Conferência de Imprensa, Vasco Cardoso, membro da Comissão Política do Comité Central , Lisboa
O país não aguenta mais! - Propostas para libertar Portugal do desastre
Segunda 4 de Março
de 2013
1- O país não aguenta mais a política de exploração, empobrecimento e
desastre nacional.
Em pouco mais de um ano e meio foram destruídos mais de 400 mil postos de
trabalho e quase um milhão e meio de portugueses estão desempregados; a pobreza
atinge um quarto da população vítima do roubo nos salários e nas pensões, dos
cortes nos apoios sociais, do aumento dos preços e dos impostos; a distribuição
da riqueza entre capital e trabalho aproxima-se da do tempo do fascismo; há
milhares de crianças que chegam à escola com fome, centenas de milhares de
pessoas que estão a ficar sem acesso aos cuidados de saúde e muitas outras que
estão a sair do país em desespero. Entretanto, dezenas de milhares de empresas
encerraram em função da quebra vertiginosa do poder de compra, dos custos
crescentes dos factores de produção controlados pelos monopólios, mas também da
falta de crédito e de uma carga fiscal em contínuo agravamento; a recessão
económica está para durar e ameaça um valor acumulado (desde 2011) de quebra no
PIB próximo dos 8%; o investimento público caiu quase 50% nestes últimos três
anos e a procura interna ameaça recuar quase 20% nesse mesmo período; e a
própria dívida e défices públicos, que dizem querer combater, estão em
agravamento.
2- O país não aguenta mais o roubo aos rendimentos e o saque dos nossos
recursos para satisfazer os interesses dos grupos económicos nacionais e
estrangeiros.
À medida que uma imensa maioria vê as suas vidas profundamente destruídas,
prossegue o saque dos recursos nacionais. Até ao final do ano serão pagos mais
de 7 mil milhões de euros de juros da dívida pública a bancos portugueses,
alemães, ou norte-americanos; sucedem-se os apoios à banca com quase 6 mil
milhões de euros entregues nos últimos meses ao BCP, ao BPI e agora ao BANIF; o
poço sem fundo em que se transformou o BPN ameaça consumir mais de 7 mil milhões
de euros; estão previstos no Orçamento do Estado mais de 1300 milhões de euros
de benefícios fiscais no off-shore da Madeira; os ruinosos negócios das chamadas
Parcerias Público Privadas vão engolir mais de 500 milhões de euros até ao final
do ano; depois da EDP, da REN e da ANA prossegue o cortejo das privatizações com
destaque para o objectivo de entregar nos próximos tempos a gestão da água e dos
Correios ao grande capital;
3- O país não aguenta, nem quer mais este governo, nem esta política.
A situação a que o país chegou não começou com o vergonhoso acordo com a
troika que PS, PSD e CDS assinaram. Esse Pacto de Agressão foi e é a
continuidade da política de direita que há mais de três décadas e meia arrasa o
país. A política que promove o abandono do aparelho produtivo, que alastra a
precariedade e a desvalorização do trabalho, que favorece a especulação
financeira, a concentração e acumulação de capital, que corrói o país com a
corrupção, que aprofunda as assimetrias e desertifica territórios, que submete
Portugal à União Europeia e ao Euro, que afronta a Constituição da República.
Uma política que une estes três partidos – com o apoio do Presidente da
República - que se articularam e alternaram no poder ao longo de todos estes
anos com as consequências que estão à vista.
É urgente, pôr fim ao governo de Passos Coelho e Paulo Portas, mas é
igualmente necessário abrir caminho a uma política patriótica e de esquerda, que
liberte Portugal do desastre.
4- A verdade é esta: não há saída para os problemas com que o país está
confrontado sem uma ruptura com a política de direita.
Pedir mais tempo à troika, conciliar austeridade com crescimento, reforçar o
federalismo na União Europeia ou fazer uns retoques no Pacto de Agressão, como
alguns defendem, designadamente o PS, não é nenhuma mudança, mas uma forma de
perpetuar a política que nos conduziu ao desastre.
São hoje cada vez mais aqueles que reconhecem a seriedade e alcance de muitas
das propostas que o PCP apresenta ao povo português:
- A imediata renegociação da dívida pública – nos seus prazos, juros e
montantes. Um processo que envolve: o apuramento e a rejeição da componente
ilegítima da dívida; a diversificação das fontes de financiamento do Estado; a
anulação ou renegociação de contratos das chamadas Parcerias Público-Privadas; a
assumpção de um serviço da dívida compatível com as necessidades de crescimento
económico e criação de emprego. Uma proposta que ganha redobrada pertinência,
num momento em que se assinalam 60 anos sob o processo de renegociação da dívida
Alemã, com os resultados que se conhecem.
- O aumento dos salários, a começar pelo Salário Mínimo Nacional, das pensões
e dos apoios sociais. Elemento não só indispensável para combater injustiças na
distribuição no rendimento, mas também, como o principal factor de estímulo ao
mercado interno e ao crescimento económico.
- A defesa e dinamização da produção nacional – na agricultura, indústria e
pescas - por via de um programa de substituição de importações, do controlo dos
custos dos factores de produção, da facilitação do acesso ao crédito através da
CGD por parte das PME´s, do controlo de importações.
- O fim das privatizações e a recuperação da propriedade social dos sectores
básicos e estratégicos da economia a começar pela banca.
- A alteração radical da política fiscal, rompendo com o escandaloso
favorecimento da banca, da especulação financeira, dos lucros dos grupos
económicos nacionais e transnacionais e aliviando a carga fiscal sobre as massas
laboriosas. Uma política que promova o alargamento da base e o aumento da
fiscalização tributárias, a significativa redução dos benefícios fiscais para o
capital, a diminuição do IVA, o combate à fraude e evasão fiscais, o fim dos
paraísos fiscais (sistema mundial off-shore), a efectiva tributação dos ganhos
mobiliários, do património de luxo e da especulação bolsista.
- A valorização de todas as funções sociais do Estado como aquisição e
condição de desenvolvimento das condições de vida do Povo português.
Estabelecendo, de facto, o alargamento e a democratização do acesso ao Serviço
Nacional de Saúde e à Escola Pública, assim como a defesa do carácter público e
universal da segurança social.
- O efectivo cumprimento da Constituição da República e a intransigente
defesa da soberania nacional face às imposições e condicionalismos impostos
pelas grandes potências e pela União Europeia.
5- O PCP, correspondendo aos mais profundos anseios e necessidades dos
trabalhadores e do povo, consciente das suas responsabilidades e papel
insubstituível para uma alternativa política, reafirma estes elementos de uma
política alternativa como resposta à grave situação que afecta o País.
Assumindo-os como referências de uma política alternativa, patriótica e de
esquerda, o PCP disponibiliza-se para a debater e aprofundar com as forças,
sectores e personalidades democráticas, com vista à convergência numa
alternativa à política de direita.
Impõe-se pôr fim ao governo PSD/CDS e à política de direita. Impõe-se a
realização de eleições antecipadas.
Aquilo que a luta dos trabalhadores e do povo
português demonstrou ao longo dos últimos meses, em múltiplas e diversificadas
acções – incluindo as do passado dia 2 de Março – e que, seguramente, continuará
a demonstrar no futuro, designadamente nas acções de luta marcadas pela CGTP-IN
para todo o mês de Março, é que existem em Portugal forças, valores e energias,
bastantes e capazes de romper com o ciclo de governos da política de direita,
para dar corpo a uma solução política, a um governo patriótico e de esquerda ao
serviço dos trabalhadores, do povo e do País.
1 comentário:
O POVO tem muita força. Precisa é de tomar consciência dela. Mas, por outro lado, quem votará na AR as propostas do PCP?
É urgente uma nova política!!!
Um beijo.
Enviar um comentário