sexta-feira, fevereiro 04, 2011

A outra informação (sem aspas...)

de avante! (03.02.2011):





> Pedro Guerreiro


«Povos em luta…

Os acontecimentos no Egipto – que ocorrem na sequência da luta do povo tunisino, que provocou ondas de choque pelo mundo árabe – são da maior importância. Independentemente do seu desfecho imediato, o levantamento popular no Egipto constitui desde já um imenso salto qualitativo na luta do seu povo contra o regime opressor liderado por Hosni Mubarak e apoiado pelo imperialismo.
Na sequência de uma longa resistência e face a uma brutal repressão – um «estado de emergência» que vigora desde 1981 –, os trabalhadores, a juventude do mais populoso país árabe, em sete dias, fizeram tremer os alicerces de um regime que explora e oprime há 30 anos.
O povo egípcio identificou os responsáveis pela sua situação e levantou-se, uma vez mais, contra o desemprego e a pobreza, pela melhoria das condições de vida, contra a opressão, pela sua dignidade nacional e dos povos árabes, contra a subserviência aos EUA e a cumplicidade com o sionismo de Israel.
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Pela sua importante dimensão, localização e interesse estratégico – basta referir o Canal de Suez –, o Egipto tem sido o pilar crucial no mundo árabe para a estratégia de domínio dos EUA no Médio Oriente, no Norte de África e no Mediterrâneo. O estabelecimento de relações diplomáticas do Egipto com Israel e a assinatura dos acordos de Camp David, nos EUA, em 1979, marcaram uma significativa divisão no mundo árabe e uma profunda mudança da correlação de forças na região a favor do imperialismo.
Como agora é recorrentemente recordado, o Egipto é segundo país que mais meios financeiros recebe dos EUA para compra de armamento e para fins militares, apenas suplantado pelo apoio que os EUA dirigem para Israel.
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Perante os levantamentos populares contra a opressão, o capitalismo procura ocultar, aliás de forma atabalhoada, os seus profundos laços e suporte político, económico e militar aos regimes ditatoriais árabes, com quem partilha a exploração dos povos e dos seus recursos.
Veja-se o caso da Internacional Socialista (IS), do PS. Bem pode a IS expulsar à pressa a «Assembleia Constitucional Democrática», dias antes deste partido, do ditador Ben Ali, ser dissolvido perante a resoluta exigência do povo tunisino; bem pode a IS clamar hipocritamente pela liberdade e os direitos do povo egípcio, quando omite convenientemente que o Partido Nacional Democrático, de Mubarak, é seu membro, que já vai tarde na tentativa de branqueamento da sua cumplicidade com a brutal opressão que se abateu e abate sobre estes povos.
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Não é, então, de espantar o alarme, o embaraço e as tentativas de manutenção (com prazo) de Mubarak ou de procura de uma outra qualquer saída imediata, protagonizadas pelos EUA e seus aliados da União Europeia – veja-se a posição comum da Alemanha, França e Reino Unido –, no sentido de conter a revolta popular, explorar as suas contradições e fragilidades, limitar os seus objectivos e consequências, no fundo, procurando impedir que esta se encaminhe para uma revolução democrática e nacional. Para o imperialismo está muito em jogo, pois sabe que o desenlace do actual momento de luta de classes no Egipto terá profundas repercussões em todo o mundo árabe e na evolução da situação do Médio Oriente e, logo, da situação internacional.
Os levantamentos populares na Tunísia e no Egipto demonstram quanto é correcta a tese de que no actual quadro de agudização da luta de classes, onde grandes perigos para a paz, a liberdade e a soberania dos povos coexistem com reais potencialidades de desenvolvimentos progressistas e mesmo revolucionários, se coloca a possibilidade de ocorrerem rápidos e imprevistos desenvolvimentos, cujo desfecho dependerá da capacidade dos povos transformarem revoltas populares em processos de transformação que ponham em causa o poder do grande capital e do imperialismo.»

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