domingo, agosto 29, 2010

Tomar partido! (necessidades e troca trabalho-capital)

As necessidades humanas não se podem desligar do processo histórico. Pelo contrário, e a economia política marxista tem de ser clara: as formas subjectivas que as necessidades humanas revestem neste ou naquele processo social, são determinadas pelas condições objectivas da sua existência. As condições objectivas, que determinam a formação das necessidades, estão ligadas à evolução do ser humano e da sociedade, no plano individual – o que implica uma gama de bens materiais e culturais, históricos –, e ao desenvolvimento da produção social que engendra, sem cessar, novos produtos e novas/outras necessidades.
E se terminei o anterior tomar partido! com a promessa (?!…) de vir a citar Marx, aí vai:
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«As próprias necessidades naturais [naturlichen], como alimentação, vestuário, aquecimento, habitação, etc. são diversas segundo as peculiaridades climáticas e outras peculiaridades naturais de um país.
Por outro lado, o âmbito d{ess}as chamadas necessidades imprescindíveis, assim como a maneira da sua satisfação, são eles mesmos um produto histórico e dependem, portanto, em grande parte do estádio de civilização de um país (…) Por oposição às outras mercadorias, a determinação de valor da força de trabalho contém, pois, um elemento histórico e moral.»*
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Insistindo (no contexto destes textos): até em razão das necessidades resultantes da “primeira natureza” (animal) do ser humano a sua força de trabalho, ao contrário de todas as outras mercadorias, tem valores diferentes de lugar para lugar. Muito mais ainda diferem no que respeita às necessidades de “segunda natureza” (social), que são, por definição e processo, necessidades históricas, culturais, também de lugar para lugar, e ainda dentro do mesmo país, por pequeno que ele seja.
Mas citar Marx é um perigo! Logo outras citações se impõem (e tantas ficarão por fazer!), até porque ele se repete… nunca se repetindo, mas reforçando e completando.
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«O valor da força de trabalho, tal como o de qualquer outra mercadoria, é determinado pelo tempo de trabalho necessário para a produção – portanto, também reprodução - desse artigo específico. Enquanto valor (…) O tempo de trabalho necessário para a produção da força de trabalho resolve-se, pois, no tempo de trabalho necessário para a produção desses meios de vida ou: o valor da força de trabalho é o valor dos meios de vida necessários para a conservação do seu possuidor.»**
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Assim se pode chegar à questão crucial da “relação de troca entre o trabalho e o capital”, que tem dois momentos: um, em que o trabalhador troca a sua mercadoria, o valor de uso da força de trabalho, por uma certa quantidade de valores de troca – por uma certa quantidade de capital-dinheiro –, com o possuidor de capital-dinheiro; outro, em que este recebe, em troca, a mercadoria força de trabalho para conservar e valorizar o seu capital, primeiro sob a forma mercadoria que, depois, pretende metamorfosear na forma (mais) capital-dinheiro.
São dois momentos! Inseparáveis mas separados, embora
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“O capitalista - e ainda mais o seu tradutor teórico, o economista político -, porém, só dificilmente pode desistir da imaginação de que o dinheiro pago ao operário continua a ser dinheiro do capitalista." ***.


(isto dá pano para tantas mangas…)
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*- O Capital, edições avante!, Livro primeiro, Tomo I, p. 198 – os parênteses [] são do tradutor (Barata-Moura), os {} são meus.
**- ibidem, p. 197/8
***- idem, tomo V, p. 477

1 comentário:

miguel disse...

o que importa é que vás continuando a dar-nos o pano para as mangas.