domingo, dezembro 13, 2009

Excertos de cartas de um certo Carlos, alemão, a um tal Frederico, "inglês", e a outros amigos (e a alguns mais que isso...) - 7

O nosso Carlos também escreveu outras cartas. Como de amor, cheias de poemas para Jenny. Mas das mais conhecidas são duas cartas ao pai.


Uma delas, tinha ele 17 anos e estudava longe de casa, continha as reflexões de um jovem sobre a escolha de profissão.


Acabava assim:

«Se tivermos escolhido aquela posição na vida em que podemos acima de tudo trabalhar para a humanidade, nada nos poderá vergar porque os sacrifícios serão para benefício de todos; não sentiremos, por isso, qualquer alegria mesquinha, linmitada e egoísta, mas a nossa felicidade será a de milhões, as nossas acções ficarão silenciosas mas continuamentea trabalhar e sobre as nossas cinzas se espalharão as lágrimas quentes das pessoas nobres».
.
Dois anos mais tarde, Carlos, estudante de direito em Berlim, escreveu uma longa carta ao pai, em que faz o relato dos seus estudos e trabalhos (mas em que também fala dos "poemas dos três primeros volumes que enviei à Jenny"), diz que esteve doente e que
"durante a minha doença, fiquei a conhecer Hegel de trás para a frente e da frente para trás, assim como a maior parte dos seus discípulos."
e termina, em apressado post-scriptum
«Desculpa, querido pai, esta caligrafia ilegível e o estilo descuidado. São quase quatro da manhã. A vela já se gastou toda e doem-me os olhos.»

8 comentários:

Fel de cão disse...

Confesso que não conhecia as cartas que o "Carlos" escrevia ao pai. Conhecia a carta ao pai ( ao ler o "post" peguei nela) "A carta ao Pai" escrita em 1919 por Franz Kafka. Dá para perceber que as relações do "Carlos" com o pai não eram as mesmas do Franz com o pai. Estamos sempre a aprender...é só querer aprender!

Fel de cão disse...

Estava aqui a pensar " na puta da vida"...O meu pai chama-se Carlos Marques, na Salgueira de Cima (onde nasci) estudei e li muito, não com velas mas com candeeiro a petrólio...Se escrevesse ao meu pai ( que não sabe ler)..Escrevia a carta do "Carlos"

Fernando Samuel disse...

Assim se percebe por que é que este Carlos, mais o seu amigo Frederico, escreveram, uns 13 anos depois desta carta - tinham, então, 30 anos - aquela CARTA chamada Manifesto do Partido Comunista...

Um abraço.

Sérgio Ribeiro disse...

Meu Caro Fel de cão, só tenho para lhe dizer que estou... emocionado, comovido, sei lá...
Os dois comentários, as relações de ternura que estão subentendidas, o pai que não sabe ler, o nome... tudo.
Obrigado,amigo.

Sérgio Ribeiro disse...

PoiZé!
Grande abraço

Maria disse...

Bolas que quem ficou agora comovida fui eu... deve ser da época que se aproxima. Oxalá passe depressa.

Beijos

Anónimo disse...

O pai de Fel de Cão não sabia ler e o filho não sabe escrever. Presunção e água benta cada qual toma a que quer...

Fel de cão disse...

O meu pai não sabe ler nem escrever. Eu não sei escrever...São milhões as coisas que eu não sei fazer...estou sempre a aprender.Mas há coisas que eu não faço... Não "dar a cara" e esconder-me no anonimato ...e outras que agora não interessam.