quarta-feira, janeiro 18, 2012

18 de Janeiro - Marinha Grande


Discurso do Alvaro Cunhal no comício do PCP,
a 18 de Janeiro de 1975,
na Marinha Grande,
nas primeiras comemorações em liberdade do 18 de Janeiro

A coragem, a determinação, a generosidade dos combatentes de 18 de Janeiro, permanecem desde então na memória colectiva dos trabalhadores e do povo da Marinha Grande.

A feroz repressão que se abateu sobre os revolucionários do 18 de janeiro, o movimento sindical e o Partido Comunista Português, tornaram mais difícil o prosseguimento da luta, mas o fascismo jamais conseguiu eliminar a aspiração dos marinhenses à liberdade, a poderem construir uma sociedade onde a opressão e a exploração, não tenham lugar. ...

Vanguarda na luta contra a fascização dos sindicatos, a Marinha Grande continuou a sê-lo durante a longa noite da ditadura.

Fiéis ao legado dos operários vidreiros que em 18 de janeiro de 1934, pela sua acção heróica escreveram uma das mais importantes páginas da luta dos trabalhadores portugueses contra o fascismo, sucessivas gerações de marinhenses deram, com a sua luta perseverante, uma inestimável contribuição para que o povo português, derrubada a ditadura em 25 de Abril de 1974, pudesse finalmente viver em liberdade.

A classe operária e o povo da Marinha Grande pagaram um pesado tributo pelo seu espírito indomável, pela sua fidelidade à causa dos revolucionários do 18 de Janeiro, pelo seu apego à liberdade e ao socialismo.

Marinha Grande é um nome escrito a ouro na história do movimento operário português. Melhor se pode dizer: escrito com lágrimas e sangue.

Porque a luta dos trabalhadores da Marinha Grande ao longo de 50 anos de fascismo foi paga com pesadas perdas, com perseguições, torturas, prisões, com o assassínio e a deportação de muitos dos seus melhores filhos, com séculos passados nas masmorras fascistas por muitos anos, com privações e sacrifícios silenciosos e anónimos das famílias dos militantes, educadas na mesma escola de elevada consciência de classe e incansável combatividade.

As tradições de luta do proletariado da Marinha Grande são inseparáveis da actividade dos comunistas. A classe forjou a sua vanguarda revolucionária – a vanguarda revolucionária (os comunistas) soube estar à altura da classe.

Marinha Grande pode orgulhar-se de muitos combatentes de vanguarda que tem dado ao movimento operário. Pode orgulhar-se dos seus mártires e dos seus heróis. E a vinda para a sua terra natal, hoje, nesta data, dos restos mortais de um militante comunista que deu toda a sua vida à luta pela liberdade da classe operária e do povo português – o camarada José Gregório – é, ao lado de outros nomes gloriosos, um símbolo das qualidades e tradições do proletariado da Marinha Grande e do papel da sua vanguarda revolucionária – o Partido Comunista Português.

3 comentários:

Carlos Gomes disse...

A revolta da Marinha Grande de 18 de Janeiro de 1934 foi o resultado direto da promulgação do Decreto-Lei n.º 23 048, de 23 de Setembro de 1933 que instituiu o “Estatuto do Trabalho Nacional”, o qual proibiu o direito à greve e estabeleceu a constituição de sindicatos corporativos (verticais) em substituição dos anteriores sindicatos de classe (horizontais), maioritariamente agrupados na Confederação Geral do Trabalho (CGT), de orientação predominante anarco-sindicalista.
Não excluindo a participação ativa do operariado ligado ao Partido Comunista Português que dava ainda os primeiros passos, manda a verdade histórica reconhecer a influência e a liderança do operariado anarco-sindicalista, até então largamente maioritário no movimento sindical. A repressão a que se seguiu à revolta da Marinha Grande marca também o início do declínio e desaparecimento do anarquismo no movimento social em Portugal devido à sua natureza organizativa, deixando o caminho desimpedido para que uma estrutura política organizada – o PCP – viesse a tomar o seu lugar.

Ricardo O. disse...

Uma das experiência que mais me marcaram na Marinha Grande foi visitar, pela mão do Zé, a Manuel Peireira Roldão a laborar em plena luta dos trabalhadores, praticamente em auto-gestão. Mesmo com o peso da incerteza sobre o dia seguinte, respirava-se um ambiente de camaradagem, fraterno e empenhado - todos sabiam o que faziam e tinham para fazer...

Outra, foi muitos anos depois, já com o Zé (neto), vermos as imagens dos dias em que os operários e os populares sairam à rua e a polícia, a mando do Cavaco e do Dias Loureiro, carregou sobre tudo e todos... Quando chegámos a Setúbal, o Zé (neto) voltou-se para a outra avó e disse qualquer coisa como: os polícias foram muito maus, bateram nos trabalhadores que queriam trabalhar... Uns dias depois, na nossa grande marcha em defesa do Partido, ao ver a polícia, chorou com medo...

São outros episódios de outras lutas que fazem parte da mesma luta e com a Marinha Grande e o Zé (avô) como pano de fundo. Zé (avô) que também ouviu o Álvaro nesse 18 de Janeiro de 1975. Será que a Filipa estava ao colo dos pais e também ouviu? Talvez, quando chegar a casa vou perguntar-lhe...

Filipa Bonita disse...

Não sei se estaria,Ricardo, pois tinha meses de vida...

Mas tenho muito orgulho em ter nascido nesta terra, ser bisneta, neta e filha de vidreiros..

Neste momento, com todas estas ofensivas aos direitos dos trabalhadores, tomo como exemplo as lutas que os trabalhadores vidreiros desenvolveram ao longo de décadas..com mais lembrança as da décadas de 80 e 90,e isso dá-me mais força para continuar a luta!!

Vamos a eles!!!