domingo, fevereiro 27, 2011

Reflexões lentas... sobre uma ideia

Vamos lá então à ideia com que amanheci. Que já germinava quando adormeci. E que saltou, a pedir tratamento, a partir do folhear e leitura do “novo” Expresso.
Depois de se terem despedido dos leitores alguns, quase todos, dos que me habituara a ler com maior ou menor empatia, aparecem as “novidades” pelo actual e pela única. Além daquela coisa do iPad que não sei muito bem o que é (mas disso sou o único culpado…).
É sabido que se resiste sempre às mudanças, que se olha de través o que nos atiram como substituto do que se tinha por costume ver, pelo que não estou a fazer a calma e reflectida apreciação do que mudou… É só uma ideia que me foi provocada.
Desconfio das “modernices”. E, nesta área da informação, as novas formas e tecnologias, e os seus mentores e agentes agravam as minhas desconfianças. Lembro-me de um certo Jean-Jacques Servan-Schreiber que, em 1953 e com a idade linda de menos de 30 anos, fundou (com Françoise Giroud) uma revista, curiosamente chamada L’Express, que deu brado, e, anos mais tarde, mas não tantos que ele já não fosse um jovem, escreveu um livro, Le Défi Américan, que foi um sucesso extraordinário, com mais de meio milhão de tiragem em francês, e milhões em traduções, incluindo em português.
Li O Desafio Americano há quase 50 anos, e lembro-me de lhe ter torcido o nariz. O tal precoce e super-inteligente J-J. S-S., de que conhecia alguns editoriais na sua revista e posições políticas muito "práfrentex", prenunciava um “mundo novo” que, na informação, acabaria a curto prazo com os jornais, com as revistas, com os livros, tudo substituído pelas novas formas que a tecnologia possibilitava. Há quase meio século!, antes do advento da informática e do seu casamento com a televisão apadrinhado pelo telefone.
Bom… cá vamos lendo jornais, revistas e livros, o sr. J-J. S-S., quando amadureceu, meteu-se a fundo na política, como “jovem esperança” que sempre foi, criou um partido seu, o Radical, depois outro, inventou que se fartou, ainda escreveu um Desafio Mundial, sem impacto, já velho sem ter sido adulto (ao contrário do sentido que Brel lhe deu...), e não terá deixado grande rasto.
Que tem isto a ver com a ideia que me assaltou? Alguma coisa terá, se é que não é mesmo a ideia em si.
Há, em todas as épocas, umas brilhantes mentes que descobrem ou inventam o que já estaria descoberto ou inventado, e o fazem com grande aparato de modernismo, às vezes com um “profundo sentido de humor”, ironia ou cinismo, que só entre eles funciona (devem rir-se “à brava”, em circuito fechado), exibem erudição que não resiste ao riscar do verniz da unha… e fazem época, a sua. Efémera.
São imensamente liberais, não tomam partido (a não ser o seu, claro). E como ilustração para o caso presente nada encontro melhor que uma não-mudança mas - talvez… - promoção: Henrique Raposo passou para o caderno Economia, dispõe de uma página inteirinha, e lá perora como se a História se escrevesse (a passada) e se fizesse (a futura) na sua cabeça. Tudo nos conformes.
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Tenho uma vontade enorme de dizer que cada vez admiro mais a espantosa humildade de Marx, e a sua vontade e capacidade de aprender com os que, antes dele, pensaram, e vê-lo sempre a apontar para o futuro com base nas dinâmicas sociais detectadas mas com as dúvidas de quem só sabe o que pode saber no tempo em que vive.

2 comentários:

José Rodrigues disse...

Quando se fala de jornalismo e jornalistas vem-me sempre à memória um artigo que li do F. Melo de que cito:(...)impedido de seguir uma carreira universitária,Karl Marx irá abraçar o jornalismo,sendo sua concepção que quem escreve deve «Ganhar dinheiro para poder existir e escrever» mas não «existir e escrever para ganhar dinheiro»(...).Dá para reflectir?!...

Abraço

Graciete Rietsch disse...

Sem qualquer presunção, penso que é analisando o passado repercutido no presente que se pode criar o caminho para um futuro mais justo.

Um beijo.