sexta-feira, novembro 18, 2011

in-certos e ex-citação

Recebi, do Tribunal Constitucional, as provas tipográficas do livro, que se está preparando, das sessões de comemoração dos 35 anos da Constituição Portuguesa, de Abril deste ano, em que participei. Foi (quase) uma surpresa, e parece-me aceitável o que então disse. Da intervenção (de comentário à participação do Governador d o Banco de Portugal) retiro este pedaço:

"(...)Em resumo, e para terminar o meu contributo para esta revisita à Constituição da República Portuguesa, tão amarga mas, também, tão estimulante, Portugal, como ao longo da nossa História multi‑secular, não financia a sua economia, abre caminhos para que outros a venham financiar em proveito deles, tornando‑nos sempre mais periféricos do centro, crescentemente assimétricos na interdependência.

Talvez Oliveira Martins tivesse razão ao estigmatizar‑nos. Como povo. Cito, de/em Hélder Macedo (Nós, — uma leitura de Cesário Verde):
«O discurso histórico de Oliveira Martins (…) voltou‑se para as explicações raciais e geopolíticas do triunfo das nações industriais burguesas do Norte para explicar a contrastante fraqueza de Portugal. Aceitando essas dúbias teorias como cientificamente correctas, procurou explicar a “inferioridade” de Portugal pela aplicação à análise da sua História dos mesmos modelos deterministas que “demonstravam” a superioridade intrínseca das triunfantes nações do Norte.  A sua investigação do “mecanismo interior” que tornara o Português poderoso no passado no Português enfraquecido do seu tempo (de Oliveira Martins e de hoje) parte, assim, da premissa tautológica de que a causa desse processo de enfraquecimento residia na inferioridade inata dos Portugueses.»

Mas um povo não é, ao longo de longos períodos históricos, homogéneo e em longos períodos históricos — de séculos — viverá antagonismos de rotura.
Por isso, decerto Oliveira Martins não teria razão quando sobre nós, como povo empreendedor e trabalhador, reflectia e escrevia.
Mas já a teria relativamente a parte deste povo, como classe que está nos caboucos do capitalismo e que, com os seus servidores, na sua fragilidade (ou até ausência), enquanto classe empresarial, produtiva e acumuladora de riqueza para o colectivo, se compraz na espuma da multiplicação fácil (e também perigosa) dos benefícios de dispor de ouro, de ser dona de cabedais e de capitais tomados como seus, e de poder ter (ou ser aliciada a recorrer a) crédito, mais especulando que explorando, por isso deixando‑se explorar, e facilitando e participando na exploração de coevos.

Não terá de ser sempre assim. Não será fatalidade. (...)"

2 comentários:

Graciete Rietsch disse...

A classe capitalista vai refinando com o tempo! Até um dia!

Um beijo.

samuel disse...

O "fado" que se candidata a património da Humanidade, de facto... não é este!

Abraço.