quinta-feira, agosto 16, 2012

O estilo é o homem (ou vice-versa...)

Eu sei que, por vezes, o que escrevo não é facilmente legível. Enquanto teclo, as ideias sucedem-se e atropelam-se, vêm como cerejas e vá de as meter entre vírgulas, alongando períodos e parágrafos, abusando dos gerúndios. Depois, tenho uma permanente preocupação didáctica que se tem agravado com os tempos, o tempo que acumulei em mim, o tempo que me resta para transmitir o que quero. Além de que gosto muito de contar histórias (e estórias), e me dá um secreto prazer “arrumar” as palavras, às vezes brincar com elas. Sou já, e já não deixarei de o ser, um escritor frustrado.
Será o meu estilo. Que incomoda, ou até talvez irrite, alguns eventuais e apressados leitores. Que passam adiante, resmungando.
Mas esta questão de estilo(s), é uma questão muito antiga. Numa passagem da minha espécie de diário, está algo parecido com o acabado de confessar destoutra maneira:

Esforço-me por que o meu estilo sirva a comunicação, a reflexão com os outros.
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Esforço-me.
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Apesar de me comprazer com a forma, a comunicação, o som, o ritmo das palavras.
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Uma questão de estilo…
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Fui procurar e encontrei uma (falsa) polémica em que me meti, sobre os estilos e os homens no Diário de Lisboa, em 1968!
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Então, foi assim:
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À volta da tomada de posse de Caetano como substituto de Salazar, em 27 de Setembro de 1968, houve grande sobressalto, melhor: vários sobressaltos, a maioria sobre saltos de alegria, de ilusão de muita renovação na pouca continuidade.
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O que, confesso, me incomodou deveras, até porque alguns desses sobressaltos eram perto de mim, muito chegadinhos…
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(enquanto começava a participar, activamente, no aproveitamento das necessárias – mas poucas – renovações, como na legislação e exigidas pela OIT…)
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Acontece que o Suplemento literário do DL, que saia à 5ª, antecedendo a página de Economia, que saia à 6ª, a 3 de Outubro (o primeiro após tal tomada de posse, e recheado de excelente colaboração), não poupou encómios e grinaldas a “Sua Excelência, o Presidente do Conselho de Ministros”.
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Ele foi “admirável espírito de síntese e decidida objectividade”, ele foi “clareza de estilo”, ele foi “propósito de entendimento e firmeza de acção”, ele foi “Marcelo Caetano situou-nos, em discurso na hora europeia”, ele foi a consideração da “Cultura e a Expressão como meios de base para o progresso da Comunidade”!
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Nos meus então 30 e poucos anitos fiquei “pior que estragado” … e só me foi possível reagir na semana seguinte:
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E foi a irritada resposta, assinada, sem me esconder atrás da página de Economia, varrendo os encómios, recusando que houvesse uma "hora europeia", lembrando que, por muito que a Cultura e a Expressão sejam importantes (e são-no!), há que nunca esquecer a basezinha material, a condição económico-social!
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(tudo visado pela Comissão de Censura, que mudara o nome para aviso prévio mas mantinha o azul na cor do lápis e dos carimbos!)
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Ao meu estilo de então, que espero pouco ter alterado, por mal dos meus (e de outros) pecados…

5 comentários:

trepadeira disse...

Pois,esta escrita,que parecendo,por vezes,enredada,numa leitura atenta é bem clara,obriga a pensar,dá um prazer imenso nessas voltas e reviravoltas.
Excelente.

Um abraço,
mário

Sérgio Ribeiro disse...

Obrigado, Mário - se calhar, às vezes preciso de um empurrãozito como o teu para desenredar...

Grande abraço

cid simoes disse...

A verticalidade é um 'estilo'!

Graciete Rietsch disse...

Eu gosto muito do teu blog e entendo-o bem. Às vezes, por falta de conhecimentos e não pelo estilo enredado, tenho que reler os "post" com mais atenção, mas aprendo sempre bastante.

Um beijno.

Sérgio Ribeiro disse...

Obrigado, Cid, e obrigado, Graciete, as reflexões não eram para "me bater" a comentários como os vossos... mas "sabem bem"!

Abreijos