terça-feira, janeiro 31, 2012

A mentira e a verdade na Revolução de Abril - 1

Numa tarde de "actualizações", encontramos  esta "pérola", como título de um destaque on-liine no "sapo"
Portugal deverá ter a pior crise económica desde 1975 .
Imediatamente se desperta, no leitor desprevenido ou no passante desatento, a subliminar conotação com o que teria sido a enormidade da crise de 1975, fruto dos "desvarios" da Revolução de Abril.
Em nós, que, além do privilégio de termos vivido, e intensamente!, o ano de 1975, vimos, ouvimos, lemos e retivemos outra informação, logo foi lembrado A verdade e a mentira na Revolução de Abril, o notável livro de Álvaro Cunhal, e outras (re)leituras mais recentes, necessárias para um depoimento que nos foi pedido sobre Francisco Pereira de Moura, como o seu livro O projecto burguês do governo socialista, na colecção Que País?, da editora Seara Nova.
Sendo este livro a publicação de uma entrevista com o cidadão e reputado professor de economia*, feita em 15 e 18 de Abril de 1977, a resposta a uma primeira do jornalista do Diário de LisboaPara começar, poderíamos, talvez, abordar as razões determinantes da crise económica em que o País se debate») é muito elucidativa, e dela se começa por reproduzir o que foi a introdução à resposta, ficando para outros "posts" mais alguns trechos muito elucidativos indo ao fundo das questões e ao que, ideologicamente se procura apagar da História: 

«Francisco Pereira de Moura - De acordo. Mas antes de abordar as razões que a determinam, parece-me necessário recordar como é que se manifesta essa crise, e digo isto porque temos andado, constantemente, a ouvir falar de quebras do produto, desequilíbrios da balança de pagamentos e esgotamento das reservas de divisas, percentagem de desempregados, excessos de despesas, e outras coisas mais, correndo-se o risco de cada um de nós - como cidadão vulgar e não especializado no "calão" e modelos teóricos dos economistas - não conseguir fazer a ligação  entre a referida crise e a sua própria vida e os problemas da sua família e dos seus companheiros e amigos.
Para os trabalhadores dos campos, fábricas, escritórios, função pública, e para suas famílias - e serão cerca de sete milhões de portugueses - a crise aparece-lhes todos os dias sob duas formas: a carestia de vida e a ameaça de desemprego, quando não a perda já verificada do posto de trabalho. E a situação ainda se apresenta mais grave para os que já não podem trabalhar, vivendo de magras pensões de invalidez ou reforma.
Para a "pequena e média burguesia" a crise também é a subida dos preços e, em muitos casos, o avolumar das dificuldades numa existência que não era desafogada (para quem vive de rendas fixas, ordenados certos, pensões e, mesmo, de pequenos negócios no comércio e indústria e, sobretudo, na agricultura). Mas já se consciencializa outro tipo de sintomas e manifestações da crise: no aumento do imposto de transacções e nas notícias sobre reivindicações salariais e de obtenções de empréstimos estrangeiros, ou então ao saberem das dificuldades financeiras de muitas empresas e, mesmo, da falência de algumas.
Entre os técnicos e directores dos bancos e grandes empresas, como entre a tecnocracia do sector do sector público e militar, e nos meios da alta burguesia lisboeta e portuense (a da "doce vida"), a crise é tem ade conversa à luz do mais recente discurso parlamentar, comentário de jornal ou parecer de especialista estrangeiro a que se teve acesso; mas é, sobretudo, a oportunidade para atacar a Intersindical, condenar o "gonçalvismo" e propagandear as virtudes do sistema de mercado... cristão. Simultaneamente, vão-se consolidando laços para a obtenção de lucros e para a redistribuição de  "tachos" cada vez mais bem pagos ou, mesmo, para a criação de alguns "tachos" adicionais, seja num Governo e administração paquidérmicos seja em comissões e grupos de trabalho para analisar, novamente, tudo quanto há.»
(continua) 

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* - Na espécie de concurso aqui esboçado, as frases são de Francisco Pereira de Moura (1925-1998) e retiradas deste livro.

4 comentários:

Graciete Rietsch disse...

Não teria lá chegado,mas gostei destas palavras de Francisco Pereira de Moura.

Um beijo.

Jorge Manuel Gomes disse...

"A verdade e a mentira na Revolução de Abril, o notável livro de Álvaro Cunhal"

Aqui está um excelente tema de debate.

Camarada, vamos pensar nisso?
Fica feito o desafio/convite!

Um grande abraço desde Vila do Conde,

Jorge

Olinda disse...

Imprescindível livro,"A verdade e a mentira na revoluçao de Abril".A verdade sobre grandes "democratas",uns já mortos,outros ainda a conspirar...
Abraço

Sérgio Ribeiro disse...

Graciete - Esta entrevista/livro é de grande qualidade didáctica e importante contributo histórico.
Beijo

Jorge Manuel Gomes - Um livro imprescindível. Que deve ser lido e conversado. Estou sempre disponível... quando estou!
Abreijos

Olinda - Inteiramente de acordo.
Abraço