sexta-feira, julho 01, 2011

O programa de governo - 3 (a vigarice da falsa derrapagem!)

É verdadeiramente inacreditável.
Ontem, o INE publicou números, uma publicação sobre as "Contas Nacionais Trimestrais por Sector Institucional" relativa ao 1º trimestre de 2011 e, hoje, o governo, na apresentação do seu programa, aproveitou os números publicados para justificar a medida-extra (melhor se diria medida-bomba) de um imposto em IRS da dimensão de metade de salário de todos os contribuinte,s exceptuando os que ganhem menos que o salário mínimo. E fê-lo simulando surpresa, pelo que foi lançado como uma derrapagem orçamental, um burado enorme, que punha em risco o compromisso de défice orçamental de 5,9%. Ao nível de grande escândalo, mobilizando "grandes" dos partidos do governo para protagonizarem a campanha, ao lado do 1º ministro e seus parceiros.
Ora isto tem um nome: vigarice!
Não houve derrapagem nenhuma! Em relação ao trimestre anterior, houve até uma melhoria de 0,7 pontos percentuais no financiamento externo, e não um agravamento, um aumento do buraco, uma derrapagem. Melhoria que bem se explica pela má razão das medidas anti-sociais em curso. E essa "melhoria", em vez de fazer antever mais dificuldades para chegar ao 4º trimestre com os tais 5,9% do compromisso entre troikas, faz prever, pelo contrário, que se estava no bom caminho (salvo seja!). Aliás, os números publicados em 29 de Junho eram, sem qualquer dúvida, conhecidos pela troika de cá e pela troika de lá, muito antes de ontem, pelo que a surpresa, o escândalo, a campanha são mera encenação.
Invocando verdade e transparência, uma escandalosa aldrabice.
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Reproduz-se o início da publicação:

«1º Trimestre de 2011
Contas Nacionais Trimestrais
por Sector Institucional

No ano acabado no 1º trimestre de 2011, a necessidade de financiamento da economia diminuiu, atingindo 7,7% do PIB comparativamente com 8,4% verificado no ano acabado no trimestre anterior. Esta variação esteve associada à diminuição da necessidade de financiamento das Administrações Públicas (de 9,2% no 4º trimestre de 2010 para 8,7% do PIB no 1º trimestre de 2011) e, em menor grau, ao aumento da capacidade de financiamento das Famílias (de 3,9% para 4,1% do PIB) (...)».

4 comentários:

samuel disse...

Vem aí mais uma época de farsas que fariam corar o Gil Vicente...

Abraço.

Graciete Rietsch disse...

Pura vigarice. Todos os dias mais uma para ir habituando os portugueses a sofrerem resignados.
E os portugueses sofrem!!!!!

Um beijo.

Ricardo O. disse...

Uma vigarice que tem como objectivo juntar o (deles) útil ao (deles) agrável.
O que quero dizer com isto?
Com esta encenação conseguiram fragilizar ainda mais a força de trabalho e, não menos importante, aprofundar o sentimento de conformação que contribua para a desmobilização social contra a parte mais importante (para eles) do programa: o golpe de estado constitucional que pretende fundar um novo regime que há muito vem sendo construído (em co-autoria do PS) sustentado no pensmaento de Hayek, Friedman, Buchanan e outros dos mais reaccionários ideólogos do capitalismo e do fim da história e gurus do imperialismo na segunda metade do Século XX.

cristal disse...

A maioria dos portugueses já estão tão habituados e tão conformados com a vigarice que nem se dão ao trabalho de tentar verificar se o que ouvem é verdade ou mera farsa. As mentiras descaradas sobre as contas públicas e sobre os funcionários públicos já se tornaram um credo para a gente crédula e coitadinha que parece gostar de o ser. Obrigada por desmascarares tão bem as farsas. Oxalá sejas lido (e entendido) por pelo menos alguma da gente que precisa de começar a estar menos crédula...