"Quando a esmola é grande, o pobre desconfia", diz o povo e tem razão (como quase sempre, salvo quando, em vez de ordenar, se deixa ordenhar...)
Com tanta alegria junta, estou a desconfiar do que esteja para me acontecer.
A tarefa de ontem. no CT de Carnaxide correu muito bem. Pelo menos, para mim. Pelo ambiente, pelos encontros amigos, pelos rissóis, pelo que ouvi.
Também não faço má avaliação auto-crítica sobre o que disse a uma sala cheia, com duas alas. Uma, à minha frente, a que chamaria dos pais e avós, outra, à minha direita, a que chamaria de filhos e netos. Misturando-se na participação viva, animada.
E como se não bastasse vir de lá para a Rodoviária, satisfeito, e ter feito a viagem para o cantinho do Zambujal acompanhado, por mero acaso, por uma jovem vizinha, que me falou, com entusiasmo e acerto, da sua profissão e de projectos para a "nossa terra", recebi, hoje, um mail, com o assunto "Estive em Carnaxide", em que uma camarada me diz coisas agradáveis e úteis da sessão de ontem , e junta um seu poema, que colocou na empresa onde trabalha, quando uns prémios foram distribuídos a umas chefias. Partilho-o porque, pela sua qualidade e o seu "tom" brechtiano, me deu mais uma alegria... que não quero só para mim.
O P R É M I O
Quem faz a estrada? o projectista
e a casa? o arquitecto
e a ponte? o engenheiro.
Quem faz a fábrica? o patrão
e a empresa? o empresário.
Quem manda? o presidente.
Quem governa? o ministro.
E estão sós? NÃO, mas pensam que sim.
QUEM tem calos nas mãos
E os ossos dobrados ao peso da picareta
E os olhos piscos da luz intensa
E as rugas das noites de vigília
E os pulmões cheios de pó
E os pés sangrando das grandes caminhadas
E a voz rouca do sol abrasador
E a chalaça cantante das lágrimas contidas
E a presença firme na hora do perigo
E o braço estendido
E a mão aberta
E o coração pronto
para os outros que com ele fizeram esta TERRA?
Então, se aqueles não estão sós,
porque levam o prémio que também é destes?
Obrigado, Clotilde!
6 comentários:
Obrigada pelo destaque. Uma correcção ... onde trabalhava pois já estou reformada, sou velha.
Clotilde Moreira
Guardas as alegrias todas dentro do teu coração, para as usares quando for preciso...
Clotilde Moreira - ... mas, agora que penso reconhecer-te, estavas na ala dos filhos e netos e, se me não engano, em convívio com o mais novo de todos, com o Vasco.
Renovo os agradecimentos.
Justine - Estou a tentar! E sei que bem precisas serão, ou poderão ser à medida que o tempo passe. E sei que me acompanharás.
Beijos
Bonito!
A mostrar que trabalhar com alegria é muito diferente da "alegria no trabalho" que o fascismo tentou "vender-nos" durante tantos anos.
Abraço.
Deve ter sido linda a sessão
O poema da amiga tem mesmo semelhanças com Brecht.
É tão bom ter alegrias como as que tiveste!!!!!!
Não estamos perdidos. "Havemos de chegar ao fim da estrada".
Um beijo.
Gostei do poema de inspiraçao Brechtiano.Com as palavras também se luta.
Enviar um comentário