Citação (entre muitas possíveis e desejáveis!) de Bento de Jesus Caraça:
"Assistimos aqui a um despertar das massas, mas apenas num sentido,
digamos, negativo; um despertar que reage apenas contra a injustiça de que se
sente vítima; um despertar truculento que não atinge a profundidade do sentido
da reflexão e da justiça; acima de tudo, um despertar orientado sem grandeza.
Mas essa profundidade e essa grandeza, não é já sob a conduta de Hitler que
podem ser atingidas. (…) Hitler apega-se ao que é fácil, ao que é transitório
- a expansão imperialista – para mascarar a sua falência na política interior. O
resto ultrapassa-o. De modo que todo o problema está nisto - saber em que grau
o despertar da alma colectiva das massas na Alemanha é independente de Hitler e
quando, afastado este, esse despertar entrará na fase, por enquanto não atingida,
das realizações duradouras e fecundas. Será preciso dizer que aqui se contém,
neste momento, a chave dos destinos da Europa?”
Continuava Caraça:
“Mas não nos iludamos. Se o enunciar da questão parece fácil e claro, a
sua resolução afigura-se-me extremamente difícil. Ao analisá-la do ponto de
vista internacional (e só assim pode ser estudada) surgem as complicações, tais
e de tão estranho carácter, que se não enxerga, no meio de tantas
possibilidades, qual o caminho necessário de saída. A hegemonia de Hitler sobre
o centro da Europa cortando-a em duas, do Báltico ao Mediterrâneo, hegemonia
conseguida através da aliança com a Itália (a primeira grande vítima futura de
tudo isto) é um facto inegável, uma realidade política, económica e geográfica.
Mas grande nau, grande tormenta; essa hegemonia acabou por provocar, como
reacção, uma conjugação poderosa de forças opostas a qualquer novo acto de
expansão imperialista na Europa. À primeira vista, parece ser Hitler o inimigo
nº 1 dessas forças postas ao serviço da paz (15) e por um lado
assim é; no entanto, Hitler é hoje um homem absolutamente indispensável na
Europa capitalista…”
Este trecho foi escrito em
Maio de 1939, em complemento da conferência de Maio de 1933, e Caraça
terminava-o reiterando:
“De modo que mais necessário e urgente que nunca, para pôr termo a esta
coisa sórdida, anti-racional, a esta macacada que é a política europeia
presente, mais necessário que nunca é e continua a ser despertar a alma colectiva das massas.”
A Cultura Integral do Indivíduo – problema central do nosso tempo, 1933-1939
1 comentário:
No nosso tempo, o problema é a incultura torpe do indivíduo.
BJ Caraça e Cosmos são exemplos a ser lembrados e revisitados
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