«19 de Agosto de 2012
Hillary,
missionária em África
Manlio Dinucci
(Il Manifesto)
Hillary Clinton visitou nove países africanos – Senegal, Uganda, Sudão do Sul, Quênia,
Malawi, África do Sul, Nigéria, Gana, Benin – bendizendo as plateias com os seus
"God bless you" e jurando que o único objetivo de Washington na África é
"reforçar as instituições democráticas, promover o crescimento econômico, fazer
avançar a paz e a segurança".
A secretária de Estado Hillary Clinton foi,
portanto, à África, em pleno mês de agosto, só para fazer boas obras. Ela foi
acompanhada, nesta sua "nobre missão", pelos executivos das maiores multinacionais
estado-unidenses. Negócios, sim, mas conduzidos por um princípio ético que a Sra.
Clinton enunciou assimem Dacar: "No século 21 é preciso que cesse o tempo em
que os estrangeiros vinham extrair a riqueza da África para si próprios, não
deixando nada ou muito pouco atrás de si".
Clinton, sabe-se..., é uma
apoiante convicta do comércio equitativo e solidário. Como aquele que é
praticado na Nigéria, cuja indústria petrolífera é dominada pelas companhias
estado-unidenses, que arrecadam para si a metade do petróleo bruto extraído, num
montante de mais de 30 mil milhões de dólares por ano. Para as multinacionais e para a
elite nigeriana no poder, uma fonte de riqueza colossal, de que não sobra quase
nada para a população. Segundo o Banco Mundial, mais da metade dos nigerianos
encontram-se abaixo do nível de pobreza e a esperança de vida média é de apenas
51 anos. A poluição petroleira, provocada pela Shell, devastou o delta do Níger:
para descontaminá-lo, segundo um relatório da ONU, seriam precisos pelo menos 25
anos e milhares de milhões de dólares.
A mesma coisa está em preparação no Sudão do
Sul onde, após a cisão do resto do país, apoiada pelos EUA, se concentram 75%
das reservas petrolíferas sudanesas, às quais se acrescentam matérias-primas
preciosas e vastas terras cultiváveis. A companhia texana Nile Trading and
Development, presidida pelo ex-embaixador estado-unidense E. Douglas,
apropriou-se, a troco de uma esmola de 25 mil dólares, de 400 mil hectares da melhor
terra com direito de explorar os recursos (inclusive florestais) durante 49
anos.
A apropriação das terras férteis na África, após expropriações das
populações, tornou-se um negócio financeiro lucrativo, gerido pelo Goldman Sachs
e o JP Morgan, sobre as quais especulam, com o seu dinheiro, até mesmo Harvard e
outras prestigiosas universidades estado-unidenses. Entretanto, a estratégia
econômica estado-unidense depara-se na África com um enorme obstáculo: a
China, que, em condições vantajosas para os países africanos, constrói portos e
aeroportos, estradas e ferrovias.
Para transpor este obstáculo,
Washington avança o seu trunfo: o Comando Africano (Africom), que "protege e
defende os interesses da segurança nacional dos Estados Unidos, reforçando as
capacidades de defesa dos Estados africanos". Por outras palavras, apoiando-se
sobre as elites militares (que o Pentágono tenta recrutar oferecendo-lhes
formação, armas e dólares) para trazer o maior número possível de países à
órbita de Washington.
Quando isso não acontece, o Africom "conduz
operações militares para proporcionar um ambiente de segurança adaptado ao bom
governo". Como a operação Odissey Dawn (Odisseia ao Amanhecer), lançada pelo
Africom em Março de 2011: o começo da guerra para derrubar o governo da Líbia (o
país africano com as maiores reservas de petróleo) e sufocar os organismos
financeiros da União Africana, nascidos sobretudo graças a investimentos líbios.
É assim que, agora, há na Líbia um "bom governo" às ordens de Washington...
retirado e adaptado
de o vermelho
1 comentário:
Hipocrisia, cinismo, mentira e maldade.
O sonho americano.
Um beijo.
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