(…) todos estes veículos de informação à
gente confinada, que somos todos, locomovem-se, isto é, movem-se – ou deveriam
mover-se – sobre carris.
O
carril dos factos, das realidades, e o
carril da relação informante-informado, o informante crendo-se todo-poderoso
porque influente privilegiado, o informado aparentemente submisso porque aparentemente
passivo, confinado em suma.(…)
(Descarril-mentes e dis-la-tes - 0)
Com
o passar dos anos nem tudo se perde. Ganha-se particular sensibilidades às
agressões descarrilantes.
Para a talvez esmagadora maioria dos contemporâneos, a citação de um Plano Marshall do pós-guerra é referência longínqua, histórica, inocente.
Teria até sido um caso quiçá belo de solidariedade dos
Estados Unidos, poupados às consequências nefastas de uma guerra, em ajuda a
uma Europa devastada por essa guerra – de que importaria lembrar os fautores
(o nazi-fascismo), os alvos (“a ideologia
asiática”[1]),
as grandes vítimas (o povo soviético).
Um acto solidário, filantrópico, dos Estados Unidos!?...
Não vou gastar muita cera, vou apenas fazer três citações
de livro que me publicaram há 50 anos, nas Edições 70[2]:
1. «…
não encontrando no mercado interno uma procura suficiente para o potencial produtivo
que crescera com a guerra, o capitalismo americano podia assim financiar a
exportação de mercadorias. Através dos empréstimos acordados no âmbito da “ajuda”,
o capitalismo E.U. utiliza o Estado para favorecer também a exportação de
capital comercial e financeiro. Segundo um economista americano, Seymon Harris[3], o
Plano Marshall foi uma “tentativa para salvar os Estados Unidos da depressão”…»
2. «…Assim
procurava o capitalismo E.U. atingir dois objectivos. Por um lado, ajudar o
capitalismo europeu a manter o seu lugar, mas por forma que não deixasse de ser
área de expansão aproveitável para o capitalismo americano, “devendo os 16
países europeus ‘atingidos’ pelo Plano Marshall abster-se de um alargamento e de
uma modernização rápida da indústria ou de uma larga mecanização da agricultura”(!),
assim se limitando a capacidade concorrencial da economia europeia e a sua
possibilidade de resistir à penetração americana. Por outro lado essa “coordenação”
tinha o objectivo de fortalecer a capacidade do mundo capitalista face ao mundo
socialista em ascensão (…)».
3. «…a
citação de Hitler não terá sido inadequada, como não será a de Roman Rolland
quando afirmava que “nada é mais ‘internacional’ que o capitalismo opressor” e
prevenia que “não é um perigo menor de hoje uma Santa Aliança dos grandes
capitães da indústria e das grandes burguesias fascistas do Ocidente”[4].
Tanto para dizer. Isto são, apenas, meias palavras à
procura de bons entendedores…
[1] - “… tremo pela Europa à ideia do que acontecerá
ao nosso velho continente sobrepovoado
se a erupção dessa ideologia asiática de destruição e ruína de todos os valores
adquiridos fizer assegurar o triunfo da revolução bolchevista.”, discurso de
Hitler, 7 de Março de 1936.
[2] - O que é o Mercado Comum (a integração e
Portugal), Edições 70, 1971
[3] - The European Recovery Program, 1948
[4] - apelo
de 28 de Janeiro de 1930
4 comentários:
Interessante citação de Roman Rolland(que desconheço ),com uma grande visão.Apesar do Plano Marshal,que relembrei neste post,a economia norte-americana tem estado sempre dependente do resto do mundo.Bjo
O Oliveirinha de Santa Comba é que não embarcou às primeiras no plano ... o "botas" desconfiava profundamente dos americanos ... estarei certo?
Salazar era um autocrata, tudo estava como devia estar e não se devia mexer, o comboio da história estacionou em Santa Comba e só podia fazer curtas viagens a Coimbra e a S.Bento.
É um caso! E tivémos - e temos! - de o suportar. Desconfiou dos americanos? Desconfiou de tudo e todos, se calhar até do espelho apesar de estar quieto. Os americanos pouco contavam. Tinha ódio aos da Europa de Leste, da outra Europa começou por aderir a Hitler e a Franco (a quem deu todo o apoio e até fez de Portugal uma violenta retaguarda contra a República) mas quando viu a guerra a perder-se, manhoso (Manholas), teve artes de negociar Timor por cedência dos/nos Açores aos americanos. Nunca foi americanófobo e acabou americanófilo porque eram quem podia fazer frente ao perigo vermelho. E mais não digo. Por agora e aqui.
Saudações amigas.
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