domingo, junho 10, 2012

Viagens - 1

Viagem através
de uma tipografia clandestina

Gritar Liberdade!, é fácil
quando existe liberdade.
É fácil defender a liberdade de expressão
num off-set sofisticado
com ar condicionado, telex, telefones,
salário, hora para almoço, avales bancários,
protecção de leis e do governo
amplas janelas para o Sol, quebrado
por estores de alumínio, docemente.

Assim
ser pela liberdade de expressão
é cómodo e é fácil.

Mas do que eu estou a falar é doutra coisa.
Se entendeste, o poema está cumprido.
Se não, o poema espera
com a paciência tradicional de todos os poemas.

Mário Castrim,
Viagens

(«Esta edição de poemas de Mário Castrim
é uma iniciativa dos militantes do PCP
da Célula dos Trabalhadores Gráficos
da Renascença Gráfica/"Diário de Lisboa",
para a Festa do Avante!/77.
Na sua execução colaboraram, amigavelmente,
trabalhadores em partido
simpatizantes do PCP.»

- Na capa: Pormenor de um dos
desenhos da prisão,
de Álvaro Cunhal)




5 comentários:

Anónimo disse...

Para mim o poema está cumprido.
De facto, é mais fácil gritar liberdade quando há liberdade de expressão.

Gostava de comprar este livro. Deve ir para a banca da Soeiro, não achas?

Campaniça

anamar disse...

Bom relembrar Castrim.
Abracinho, Sérgio.
Ana

trepadeira disse...

No tempo das magníficas crónicas do Castrim não era nada fácil.

Um abraço,
mário

samuel disse...

Mesmo assim... só é fácil para esses poucos.

Abraço.

Graciete Rietsch disse...

Um abraço saudoso para o também eterno Mário Castrim, que soube erguer-se acima das opressões.
O poema, hoje, também se aplica.

Um beijo.