domingo, junho 14, 2020

Para este domingo - Canto civil (Orlando da Costa)

Poemas lidos (e muito bem) na inauguração o monumento dedicado à libertação dos presos políticos da prisão de Caxias a 26 (já madrugada de 27) de Abril de 1974


Orlando da Costa – “Canto civil 1”

Este é o meu canto civil

canto cívico graduado

desde um tempo antigo que vivi

entre poemas de aço camuflados e algemas de silêncio


Esse era o tempo do assalto às casernas

mas já então eu escrevia o que devia:

a cartilha da guerrilha do amor e da paz

para ser ensinada à luz das lanternas

nas escolas nas igrejas na parada dos quartéis

Este é o meu canto civil

canto cívico desfardado

escrito a vinte e oito de Abril

do ano passado à noite

de punho cerrado com alegria e sem espanto

canto para ser cantado de dia

por todos por muitos por mim ou por ninguém

Soldado raso

ao cimo da calçada

em guarda

de flor e farda

a flor que te damos

é pão da madrugada

É pão amassado

sem liberdade

é gesto de guerra

em nome da paz.

É flor de canção

em terra mar e ar

rubra flor popular

num só cano de espingarda

Soldado raso

em sentido na memória

lembra-te de novo e sempre

a flor que te damos

é da terra é do povo

é pão da madrugada.

Podcast (estudio-raposa-audiocast): Download

https://www.estudioraposa.com/index.php/10/12/2012/orlando-costa-canto-civil-2/

2 comentários:

Maria João Brito de Sousa disse...

Sempre atenta, deixo o meu abraço.

Justine disse...

Interessante, a poesia do OdC