segunda-feira, agosto 16, 2010

Tomar partido! (a economia política marxista)

Na preparação da tarefa de participar na “apresentação” de um livro (Compreender a economia-introdução à análise económica marxista do capitalismo contemporâneo) na Festa do avante! levou-me a, de novo, recorrer aos “clássicos” e a um que, não o sendo, o considero como tal, ou que o é para mim – Trabalho colectivo e trabalho produtivo na evolução do pensamento marxista – e, desta vez, com particular cuidado porque me parece necessário pôr algumas coisas a claro.
Desde logo, a base teórica que nos escora na tomada de partido tem uma componente económica que é da maior importância e há que sublinhar a existência de características gerais da economia política marxista que têm de ser consideradas. E estudadas, estudadas sempre!
Não para as tomar como dogmas, mas para que, no confronto com a realidade, para a compreender (a realidade total e a económica) e para nela intervir, desde o mais humilde gesto (com a relevância de ser insubstituível), com instrumentos ideológicos coerentes e consistentes. Para que essa intervenção, por dotada de base teórica – coerente e consistente, insisto – possa ter força de esclarecimento e possa contribuir para a tomada de consciência contra toda a tremenda campanha de demagogia e desinformação, esta dotada de meios desmesurados e de falta de pudor não menor.
Ora, i) a economia política marxista faz parte de um conjunto, não é um compartimento estanque, ii) o pensamento que a enforma é historico, pode dizer-se que o "contemporâneo" não existe: ainda não é o que já não foi, iii) a economia política marxista tem uma concepção macroeconómica, não dissociada das outras áreas humanas (no que coincide com a primeira característica), o seu objecto próprio é a economia no seu conjunto, os seus agentes vivos e criadores são evidentemente os homens, mas não como indivíduos, ilhas, mas pertencendo a grupos económicos macro-sociais, a classes, iv) a análise económica, na economia política marxista, deve ser conduzida do ponto de vista da produção porque é na produção que o homem se confronta e mede com a natureza, inclusive a sua, apoiando-se nas técnicas, em tudo o que antes se dotou como instrumentos, é na produção que se trabalha e cria, é na produção que a ciência se introduz no processo económico, isto sem de forma alguma menosprezar ou desconsiderar o papel das outras fases do processo económico total a montante e a jusante da produção, para que ela decisivamente contribuiu antes, e por último mas que se deixará para outras considerações, pela sua carga teórica-ideológica v) a concepção da economia política marxista é dualista, o que se põe em evidência, em O Capital, que tudo começa pela mercadoria e pela dualidade da unidade dialéctica dos valor de uso e valor de troca, e todo o “edifício” se constrói sobtre pólos contraditórios.
Deter-me-ia na quarta característica (iv), a do privilégio da produção, do aproveitamento dos recursos visando, pelo trabalho, a satisfação das necessidades, o que parece particularmente relevante quando, no tempo, se confunde economia com dinheiro que nada produz, e, no espaço, se esquece sistematicamente que, neste País, por exemplo, há recursos escandalosamente inaproveitados, há um mar que faz do Portugal o maior país europeu da União Europeia, e tudo se quer transformar em negócio financeiro-especulativo para acumulação de capital-dinheiro.

(continuarei, talvez…)

5 comentários:

Ricardo disse...

Muito bem!!! E como não devo poder estar presente na apresentação do livro aguardo com muito interesse a continuação... Acho que está a ir pelo caminho que melhor serve o partido que tomamos...

Justine disse...

Um texto para ler e reler e dar muito trabalho a dissecar! Como todas as lições:))

José Rodrigues disse...

No livro do Sr.Jaques Gouverneur que me serve alimento à fome de perceber o mundo que me/nos rodeia e esmaga,há uma citação na Pág.203 de M.Beaud de 1980 que me impressionou pela clareza e actualidade aos olhos de um leigo como eu.Diz:"Em alguns decénios,a esfera capitalista-guiada pelo lucro e dominada pelo dinheiro-estendeu-se a todas as actividades da vida:as necessidades mais fundamentais,até aqui providas gratuitamente graças às bondades da natureza (a água que se bebe,o ar que se respira)assim como as necessidades mais sofisticadas(...)mas também as necessidades que até agora ficavam a cargo da família e da pequena comunidade(...)A esfera capitalista tudo penetrou,transformou,exacerbou:o desporto,a arte,o erotismo,a pornografia,a droga.Os atletas são transformados em homens sanduíche obrigados a ostentar ou a bandeira da empresa que os "patrocina"(...)A informação ,o espiritual,o ideal,a angústia,a morte:tudo é matéria de venda e lucro(...)Eis-nos em menos de uma geração,apanhados nas redes de uma mercadorização generalizada,dominando praticamente todos os aspectos da vida social".A leitura do livro vai-se fazendo com dificuldades inerentes à qualidade de leigo,mas com bastante proveito para ajudar à nossa luta que continua...

Abraço

Graciete Rietsch disse...

Esta tua última lição foi, para mim, bastante "lucrativa" em especial o último parágrafo. Dizem que somos um país pobre, mas o nosso mar, o nosso sub-solo, a nossa floresta que andam a queimar, a nossa fruta, a nossa cortiça. as nossas oliveiras e até as nossas "cabeças" que têm que emigrar por falta de meios para evoluir?E isto é o que me lembro de momento.
O que fizeram a tanta riqueza?
Vou estar atenta na Festa para não falhar à apresentação do livro que referes.

Um beijo.

Maria disse...

Continuarás. Porque nós gostamos e, mais do que isso, PRECISAMOS!!!!!!

Um beijo.