De aspalavrassaoarmas, do Cid Simões, com aplausos... sem reticências (ou assins-assins):
Sábado, 19 de Fevereiro de 2011
MEIAS-TINTAS
ou
ASSIM-ASSIM
ou
ASSIM-ASSIM
“Ser descontente é ser homem”
Fernando Pessoa
Fernando Pessoa
“Vamos andando assim-assim, não é verdade?” A afirmação embebida de interrogações foi lançada ao grupo que tomava a bica matinal, por um sujeito portador de máscara-sorriso-convencional.
O senhor António, homem de convicções, detestava as meias-tintas, além do mais não estava nos seus dias, bebeu de um trago a bica-curta, olhou de frente o recém-chegado e disparou:
“Eu estou assim, e o senhor assim está, o que não significa que estando ambos deste modo, estejamos os dois assim-assim. Detesto a neblina, prefiro a enxurrada.”
O homem máscara-sorriso-convencional, apertou o nó da gravata, remexeu-se dentro do casaco, olhou à sua volta, soltou uma amostra de pigarro e quedou-se, enquanto outro dos visados, “virado do avesso”, engasgando-se logo ao primeiro golo de café, não deixou passar o “insulto”:
“Não gosto da vida assim-assim, é o pior que nos pode acontecer. É o indefinido, o não anda nem desanda, o marasmo que arrasta a perda de horizontes, a mornaça que atabafa os espíritos. Não é cólica nem diarreia, é prisão de ventre. Um desconforto!”
“Já imaginou o que é um indivíduo, um povo, uma autarquia ou um país assim-assim”? hem! Já imaginou? Se nos dispuséssemos a ficar assim-assim estávamos acabados!”
A máscara virou o sorriso para a porta espreitando a fuga, e o homem achou que as coisas já não estavam assim-assim. Triste ideia a de ter saído de casa!
“Estar assim-assim, é ter perdido as emoções que comandam o gosto ou o desgosto de viver, não estar contente nem descontente, olhar e não ver, comer sem apetite, um desconsolo! Procure colocar-se nessa situação, faça um esforço e diga-me se não é de ficar apavorado.”
“Uma reforma assim-assim dá para ir vegetando, e vegetar é gastar a vida sem interesse e sem emoções, levar uma vidinha que se arrasta por entre o paciência-podia-ser-pior, o se faz favor, o muito agradecido, o desculpe se incomodo. O assim-assim é um mal-estar que nos envolve sem sabermos de onde vem; prefiro a topada.”
Hirto e de sorriso aos pés, o homem não sabia como se desenvencilhar da encrenca em que se havia metido. Aferiu que estava entre gente insatisfeita e balbuciou: “Mas... um... um governo assim-assim... sempre seria melhor que...”
O empregado de mesa deixou cair a bandeja, e por entre o estardalhaço explodiu um vozeirão:
“O assim-assim é o caminho privilegiado para o ainda pior”. - Fez-se silêncio, e a interrogação surgiu tonitruante. - "E sabe porquê? Porque o assim-assim é a inércia. Sabe o que é a inércia? É o vai para onde te empurram!”
O sorriso rastejou até à porta deixando só o homem já sem máscara. “Melhor seria ter estado calado.” Concluiu. “Quando não se tem trincheira apanha-se de todos os lados.” Cogitou.
O Manuel Caveira, de olho vivo, ouviu, ouviu e sentenciou:
“Estar assim-assim é uma merda!”
O senhor António, homem de convicções, detestava as meias-tintas, além do mais não estava nos seus dias, bebeu de um trago a bica-curta, olhou de frente o recém-chegado e disparou:
“Eu estou assim, e o senhor assim está, o que não significa que estando ambos deste modo, estejamos os dois assim-assim. Detesto a neblina, prefiro a enxurrada.”
O homem máscara-sorriso-convencional, apertou o nó da gravata, remexeu-se dentro do casaco, olhou à sua volta, soltou uma amostra de pigarro e quedou-se, enquanto outro dos visados, “virado do avesso”, engasgando-se logo ao primeiro golo de café, não deixou passar o “insulto”:
“Não gosto da vida assim-assim, é o pior que nos pode acontecer. É o indefinido, o não anda nem desanda, o marasmo que arrasta a perda de horizontes, a mornaça que atabafa os espíritos. Não é cólica nem diarreia, é prisão de ventre. Um desconforto!”
“Já imaginou o que é um indivíduo, um povo, uma autarquia ou um país assim-assim”? hem! Já imaginou? Se nos dispuséssemos a ficar assim-assim estávamos acabados!”
A máscara virou o sorriso para a porta espreitando a fuga, e o homem achou que as coisas já não estavam assim-assim. Triste ideia a de ter saído de casa!
“Estar assim-assim, é ter perdido as emoções que comandam o gosto ou o desgosto de viver, não estar contente nem descontente, olhar e não ver, comer sem apetite, um desconsolo! Procure colocar-se nessa situação, faça um esforço e diga-me se não é de ficar apavorado.”
“Uma reforma assim-assim dá para ir vegetando, e vegetar é gastar a vida sem interesse e sem emoções, levar uma vidinha que se arrasta por entre o paciência-podia-ser-pior, o se faz favor, o muito agradecido, o desculpe se incomodo. O assim-assim é um mal-estar que nos envolve sem sabermos de onde vem; prefiro a topada.”
Hirto e de sorriso aos pés, o homem não sabia como se desenvencilhar da encrenca em que se havia metido. Aferiu que estava entre gente insatisfeita e balbuciou: “Mas... um... um governo assim-assim... sempre seria melhor que...”
O empregado de mesa deixou cair a bandeja, e por entre o estardalhaço explodiu um vozeirão:
“O assim-assim é o caminho privilegiado para o ainda pior”. - Fez-se silêncio, e a interrogação surgiu tonitruante. - "E sabe porquê? Porque o assim-assim é a inércia. Sabe o que é a inércia? É o vai para onde te empurram!”
O sorriso rastejou até à porta deixando só o homem já sem máscara. “Melhor seria ter estado calado.” Concluiu. “Quando não se tem trincheira apanha-se de todos os lados.” Cogitou.
O Manuel Caveira, de olho vivo, ouviu, ouviu e sentenciou:
“Estar assim-assim é uma merda!”
8 comentários:
Excelente!
Pois é . Estar assim asim é estar conformado e nós preciamos de ideias firms e e atitudes.
Um beijo.
Assim como assado mais vale ir dizendo "cá se vai indo" ou "lá se vai andando"
Um abraço assim (só uma vez)
Pata Negra dá bem o retrato do revisionismo pedinte e submisso que reina neste país de Camões e Pessoa. É como diz Camões; um contentamento descontente, fruto dos remorsos que vendidos ao capital, os C. Silvas e outros opurtinistas de maia-tigela deixaram os trabalhqadores de mãos vazia e o banqueiros de mãos cheias.
Não têm vergonha?
Pois é, amigos, andam por'í umas tristezas tão tristinhas qu'até dá pena.
Não lhes ligues, pata negra, dá-lhes c'a pata!
(opurtinistas?! não encontrei no dicionário...)
... que isto, as opurtinidades de dizer tulisses anonimamen-te não se devem dexperdissar...
Ó anónimo das 14:32, não se amofine... eu quero crer que os "opurtinistas" são uma gralha... e até entendo que quem ataca tão frontalmente o "revisionismo" não goste de rever os textos. :-))) :-))) :-)))
Camarada Sérgio,
Como detestamos as meias-tintas e os assim-assim, lá estaremos na GRANDE MANIFESTAÇÃO NACIONAL a 19 de Março (sábado), em Lisboa, para demostrar a nossa indignação com este "status quo" rosa&laranja.
http://cgtp.pt//index.php?option=com_content&task=view&id=1955&Itemid=1
Um abraço desde Vila do Conde
Jorge
Enviar um comentário