Entre a chusma de comentadores destes nossos conturbados tempos poucos são os que, naquilo que debitam papagueando, dêem indícios de pensar. Procuro seguir, humildemente, a lição/exemplo de Marx que nunca desprezou o que outros tinham pensado ou estavam a pensar, por maior que fosse o desacordo. E aproveitava, e de que maneira!, o que eram reflexões alheias para testar, melhorar e prosseguir as suas próprias reflexões.
Por isso, entre a chusma de comentadores que nos são impingidos à maneira de inundação, leio e reflicto sobre o que alguns (raros!) dizem e escrevem. Entre eles, quase excepção, Nicolau Santos no Expresso-Economia.
No seu último a Cem por Cento , dedica o editorial, na sequência de outras escritos, à "privatização" da EDP. Que considera, do seu ângulo de visão, “um enorme erro estratégico”. E prova.
Segundo ele, o Governo perdeu-se nas vantagens de curto prazo, ignorando as “desvantagens catastróficas a médio/longo prazo”. É claro que NS não belisca as privatizações, está inteiramente solidário com a agressão da “troika” enquanto mal mais que necessário, indispensável, não põe um dedinho do pé fora do sistema a preservar. Mas denuncia, meio espantado, o que não é mais que uma manifestação das contradições do sistema, da sua vocação autofágica.
Ou seja, não terá percebido que, para perceber o sistema (que capitalista se chama), há que sair dele, há que dar, ao menos, uma voltinha pela critica da economia política (assim se sub-títula O Capital, em correspondência com tudo o que levou ao marxismo… que continua) .
Por isso, e por dentro, o comentário de NS, sendo limitado, é muito útil porque mostra – ele pensando e meio perplexo... – como funciona o sistema.
Nesta subjectiva leitura, encontra-se uma falha, e grave, no seu texto. Fala de enorme erro estratégico como se, numa operação destas, houvesse apenas uma estratégia, a “nossa” e mais nenhuma. Ora há que pensar (e NS pensa...) que a China também tem uma estratégia. Que não é a de vir em socorro da demência monetarista euro-dolarizada, mas a de a aproveitar para mais penetrar na economia real e, também, menos ficar na dependência das contingências das enormes reservas que as dinâmicas internacionais a levaram a acumular. Dólares, euros, outras divisas? Substituir, quanto possível por ouro e empresas ligadas, ou ligáveis, à economia real. A EDP veio mesmo a calhar.
Escreve NS que “as vantagens de curto prazo podem ser desvantagens catastróficas a médio/longo prazo” mas apenas vê “este lado”. E poderia, sem de “este lado” sair, acrescentar que o futuro não é amanhã, é hoje e depois de amanhã!
E, já agora, feche-se este comentário com o título do editorial de Nicolau Santos neste último Cem por Cento: "O nosso horizonte é vermelho”. Ah!, pois é…
3 comentários:
Eu diria o nosso horizonte e o nosso futuro são vermelhos!!!!!!!
Um beijo.
Os "nossos Merdias" sao umas cabecinhas pensantes.Só uma visao...
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