Nestes dias, parece oportuno lembrar (eu não resisto a fazê-lo!) um episódio em que a Organização para a Libertação da Palestina (OLP) entrou para a Organização Internacional do Trabalho (OIT), agência da Organização das Nações Unidas (ONU).
Excerto do meu livro 50 anos de Economia e Militância:
«(...) De novo fui “convocado” para presidir a delegação portuguesa à conferência da OIT de 1975. Como foi com alguma antecedência e passava frequentemente pelo MT, foi possível preparar melhor a nossa participação, e sobretudo concluir processos de ratificação de convenções.
O outro delegado da parte governamental foi o representante do Ministério dos Negócios Estrangeiros e, para além da importância da nossa entrega de processos de ratificação, a sessão também foi histórica para OIT/Nações Unidas.
Votou-se a decisão da entrada da Organização de Libertação da Palestina para a OIT. A decisão levou à saída dos Estados Unidos e de Israel da organização, que assim concretizaram a ameaça com que tentaram que essa entrada fosse recusada. Os 4 votos portugueses contribuíram para a aceitação da OLP na OIT, com o pormenor do delegado dos “empregadores” (Luís Morales) também ter votado a favor da entrada da OLP.
Merece ser contado. Na véspera da votação, Luís Morales disse-me que não iria estar presente na votação, o que, segundo ele, corresponderia a abstenção. Ora, segundo o regimento, só contavam para o “quórum” as presenças, pelo que a ausência de um delegado, sem aviso à mesa, correspondia a voto contra. Assim, avisei-o que, se confirmasse a sua ausência, teria de avisar a mesa ou que, se ele não o fizesse, eu o faria se o não visse na sala no limite do prazo regimental para se contarem os presentes ao voto. Isto, claro, afirmei-o, sem que tal representasse qualquer pressão quanto à sua decisão de estar ou não estar e quanto ao sentido do seu voto que, evidentemente, poderia ser de abstenção. Com alguma surpresa, Luís Morales estava a meu lado na votação, e foram 4 votos portugueses a dizerem sim à entrada da OLP, com a sequente espectacular saída da sala das delegações dos Estados Unidos e de Israel.
Aliás, este voto mereceu algumas reticências de delegado do MNE, que julgo que teria instruções para seguir o voto anterior ao nosso, ou do “mais progressista dos países capitalistas” ou do “menos alinhado dos países socialistas”, de acordo com a ordem da votação, isto é, Noruega se fosse de A a Z ou Roménia se fosse de Z a A. Isto é só uma suposição minha…
A saída dos EUA e Israel teve consequências muito difíceis para a OIT, com o seu orçamento reduzido em mais de 25% e problemas na concretização de alguns projectos em curso, como o Programa Mundial de Emprego e a Conferência Mundial do Emprego calendarizada para 1976. (...)» (pgs. 213-215)
E junto, como "apontamento gráfico", um foto, tirada muitos anos depois, em Bruxelas, que nada tem a ver - directamente! - com este episódio histórico mas que tem, para mim, enorme significado.
7 comentários:
É um abraço de todos nós, abraço que continua apertado a toda a Palestina sofredora.
Grande momento!
Abraço.
E pouco tempo depois realizava-se em Lisboa a Conferência Internacional de Solidariedade com o Povo Palestiniano, com comício no Pavilhão dos Desportos - onde não fui porque fiquei a trabalhar na dita...
... e que abraço tão bonito!
Bom dia!
uau!
grande abraço! :)
beijocassss
vovómaria
Mais do que um abraço: um abração.
Abraço grande.
Os bons tempos de 1975!!!
Os E.U.A. e Israel sempre companheiros.
Uma saudação ao Povo Palestiniano, que tanto tem sofrido e
Um grande abraço para ti.
Nosssssa!
Grande registo fotográfico.
"Aquele Abraço"
Gd BJ
GR
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