quarta-feira, novembro 30, 2011

Dias irados

Em tempos, fazia por aqui uns "poemas cucos". Hoje, neste dia de hoje, veio-me à memória - como tantas vezes me acontece - o "Dies Irae" do Miguel Torga (é dos que me acompanham...).
Mas não fiz dele um "poema cuco", hoje virei o poema do avesso. Que me seja perdoado...

DIAS IRADOS

Estes espantalhos levantam
as mãos sujas sobre a nossa hora.
Apetece espantá-los, e alguns espantam:
são os que lutam, os que não vão embora.
//
Um espantalho assusta
todo o futuro com o dia de hoje
Apetece gritar, e há gente que grita.
Mandam emigrar, não quem não foge.
//
Um espantalho insiste
contra os motins qu'a alma alevante
Apetece morrer, mas alguém vive.
Há quem desista, mas também quem cante.
//
Oh! Bendito o tempo em que vivemos,
apesar destas grades enfeitadas
pode ver-se a vida que teremos…
se vencermos angústias paradas!

3 comentários:

GR disse...

Só tu para dares a interpretação real dos dias de hoje.
Muito dá que pensar…

Gd BJ,

GR

Olinda disse...

Nao sei o que sao poemas cucos,mas o "Dies Irae",na tua versao,está(nao digo porreiro,porque me lembra o tratado)óptimo.

Justine disse...

Muito bem cucado:))))