou a comprar o livro de Gustavo Franco e que encontrei nas suas primeiras páginas. Depois, foi a rasteira do preconceito e da ignorância (para não dizer mais...) sobre Marx e o marxismo.
Trata-se tecla mais que gasta, mais que romba, de uma interpretação vulgar, ordinária (no pior sentido) de materialismo, de uma visão nem sequer superficial do marxismo, assimilando este a esquematismos que apenas estão nos "divulgadores" encarregados de adulterar o marxismo, sempre vivo e sempre se renovando porque voltado para a realidade, para a vida, para a permanente mudança.


Não vou insistir muito. Aqui. Embora por aqui continue a insistir...
Só uma breve anotação:

No Livro Primeiro, Tomo III de O Capital, no índice de nomes, Shakespeare aparece 9 vezes citado, nalgumas páginas com aproveitamentos muito interessantes, como no do dinheiro, retomado do manuscrito de 1844, mas também quando, por exemplo, a páginas 556 do Tomo II, Marx ilustra a «...contradição absoluta (que) suprime toda a tranquilidade, firmeza e segurança da situação da vida do operário e ameaça constantemente arrancar-lhe das mãos, com o meio de trabalho, o meio de vida...» , com uma fala tirada do Mercador de Veneza «Tirais-me a vida/Quando me tirais os meios pelos quais vivo» (pág.556 do Tomo II das edições avante!).

Isto pode ser ignorado por quem escreve um livro sobre Shakespeqre e a economia e diz o que diz de Marx e o marxismo?

3 comentários:

Graciete Rietsch disse...

Agora vou ler mesmo o Rei Lear traduzido por ÁLVARO CUNHAL nas masmorras da Pide.
Um abraço.

Manuel Rodrigues disse...

Uma óptima ilustração desta "contradição absoluta" podemos encontrá-la na peça "A Mãe" de Bertold Brecht (a partir do romance homónimo de Máximo Gorki), que vai estar em cena no Teatro de S. João, no Porto, entre 12 e 21 de Fevereiro (depois de ter estado, de 6 a 31 de Janeiro, no Teatro Municipal de Almada). Um notável trabalho da Companhia de Teatro de Almada com uma excelente encenação de Joaquim Benite. A não perder para todos aqueles que gostam de teatro. A não perder também para todos aqueles que ainda não gostam de teatro. Uma forma cativante de "ler" O Capital.
Um abração, Sérgio
Manuel Rodrigues

samuel disse...

Se pode ser ignorado? Pode e deve!!!
Era o que mais faltava, "reabilitar" Marx... onde é que isto iria parar?

Abraço.