quarta-feira, agosto 19, 2009

Quem é que é burro ou ignorante?!

Ontem, num jornal de referência (esta é para rir…), um insigne professor e douto parlamentar (ou vice-versa) perorava à sua petulante maneira, que «É evidente que, para o PCP e o BE, o principal objectivo é derrotar o PS, mesmo à custa da entrega do poder à direita».
Há pouco, numa leitura aqui pelos arredores da aldeia, encontro um vizinho a escrever «À esquerda do PS, finge-se que não se entende o que representa a direita no poder e, irão teimar na política do "bota abaixo".» E há mais, muitos mais, a bater na mesma tecla ou a papaguear a mesma tese.
Ou seja, segundo eles quem, sendo de esquerda – i.é. não querendo “a direita no poder” ou “entregar o poder à direita” –, não votar PS está a entregar o “poder à direita”, ou a pôr “a direita no poder”.
Nos citados, isto só pode ser escrito por nos tomarem por burros, ou por quererem fazer os outros ignorantes, ou que, não o sendo, passem a sê-lo por os lerem e os levarem a sério. Sim, porque ignorância deles, ou deles burrice, não é. Não pode ser. É, a meu ver, bem pior.
Isto tem de ser denunciado. Nessa argumentação reflecte-se, além da falta de seriedade, a concepção de democracia (e de poder) que tudo reduz a votos e se recusa discutir políticas (nem pensar em tal). Para essa versão “simplex” da política, não há políticas de direita ou de esquerda embora haja partidos de direita (para o “poder” apenas contam CDS e PSD) e partidos de esquerda (PS mais, como figurantes, o PCP e o BE). É o que nos querem meter na cabecinha.
A argumentação das sumidades encarregadas de se esforçarem ao máximo para manter o PS no "poder" (aparente e ao serviço das políticas de direita de que tem sido intérprete), é a de que cada “voto de esquerda” que não seja no PS, não é “útil”, é até voto perdido… para a esquerda, e serve para entregar o “poder” à direita!
Ora, em simples e primário cálculo aritmético, qualquer voto na esquerda é útil para a esquerda, não se perde. Pode é obrigar o PS a rever as suas políticas fazendo-as ser menos de direita, pelo que é duplamente útil... para a esquerda.
Poderia (!) não ser assim se a nossa democracia representativa impusesse que o executivo fosse entregue ao partido mais votado, e daí resultasse que menos votos no PS por terem ido para a sua esquerda tornassem um dos partidos da direita o mais votado. Mas não é!
Num cenário de mais de 50% para o PS, PCP e BE, a maioria estaria, na sua própria argumentação, na esquerda. Só que… i) apenas se o número de votos no PS lhe der maioria absoluta, ele poderá formar governo sozinho para fazer as políticas que quiser[i], ii) se o PS só tiver maioria relativa, para que tenha o poder de formar governo, ou para governar, precisa, no mínimo, de discutir políticas, e terá de escolher entre políticas de esquerda e políticas de direita.
Claro que voltarei ao assunto.
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[i] - salvo seja... e sabe-se (e sofre-se!) o que têm sido.

2 comentários:

samuel disse...

Explicado assim é tão claro!...

Abraço.

Antonio Lains Galamba disse...

é caso para dizer que a «democracia» deles os faz de «esquerda» quando lhes dá jeito! é para asno ver!

abraço