Pareceu-me ouvir ontem o ministro das finanças dizer qualquer coisa do género de que o fim das “golden share”, além de cumprir a legislação comunitária, ser benéfico para a “operação privatizações” porque os investidores iam ficar mais interessados… Assim como quem repete um b-á bá segundo o qual a melhoria de condições pela oferta ser favorável a esta por estimular a procura. O que seria bom negócio para a oferta por, por um lado, fazer subir o preço a que os compradores se disporiam a comprar e, por outro lado, acrescer os interessados na procura, o que também concorreria para fazer subir o preço. Só vantagens!
Não teria sido bem assim que o ministro colocou as coisas, mas foi esse o sentido que retirei do que teria dito. E rejeito liminarmente equacionar a questão das privatizações nesses termos e com esse sentido que assimila tudo a negócio, ignorando também a necessária (e constitucional!) articulação entre os sectores da economia segundo a sua pertença ao Estado, a cooperativas ou a privados. O que está em causa, e no terreno, é uma estratégia ideológica (e anti-constitucional), e ideologicamente tem de ser discutida e debatida.
Nestas suas iniciações mediáticas, Vitor Gaspar revela uma evidente inaptidão para comunicar e não mostra ter qualquer jeito ou vocação ministerial (e não só ele). O que até poderia não ser totalmente negativo, mas parece-me um exagero de desajuste funcional. O que, para o(s) responsável(is) pelo "casting" seria compensado por outras “qualidades”, como a muito referida de conhecer bem o pessoal daqueles meios bangstéricos... Resta saber em que conceito o têm e se, em privado, o seu "tatebitatísmo" (ou as poucas falas) passa por competência.
De qualquer modo, arrisco não augurar longa carreira ao novel ministro. Aliás, por aquelas pastas têm passado meteóricas esperançosas expectativas que rapidamente voltaram às suas carreiras outras porque para ministro não davam (ou não recebiam o suficiente), alguns com o estatuto de ex- a justificar presença colunável e opinativa.
Notícia de há pouco: o diferencial ou ‘spread' entre as obrigações do Tesouro português a 10 anos e as bund (obrigações) alemãs superou esta tarde a barreira psicológica dos 1.000 pontos base. É um valor nunca visto desde pelo menos a criação do euro e trata-se de um agravamento de 200 pontos base face ao valor registado ontem. Este ‘spread' significa que no mercado secundário Portugal paga 4,3 vezes mais que a Alemanha para obter financiamento a 10 anos.
Ah! Outra coisa (será?): o primeiro-ministro parece que levou um murro no estômago. Ainda antes de apanhar com a Bolsa de Lisboa em queda disparada, tendo sido a que mais caiu no mundo, dizem os noticiários. Por onde andam os/as “seguranças”?
E não julguem, os eventuais leitores, que escrevo o que está aí atrás com regozijo. Só me parece que tudo converge para justificar o que tem sido dito e redito sobre a necessidade de se endireitar a espinha soberana e exigir negociações em vez de se continuar no dobrar da cerviz.
Mas isso não o farão, a não ser forçados, os que começaram já tão curvadinhos que metem os pés pelas mãos.
8 comentários:
Olha que hoje até já se lêm por aí uns gritos de revolta: Editorial DE de hoje
Claro está que isto são reacções não de quem quer endireitar a "espinha soberana" mas de quem vê assim reduzidos os seus "rendimentos". Olha outro: Reacção Ricardo Salgado
Isto é de quem não tem espinha nenhuma, quanto mais vontade de a endireitar!
Abraço,
JP
Obrigado pelos contributos para a informação!
Acho que com talas não irá lá,sei lá,talvez pondo-lhes um estadulho de "acarreja" nas costas.
Um abraço,
mário
«Espinha soberana»?: boa!!
(mas eles sabem lá o que isso é!...)
Um abraço.
Coitados! Andam com um ar tão "ofendido"...
Abraço.
Será que a procissão já saiu do adro?
Isto é só o começo. Esperemos por muito pior.
Um beijo.
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