Tinha a intenção de, neste apeadeiro, já ter “despachado” o
Plano Marshall com apenas um descarrila-mentes, mas o tema é muito importante
para o momento e daria para desastre bem maior. Vou tentar não abusar.
Foi-me observado, como dúvida séria que é levantada,
se o tal Plano Marshall não merecera desconfiança de Salazar, que a ele no
início não aderira. Essa poderá ter sido – e decerto foi – uma “informação veiculada”,
dentro dos carris habituais e valorizando a cautela e o patriotismo do dit(ad)o(r).
Ora há outra
informação a carrilar:
O Plano Marshall era destinado aos países da Europa (do
BENELUX, França e Itália à cabeça) com dificuldades de recuperação (o tal ERP-European
Recovery Program, 1948),
não para lhes resolver as dificuldades, mas para controlar essa recuperação e,
sobretudo, para evitar que caíssem na crescente atracção por caminhos em que a
União Soviética pudesse ser referência e apoio (até foi dito que era para
evitar que “o Exército Vermelho viesse
fazer pic-nics nos Champs-Elysées”…), como a força das organizações de
classe políticas e sindicais, isto é, a correlação de forças poderia fazer
temer.
Portugal e a Espanha não estavam dentro dessas
prioritárias preocupações da Administração dos Estados Unidos e do seu capital
dominante investido em armas (ao lado do tal Plano, a NATO, para a qual Salazar
não hesitou nada). Além disso, havia a posição no começo da guerra ser
pró-nazi.
A Espanha ficou mesmo de fora do Plano Marsall, e
Portugal entrou como “beneficiário” retardado, não por esperteza ou argúcia de
Salazar mas por manholice para se
integrar nos “países de democracia ocidental”, de onde a postura inicial na
guerra o retirara… Por outro lado (se é que o é), a manobra diplomática de
recuperar Timor da ocupação japonesa como “província ultramarina”, e lhe evitar
sorte idêntica à de Guam, foi à custa (bem custosa) de facilidades na criação da
base dos E.U.A. nas Lajes dos Açores (acordo de 1945), de importância
estratégica.
Mas hoje, 23 de Abril de 2020, importa referir que as
lembranças do Plano Marshall resultam da situação na União Europeia em crise
profunda para que se procura solução ou remendo. Um Plano Marshall europeu para a Europa (seja isto o que for)? Que
enorme descarrila-mentes.
Como não lembrar que, quando do Acto Único, que
derivou do alargamento dos 9-10 (já com a Grécia) a 12 (Portugal + Espanha),
sendo presidente da Comissão um sindicalista, Jacques Delors, se delineou uma
coisa chamada coesão económica e social,
a partir da necessidade de projectar, ao lado do mercado interno, com as
previstas e inevitáveis assimetrias, transferências (não empréstimos!) dos países
mais favorecidos para os menos favorecidos (que eram 4 - Portugal, Espanha,
Grécia e Irlanda, os “da coesão”), o que levaria à criação de um Fundo de
Coesão.
Que é dele?... descarrilou num Fundo Recuperação via
para um orçamento “europeu” (em)prestamista.
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