Resistindo a dar umas reguadas nuns "meninos" que, carregados de cursos, mestrados e doutoramentos tirados "lá fora" (os "Erasnos de Bolonha"...), tropeçam no conceito de produtividade a cada curva da sua forçada argumentação, recorro a um velho dicionário(*), em que me apoio quando quero ser comedido e rigoroso (sem a ele me cingir).
É verdade que este dicionário é, conceptualmente, marxista... mas em que conceitos se baseiam esses "meninos" que nem sabem o que é uma fracção?, que usam produtividade como uma bengala para justificar baixos salários, dividindo (mal) produto em medida monetária por custos salariais?
Conceptualmente, são zeros no numerador, isto é, zeros!, ou são zeros no denominador, isto é, infinitamente ignorantes.
Ora, produtividade é a capacidade de um dado trabalho, dotado de uma intensidade definida, fornecer, num tempo determinado, uma certa quantidade de valores de uso.
Como traduzi-lo, estatisticamente? Através da relação entre uma produção em quantidades físicas (não em preços) e o tempo de trabalho social necessário para a produzir.
Contentam-se esses "meninos" em medir a relação entre a produção, medida monetariamente, o que desde logo a distorce, e o que chamam o "factor trabalho", enquanto "custos salariais", sem nada se preocuparem com a natureza rigirosa do conceito, confundindo-o com intensidade do trabalho (mais tempo de trabalho, menores folgas, agravamento de cadências, maior fadiga). Essa confusão, prática e teórica, é prejudicial à ciência económica. Até porque, se a intensidade de trabalho é uma categoria económica (e social) não destituida de importância, a produtividade - tal como a entendemos - é um conceito fundamental do materialismo histórico. .
A produtividade é muito mais um processo que um estado. O aumento da produtividade é inseparável de uma mudança nos processos produtivos que leve a diminuir o tempo socialmente necessário para a unidade de produto produzida. E esse aumento não depende do salário. Marx (que refere o conceito de produtividade em dezenas de páginas de O Capital) citou Stuart Mill "os salários não têm qualquer poder produtivo, são o preço de um poder produtivo. Os salários, a par do próprio trabalho, não contribuem para a produção de mercadorias mais que o preço das ferramentas (...) contribui . Se se pudesse ter trabalho sem compra poderia dispensar-se os salários". e Marx comenta "Mas se os operários pudessem viver do ar eles também por nenhum preço seriam comprados. O seu não-custar é, portanto, um limite em sentido matemático sempre inalcançável, embora sempre aproximável. A tendência constante do capital é reduzi-lo a este ponto niilista." (**).
Por último, uma nota: no sentido científico do termo, a produtividade não pode ser modificada sem progresso técnico. Aliás, pode dizer-se que a produtividade do trabalho mede o progresso técnico porque são menos horas de trabalho vivo a produzir mais valores de uso. O que se deveria traduzir em mais tempo livre, mas que, em capitalismo se traduz em mais desemprego!
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(*) - dictionnaire économique et social - Centre d'Études et des Recherches Marxistes, Editions Sociales, 1975
(**) - O Capital, Livro Primeiro, Tomo III, edições avante!, p. 683 (e com grande dificuldade não fico aqui, lendo e transcrevendo...)
2 comentários:
O que eu tenho aprendido com o teu blog. Obrigada.
Gostei dos"Erasnos de Bolonha".
Um beijo.
Esses meninos também sabem que produtividade nao tem nada a ver com salários,mas tem que justificar a intençao de querer nivelar muito por baixo os salarios dos portugueses.
Mais uma liçao de economia.Obrigada.
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