segunda-feira, abril 20, 2020

Descarrila-mentes e dis-la-tes - 0

Ontem, escrevi isto no quase-diário:


Descarrila-mentes e dis-la-tes

Naturalmente o confinamento colocou-nos mais nas mãos da informação.
Não só nas mãos da informação que é o produto de uma actividade social muito relevante, a comunicação social, também nas da pululante, e tanta vez poluente, rede a que se deu o nome de redes sociais, como ainda também nas mãos das ligações privadas – o quase obsoleto telefone e toda a parafernália de meios facultados pela info-invasão – que se tornaram nas vias únicas de contacto directo com familiares e amigos, e que, não o podendo substituir, quanto mais não seja serve para se saber se está tudo bem e para os virtuais beijos e abraços.
Somos muito informados, e a procura (essencial) de nos informarmos está a ser muito mais larga e, paradoxalmente, muito mais difícil e trabalhosa.
Há consensualidades que é urgente criar e há outras que, à boleias dessas que são necessárias (e urgentes), se infiltram insidiosamente.
Ora todos estes veículos de informação à gente confinada, que somos todos, locomovem-se, isto é, movem-se – ou deveriam mover-se – sobre carris. O carril dos factos, das realidades, e o carril da relação informante/informado, o informante crendo-se todo poderoso porque influente privilegiado, o informado aparentemente submisso porque aparentemente passivo, confinado em suma.
Está tudo bem? pergunta o confinado, que mais confinado está porque “é de risco” (!), ao filho, à neta, ao amigo, e estes informam. Às vezes, descarrilando, apenas substituindo o ponto de interrogação por um convincente (ainda que nem sempre convencido) ponto exclamação: Está tudo bem!
Este descarrila-mentes é bem intencionado e, na maioria dos casos, não é grave e tem efeitos tranquilizadores para a mãe, para o avô, para a amiga.  
Já o mesmo se não pode dizer se a pergunta se conjuga no futuro, ou se, já que descarrilado, o informante acrescenta à resposta… vai ficar tudo bem!,  porque não vai ficar tudo bem, sobretudo porque não vai ficar tudo na mesma, porque não vai haver regresso ao que era, porque é preciso lutar muito para que não fique tudo muito pior do que estava… ou pior ainda.

Noutros níveis, os descarrila-mentes são bem diferentes e, se têm intenções, em muitos casos atingem a perversidade. Aqui se querem trazer alguns que, a nosso juízo, o são. E também alguns de outro tipo a que se chamaria dis-la-tes.

Começar-se-ia por enunciar um, e grave, descarrila-mente que irá ocupar esta semana: a assinalação do 46º aniversário do 25 de Abril na Assembleia da República, o nosso 47º 25 de Abril (sim, porque o 1º, o de 1974 também conta e até foi o mais nosso). Talvez ainda hoje.
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Não foi ontem. Será hoje e aqui. Mais logo:

2 comentários:

Olinda disse...

É preciso um grande filtro para os descarrila-mentes(gostei da narrativa)Bjo

João Baranda disse...

E palminhas à janela?!