Esta mensagem poderia incluir-se na série Tomar partido!. Porque o desemprego é questão crucial (qual não é? mas esta é-o especialmente), enquanto situação social terrível mas também enquanto questão teórica. No entanto, não a incluo na série porque iria perturbar a minha sequênci a de reflexões.
Esta mensagem impõe-se-me como reacção a um cartaz de propaganda de um partido que se afirma bloco e de esquerda, cartaz que confrontei nas ruas de Lisboa e que nos entra pelos olhos dentro a gritar que com o desemprego todos perdemos.
A frase é de choque, o grafismo será aliciante (há gostos e estéticas para tudo) ou eficaz (sei lá...)e pode apanhar os passantes desprevenidos. Sobretudo se não armados com uma protecção ideológica permeáveis, por condições objectivas a este tipo de mensagens de propaganda.
Perdemos todos com o desemprego? Todos?!
Quem atira isto cá para fora contribui para a onda de que estamos todos no mesmo barco, de que todos sofremos a crise, de que todos temos de fazer um esforço, seja no IVA, no IRS, e por aí fora até medidas mais drásticas ou que já não podem sere encapotadas. E contribui porque ao serviço do classe que provoca o desemprego, com o funcionamento que impõe à economia e a mentira consciente, ou por confrangedora debilidade ou total vazio ideológico, com uma camada de verniz de esquerda a tapar essas "misérias".
O desemprego tornou-se uma "variável estratégica" do capitalismo, é a forma de ter mercadoria força de trabalho em stock, de manter e reforçar um exército de reserva de mão-de-obra, de se utilizarem as condições que o desemprego cria para se atacarem os direitos conquistados (e constitucionalizados), para se promover a baixa de salários e a precariedade.
Quantos não conhecemos argumentos de gente nossa como "tive de aceitar senão estava desempregado" ou "eu ia para a luta mas não posso correr o risco de ficar desempregado" (e, depois, desempregado fica...).
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Perdem com o desemprego os grandes senhores da finança e os cavalheiros da indústria?, ou ganham com o desemprego que fomentam?
Perdem com o desemprego os quadros ao serviço do capital seja qual for a forma (ou a máscara)que este tome?
Ao menos... um acrescento do tipo nós à terrível palavra todos! Que se tornou uma arma ideológica para que muitos de nós não tomemos consciência que há classes sociais e interesses antagónicos. Todos é nada e pode ser tudo.
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Com o desemprego, perde (e sofre) quem vive do seu trabalho e ganha quem explora os trabalhadores!
8 comentários:
Excelente reflexão, que não o é, na verdade é uma constação e uma conclusão ( e consequência) lógica. Mas há quem não assimile (ou não queira fazê-lo) tal evidência, e há quem queira mascarar a verdade com o seu abarcamento fictício na crise, no desemprego, "no mesmo barco"...
A análise, a meu ver, está absolutamente correcta. Aliás, trata-se de uma problemática relativamente semelhante à emigração / imigração na medida em que, também através do recurso à mão-de-obra dos países menos desenvolvidos - ou subdesenvolvidos - procura promover a baixa de salários e a precaridade nos países de acolhimento sem com isso beneficiar os países "exportadores" de mão-de-obra ou seja, de onde desesperadamente saiem seres humanos à procura de algumas condições de sobrevivência.
Do ponto de vista ideológico, a constatação de que para o Bloco de Esquerda, "com o desemprego todos perdemos" até é algo curioso pois, tratando-se de uma organização onde predomina uma tendência trotskysta, se tenham esquecido de que foi precisamente Ernest Mandel um dos economistas da área marxista que definiu precisamente o desemprego como um "exército de reserva"...
BE ou PS-2?
O Que mais me irrita, é ver esta gente bem falante e perfumada(be)a conseguir iludir muita gente que na realidade trabalha.
É muito dificil a nossa luta,mas não vai ser por isso que baixaremos os braços!
Abraço
Enquanto quisermos basear o desenvolvimento? não na nossa produção,na nossa capacidade e nos nossos recursos,haverá sempre esta tragédia.
Provocada,é claro,por quem lucra com ela.
Não ouvimos,a cada passo,citar uma alimária que afirma -"não há desenvolvimento com menos de 10% de desempregados.".
Não haverá desenvolvimento para os exploradores.
E quem se diz neutral está com eles,exploradores e,ao serviço deles.
Cordial abraço,
mário
Muito bem! É bom saber topar estes slogans "quase perfeitos"...
Abraço.
Excelente post Camarada!
Já pertenci ao "exército de desempregados" quando fiz parte de um despedimento colectivo, na Quimonda, por me recusar a fazer um horário de 12 horas, completamente desumano.
Foi por causa dessa luta que entrei no movimento sindical e passei a "Tomar Partido".
Em boa hora o fiz!
Um grande abraço, desde Vila do Conde.
Jorge Gomes
Perdemos todos os que trabalhamos.
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