Do livro com que fecho o anterior apontamento - de uma autora húngara, Agnes Heller, de 1974 - por mim comprado em 1981 e lido com grande atenção e intenção, retirei, vejo agora, muitas notas. Não que o livro não me tivesse suscitado algumas dúvidas, particularmente levantadas por aquela outra (e de outros) intenção de cavar uma d ivisão entre o "jovem Marx" e o "Marx adulto" (de O Capital), mas uma das grandes utilidades de alguns livros é a de nos provocarem (por vezes, até por provocação) reflexões mais aprofundadas. Duas citações, para poupar o muito que, por palavras "inventadas" por mim poderia para aqui trazer:
- «Para Marx, as antinomias específcas do capitalismo, que derivam da produção de mercadorias, são as que existem entre liberdade e necessidade, necessidade e oportunidade, teleologia e causalidade; destas decorre a especial antinomia entre a riqueza da sociedade e o empobrecimento social.» (pg. 81)
- «O mundo da troca de mercadorias é o mundo da universalidade do egoísmo: o do interesse pessoal. Os sujeitos da troca são indiferentes entre si; estão em relação uns com os outros apenas para a realização dos seus interesses pessoais: no que respeita à "necessidade do outro (e dos outros)" - que é, como sabemos, o que Marx considerou a mais elevada e "mais humana" necessidade - a redução é total.» (pg. 64
Num outro livro - editado em 1974 pela Prelo, de autor soviético, Molatchov - encontrei, logo na introdução, esta observação que me parece pertinente:
- «A economia socialista destina-se a satisfazer as diversas necessidades do homem, do trabalhador. É por esta razão que o cientista, que estuda as suas leis de desenvolvimento, deve corresponder a elevadas exigências.» (pg. 5)
- «À primeira vista, concretizar a necessidade de um acto ou acção parece ser um assunto subjectivo. É precisamente desta forma que a economia política burguesa procura interpretar as necessidades. No seu estudo, substitui a análise económica e social das condições de vida material (no que se refere à formação das necessidades humanas) pela psicologia. Deste ponto de vista, as necessidades encontram-se completamente isoladas do processo de reprodução e intervém no indivíduo como um sentimento negativo que ele procura, ao mesmo tempo, eliminar. (...) Sempre que analisam a natureza das necessidades humanas, os economistas burgueses têm, geralmente, tendência para tornear os problemas sociais agudos do capitalismo e dedicar-se, antes, a especulações mesquinhas sobre os sentimentos do homem.» (pg. 9)
(sobre isto, continuaremos... e com uma citação de Marx)
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