terça-feira, fevereiro 15, 2011

Memórias de (+ de) 1/2 século

(acabada a tarefa,
para onde fui de metro,
uma pequena crónica...
para não perder este tão querido
contacto convosco)
.
Foi, para mim, um jogo. Dos mais interessantes que até aí jogara: pela primeira vez em Paris, andar de metro pela primeira vez! Inventar sítios e lugares para ir, alguns de nomes conhecidos - e um ou outro mítico - mas não vividos... e descobrir como lá chegar. Começar por esta linha, com um número, cor e o destino final, mudar para aquela ali, saltar depois para aqueloutra acolá... Através de corredores, escadas, gente, gente.
O que eu gozei! Tão grande o gozo que chegou até hoje. E o lembro e renovo. Hoje.
Hoje!... tudo igual. Menos eu, apesar do mesmo/outro gozo. Menos o da novidade, mais o das lembranças que rejuvenescem.
Menos eu?! Não. Olho em volta e vejo as diferenças. As mesmas gentes, de cores e origens variadas, o mesmo acordeão de pedir esmola, outro mendigo, numa curva de um corredor, a fazer-nos ouvir Brassens; mas outras roupas, outra "moda", mas o dedilhar com os polegares sobre uns pequenos aparelhos que há 50 anos estavam longe de existir, e gente a falar sózinha para umas espécies de cabeças de alfinete e com umas coisas nas orelhas (deve ser para ouvirem musica ou o que do outro lado lhes respondem...).
Há mais de 50 anos! Sair no Boul'Mich e comprar o L'Humanité num quiosque. Que emoção! Voltar às entranhas da enorme cidade com comboios a circularem. "Mais uma volta, mais uma corrida!...", passardebaixo do Sena, para a outra margem, da rive gauche para a rive droite.
Subir até aos grandes boulevards. Passar no edifício central do L'Humanité. Sempre o l'Huma (ah!, quando o avante for legal e diário, e alguém escrever "oui!, mais" como o André Wursmer!, pensava eu...).
Tinha menos 50 anos e muita pressa.
Oui!, mais...
Hoje, tenho outra noção do tempo. Não o meço em dias, semanas ou meses.
Hoje, sei que o mundo muda - como então sabia... -, que os povos terão direitos que lhes negam - como então começava a acreditar, com toda a força de querer ajudar -, mas sei, também, que o tempo tem o tamanho de décadas, de séculos, de milénios.

7 comentários:

Carlos Gomes disse...

Existe em Paris um lugar que não direi mítico mas histórico, o qual já tive oportunidade de visitar por mais de uma vez: Pere Lachaise.
Evoca-nos a Comuna de Paris. É um local de memória e carregado de simbolismo. Para uma visita virtual, sugiro:
http://www.pere-lachaise.com/

Graciete Rietsch disse...

Paris!!! A cidade do Mundo de que eu mais gosto, apesar de pouco viajada e não conhecer muitas outras capitais e regiões.
Paris!!! Quando lá fui ainda no tempo do fascismo senti-me livre, feliz. Para mim Paris representava a Revolução, a Liberdade, a Arte, as Ciências, a Resistência, o grande Professor Manuel Valadares que colaborou com os Curie, "la rive gauche", Victor Hugo, Robespierre,a Resistência Portuguesa, sei lá que mais. Imaginava também as botas alemãs a passarem sob o Arco do Triunfo e achava que, se fosse parisience, não aguentaria ver a minha Cidade da Luz profanada pelos nazis.
As emoções surgiam em catadupa.
Fui lá na altura da onda de emigração e bem ouvi como os franceses viam o nosso governo ao mesmo tempo que não aceitavam bem os portugueses porque lhes iam roubar alguns empregos.
Mas a emoção e o encantamento não se desvaneciam, de tal modo que de outras vezes em que lá estive, já após o 25 de Abril, as sensações eram idênticas.
Nunca me senti tão livre como em Paris e quando via uma placa com o nome de um resistente assassinado eu sentia uma grande tristeza e apetecia-me chorar de tanta comoção.
E eu que até tive um primo,sobrinho do meu avô alsaciano, Eugene Rietsch, que tinha pertencido à Resistência Francesa, sentia-me imensamente
orgulhosa.
O fascínio que Paris exerceu em mim foi tão forte que se me dessem a escolher uma viagem a Paris ou a Londres, onde eu nunca estive, escolheria Paris sem qualquer hesitação.
O teu post também me fascinou.

Um beijo.

Graciete Rietsch disse...

Esqueci-me de dizer, tão entusiasmada que estava, que este meu amor por Paris não me tira o discernimento para ver que lá a luta também tem que continuar.

Mais um beijo.

Pata Negra disse...

Daqui a 50 anos falaremos!... Ou falarão!... De certeza que ainda falarão, como já falámos e falaremos das vontades e formas de mudar o mundo ou, quanto mais não seja, a vida dos mundanos.
Um abrasse

GR disse...

Gostei muito desta crónica colorida e cheia de gente. Não recordaste com “saudade” mas com memórias de um outro tempo e espaço. E o tempo que tudo muda!

Bjs,

GR

samuel disse...

Muito bem lembrado... muito bem escrito!

Abraço.

Anónimo disse...

Com esta bela crónica fizeste-me visitar Paris (virtualmente).E o mais fascinante, em dois tempos diferentes. Deu até para ouvir a música.
Obrigada.


Campaniça