Descarrila-mentes
e dis-la-tes
Naturalmente o confinamento
colocou-nos mais nas mãos da informação.
Não só nas mãos da informação
que é o produto de uma actividade social muito relevante, a comunicação social, também nas da
pululante, e tanta vez poluente, rede a que se deu o nome de redes sociais, como ainda também nas
mãos das ligações privadas – o quase
obsoleto telefone e toda a parafernália de meios facultados pela info-invasão –
que se tornaram nas vias únicas de contacto directo com familiares e amigos, e
que, não o podendo substituir, quanto mais não seja serve para se saber se está tudo bem e para os virtuais
beijos e abraços.
Somos muito informados, e a procura (essencial) de nos informarmos está a ser muito mais
larga e, paradoxalmente, muito mais difícil e trabalhosa.
Há consensualidades que é
urgente criar e há outras que, à boleias dessas que são necessárias (e urgentes),
se infiltram insidiosamente.
Ora todos estes veículos de
informação à gente confinada, que somos todos, locomovem-se, isto é, movem-se –
ou deveriam mover-se – sobre carris. O carril dos factos, das realidades, e o
carril da relação informante/informado, o informante crendo-se todo poderoso
porque influente privilegiado, o informado aparentemente submisso porque
aparentemente passivo, confinado em suma.
Está tudo bem? pergunta o confinado, que mais confinado está porque “é de risco” (!),
ao filho, à neta, ao amigo, e estes informam. Às vezes, descarrilando, apenas
substituindo o ponto de interrogação por um convincente (ainda que nem sempre
convencido) ponto exclamação: Está tudo
bem!
Este descarrila-mentes é bem
intencionado e, na maioria dos casos, não é grave e tem efeitos
tranquilizadores para a mãe, para o avô, para a amiga.
Já o mesmo se não pode dizer se a pergunta se conjuga no futuro, ou se, já que descarrilado, o informante
acrescenta à resposta… vai ficar tudo bem!, porque não vai ficar tudo bem, sobretudo porque não vai ficar tudo na mesma,
porque não vai haver regresso ao que era, porque é preciso lutar muito para que
não
fique tudo muito pior do que estava… ou pior ainda.
Noutros níveis, os
descarrila-mentes são bem diferentes e, se têm intenções, em muitos casos
atingem a perversidade. Aqui se querem trazer alguns que, a nosso juízo, o são.
E também alguns de outro tipo a que se chamaria dis-la-tes.
Começar-se-ia por enunciar
um, e grave, descarrila-mente que irá ocupar esta semana: a assinalação do 46º aniversário do 25 de Abril na Assembleia da
República, o nosso 47º 25 de Abril (sim, porque o 1º, o de 1974 também
conta e até foi o mais nosso).
Talvez ainda hoje.
____________________________________________________
Não foi ontem. Será hoje e aqui. Mais logo:
2 comentários:
É preciso um grande filtro para os descarrila-mentes(gostei da narrativa)Bjo
E palminhas à janela?!
Enviar um comentário