segunda-feira, janeiro 09, 2012

Vale a pena ler - As 5 dimensões de um momento excepcional da América Latina

América Latina:
As cinco dimensões de um momento excepcional



Por Carlos Chacho Álvarez*

Montevideo (PL) - Pela primeira vez na nossa história conjugam-se, na região, cinco dimensões estratégicas que permitem definir a situação latino-americana como excepcional.

A primeira: consolidação da democracia. Nunca o continente teve tantos governos eleitos por vía de eleições institucionais, no contexto de competências eleitorais sem restrições.
Ao mesmo tempo, nunca se observou na região um marco de governabilidade tão extenso, só perturbado por episódios, todos resolvidos dentro da legalidade democrática. Da mesma maneira, também é inédita a existência de uma grande pluralidade.
Na América do Sul, governos maioritariamente de esquerda, nacionais, populares e democráticos, convivem com projectos autodenominados de dereita, liberais ou de centro, em outras partes do continente.
Lideranças democráticas que possuem uma grande legitimidade e com forte acompanhamento de maiorias é outro sinal que informa una realidade singular na nossa região.

O segundo ponto: crescimento sustentado na maioria dos países, através de fundamentos sólidos, políticas contracíclicas, contas públicas sãs, baixo nível de endividamento e inflação e maior capacidade e recursos para atenuar os impactos da crise do mundo desenvolvido.
Economias que deixam para trás velhas antinomias; Estado ou mercado, Agro ou Industria, Mercado interno vs.exportações, inflação vs recessão.
Nos últimos 10 anos vem-se saindo das políticas pendulares, e os países, cada um à sua maneira, tratam de projectar novos modelos de desenvolvimento com maior inclusão social.

O terceiro elemento: combate eficaz à pobreza e à indigência.
O actual crescimento sustentado das economias tem sido acompanhado, na maior parte dos países, de uma diminuição substancial da quantidade de pessoas abaixo da linha de pobreza e em condições de indigência.
O social ocupa um dos centros de atenção mais importantes e as políticas de distribuição de rendimentos, de transferências condicionadas, ou de subsídios universais aparecem alargados a quase todo o continente. (…)

A quarta dimensão: vontade política e compromisso do conjunto das Nações de avançar nas estratégias de integração.
Apesar das diferenças de projectos, de visões, por vezes até contradições, e de sinais ideológicos diferenciados, a maioria dos países têm revalorizado papel da América Latina, sua importância no mundo, e a necessidade de incentivar as políticas de integração.
Isto percebe-se no funcionamento da UNASUR, criação da CELAC, na vontade de renovar o perfil da ALADI, e as decisões dos presidentes de diferentes tendências de avançar com a unidade assumindo a diversidade.

E o quinto e último elemento, vinculado ao anterior: possibilidade de que América Latina venha a ser uma das regiões protagonistas, tanto de uma nova etapa do desenvolvimento mundial, como da reconfiguração de uma ordem multipolar que se vá constituindo a partir de novos países emergentes e de blocos regionais de poder.
O que significa a necessidade, e o desafio, de afirmar uma identidade própria, vertebrar com distintas velocidades o espaço interior, e ir projectando para fora uma imagem de unidade que permita visualizar o continente como um novo actor global.
A CELAC pode, e deveria, converter-se no instrumento capaz de veicular acordos regionais, como também os debates de fundo que marcam a agenda global.
Nesta tarefa, a ALADI, em que participam as maiores economias do continente, pode converter-se também num organismo-ponte ao serviço da unificação de posições, para harmonizar o grande mercado interior latino-americano e ser um dos principais cenários para articular os distintos pontos de vista dos países, nos principais fora internacionais.

As cinco dimensões descritas: democracia, crescimento, justiça social, integração e protagonismo global, falam de uma realidade concreta e, também, de desafios auspiciosos. Neles temos de pôr todo o nosso esforço nos próximos anos.
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* Secretário-General da ALADI.

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A ALADI é o maior grupo latino-americano de integração. Foi formado pelo Tratado de Montevide, de 1980, e é composto por doze países-membros: Argentina, Bolívia, Brasil, Chile, Colômbia, Cuba, Equador, México, Paraguai, Peru, Uruguai e Venezuela, representando, em conjunto, 20 milhões de quilómetros quadrados e mais de 500 milhões de habitantes



4 comentários:

Pata Negra disse...

Valeu a pena ler. Nem tudo é crise do euro, troikas e baldroikas!
Um abraço índio

Graciete Rietsch disse...

Um exemplo a seguir e a apoiar.

Um beijo.

Olinda disse...

Vale a pena ler.Para chegar a este momento excepcional,quantos mártires regaram com o seu sangue o solo americano?Tantos...e ,ainda hoje,o que se passa nas Honduras,é silenciado pelo controlo mediático.

Jorge Manuel Gomes disse...

A América Latina é um laboratório embrionário do Socialismo.

Que continue a sua caminhada é o meu desejo, rumo ao Socialismo Científico.

Abraço,

Jorge