quarta-feira, agosto 25, 2010

A questão (magna) do desemprego

Esta mensagem poderia incluir-se na série Tomar partido!. Porque o desemprego é questão crucial (qual não é? mas esta é-o especialmente), enquanto situação social terrível mas também enquanto questão teórica. No entanto, não a incluo na série porque iria perturbar a minha sequênci a de reflexões.
Esta mensagem impõe-se-me como reacção a um cartaz de propaganda de um partido que se afirma bloco e de esquerda, cartaz que confrontei nas ruas de Lisboa e que nos entra pelos olhos dentro a gritar que com o desemprego todos perdemos.
A frase é de choque, o grafismo será aliciante (há gostos e estéticas para tudo) ou eficaz (sei lá...)e pode apanhar os passantes desprevenidos. Sobretudo se não armados com uma protecção ideológica permeáveis, por condições objectivas a este tipo de mensagens de propaganda.
Perdemos todos com o desemprego? Todos?!
Quem atira isto cá para fora contribui para a onda de que estamos todos no mesmo barco, de que todos sofremos a crise, de que todos temos de fazer um esforço, seja no IVA, no IRS, e por aí fora até medidas mais drásticas ou que já não podem sere encapotadas. E contribui porque ao serviço do classe que provoca o desemprego, com o funcionamento que impõe à economia e a mentira consciente, ou por confrangedora debilidade ou total vazio ideológico, com uma camada de verniz de esquerda a tapar essas "misérias".
O desemprego tornou-se uma "variável estratégica" do capitalismo, é a forma de ter mercadoria força de trabalho em stock, de manter e reforçar um exército de reserva de mão-de-obra, de se utilizarem as condições que o desemprego cria para se atacarem os direitos conquistados (e constitucionalizados), para se promover a baixa de salários e a precariedade.
Quantos não conhecemos argumentos de gente nossa como "tive de aceitar senão estava desempregado" ou "eu ia para a luta mas não posso correr o risco de ficar desempregado" (e, depois, desempregado fica...).
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Perdem com o desemprego os grandes senhores da finança e os cavalheiros da indústria?, ou ganham com o desemprego que fomentam?
Perdem com o desemprego os quadros ao serviço do capital seja qual for a forma (ou a máscara)que este tome?
Ao menos... um acrescento do tipo nós à terrível palavra todos! Que se tornou uma arma ideológica para que muitos de nós não tomemos consciência que há classes sociais e interesses antagónicos. Todos é nada e pode ser tudo.
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Com o desemprego, perde (e sofre) quem vive do seu trabalho e ganha quem explora os trabalhadores!

8 comentários:

svasconcelos disse...

Excelente reflexão, que não o é, na verdade é uma constação e uma conclusão ( e consequência) lógica. Mas há quem não assimile (ou não queira fazê-lo) tal evidência, e há quem queira mascarar a verdade com o seu abarcamento fictício na crise, no desemprego, "no mesmo barco"...

Carlos Gomes disse...

A análise, a meu ver, está absolutamente correcta. Aliás, trata-se de uma problemática relativamente semelhante à emigração / imigração na medida em que, também através do recurso à mão-de-obra dos países menos desenvolvidos - ou subdesenvolvidos - procura promover a baixa de salários e a precaridade nos países de acolhimento sem com isso beneficiar os países "exportadores" de mão-de-obra ou seja, de onde desesperadamente saiem seres humanos à procura de algumas condições de sobrevivência.
Do ponto de vista ideológico, a constatação de que para o Bloco de Esquerda, "com o desemprego todos perdemos" até é algo curioso pois, tratando-se de uma organização onde predomina uma tendência trotskysta, se tenham esquecido de que foi precisamente Ernest Mandel um dos economistas da área marxista que definiu precisamente o desemprego como um "exército de reserva"...

Antuã disse...

BE ou PS-2?

poesianopopular disse...

O Que mais me irrita, é ver esta gente bem falante e perfumada(be)a conseguir iludir muita gente que na realidade trabalha.
É muito dificil a nossa luta,mas não vai ser por isso que baixaremos os braços!
Abraço

trepadeira disse...

Enquanto quisermos basear o desenvolvimento? não na nossa produção,na nossa capacidade e nos nossos recursos,haverá sempre esta tragédia.
Provocada,é claro,por quem lucra com ela.
Não ouvimos,a cada passo,citar uma alimária que afirma -"não há desenvolvimento com menos de 10% de desempregados.".
Não haverá desenvolvimento para os exploradores.
E quem se diz neutral está com eles,exploradores e,ao serviço deles.
Cordial abraço,
mário

samuel disse...

Muito bem! É bom saber topar estes slogans "quase perfeitos"...

Abraço.

Jorge Manuel Gomes disse...

Excelente post Camarada!

Já pertenci ao "exército de desempregados" quando fiz parte de um despedimento colectivo, na Quimonda, por me recusar a fazer um horário de 12 horas, completamente desumano.
Foi por causa dessa luta que entrei no movimento sindical e passei a "Tomar Partido".
Em boa hora o fiz!

Um grande abraço, desde Vila do Conde.

Jorge Gomes

Pintassilgo disse...

Perdemos todos os que trabalhamos.