Carta Aberta
sobre o risco de extinção
da produção de Leite em Portugal
O sector Leiteiro Nacional, com os seus actuais 7 mil produtores de leite, dos quais 4 mil no continente, (outrora 80 mil) é entre os sectores agrícolas nacionais um dos que melhor se adapta às novas exigências da sociedade. Hoje temos vacas em estabulação semi-livre, com zonas de recreio e descanso almofadadas, zonas de sombra e limpeza automáticas dos animais, ordenhas robotizadas onde os animais são massajados e zonas de alimentação com comida 24h por dia sempre disponível, devidamente formulada por nutricionistas.
São todas estas comodidades das nossas vacas que neste preciso momento estão em risco, devido a dois factores completamente alheios ao produtor:
- O aumento do custo alimentar das nossas vacas tem sido demolidor. Actualmente, a conjugação entre vários acontecimentos climatéricos nos principais “celeiros” do planeta com a especulação bolsista aliada ao aumento do preço das energias, têm como consequência um custo alimentar por exploração que atinge 70 a 80% da receita total dessa mesma exploração. E agora a questão é a seguinte: “Será que com apenas 20% da receita se consegue manter todas aquelas comodidades referidas para as nossa vacas, além de todos os outros custos fixos?” Certamente que não!
- O segundo factor é o preço pago ao produtor por cada litro de leite. As descidas de preço consecutivas desde o início do ano, acrescidas de novas promessas de descida já para Setembro, em completo contraciclo com os aumentos dos custos de produção são difíceis de entender e suportar pela produção, pois representam uma quebra de receita na ordem dos 10 a 15%.
Por tudo isto, deixamos aqui o nosso grito de revolta. Porque não podemos continuar a dar todas as boas comodidades às nossas vacas, apelamos a todos os elos da cadeia (do prado ao prato) que sejam solidários com a produção:
- À Indústria recordamos que o seu futuro dependerá do abastecimento regular de leite em quantidade e qualidade que só uma produção de proximidade pode assegurar. Ao sector cooperativo, lembramos os princípios e valores cooperativos, como por exemplo, a equidade, a partilha e a solidariedade entre os seus membros cooperantes;
- À Distribuição desafiamos que seja consequente com o que apregoa nas suas campanhas publicitárias. Só é possível salvaguardar a produção nacional de uma forma sustentada pagando pelos produtos um preço justo, superior aos custos de produção;
- Ao Estado não pedimos subsídios, mas sim ferramentas legislativas que ajudem a produção a ter voz activa na discussão do preço por litro de leite pago ao produtor, tendo em conta a evolução dos custos de produção além do mercado de produtos lácteos. As conclusões do relatório da PARCA, Plataforma de Acompanhamento das Relações na Cadeia Agro-Alimentar, vieram confirmar uma maior necessidade do poder negocial da Produção, que neste momento não consegue repercutir os aumentos dos custos de produção no valor de venda dos seus produtos; Pedimos não apenas acção do Governo mas também atenção e iniciativas dos vários órgãos de soberania a nível nacional, regional e local e de todos os partidos políticos.
- Aos cidadãos, em particular no papel de consumidores, reafirmarmos não querer aumentar a despesa mensal com os produtos lácteos, no entanto não podemos deixar de chamar a atenção para as nossas dificuldades que poderão ser atenuadas se na hora de escolher o produto na prateleira, preferirem e exigirem produtos com a marca PT (Nacionais).
A todos aqueles que de uma forma directa ou indirecta lidam com os produtores de leite deste país deixamos este apelo:
- Ajudem-nos a sobreviver a esta tempestade que todos os dias dizima produtores. Acreditamos que depois da tempestade possa vir a bonança, mas para resistir no presente precisamos da solidariedade de todos sem excepção, a bem da soberania leiteira nacional, que está em vias de colapsar. Sim à partilha de esforços e valores; Não à asfixia da produção!
Póvoa de Varzim, 24 de Agosto de 2012
Associação dos Produtores de Leite de Portugal
Tinha recebido, há dias, esta carta aberta.
Curiosamente, ao entrar em Fátima, para a Rodoviária,
à minha frente uma cisterna de leite... da Galiza!
Decidi publicar a Carta Aberta.
2 comentários:
E decidiste muito bem, Camarada!
Na "fileira do leite" está a acontecer o mesmo que aconteceu com a "fileira do têxtil".
E já em 2015 temos o fim das cotas leiteiras na UE (tal como aconteceu em 2005 com o acordo Microfibras do têxtil).
Os nossos governantes estão, paulatinamente, a destruir este País e o seu sector produtivo.
Mas a luta continua! Necessáriamente!
Um abraço desde Vila do Conde,
Jorge
E, há dias, um funcionário do Pingo Doce(bem amargo) disse que o leite de marca branca deles era francês!!!!!!!
E assim a nossa economia , sem produção e com tâo baixos salários, se vai desmoronando.
Até quando poderemos aguentar isto?
Um beijo.
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