Estas notas são cariocas, embora algumas não sejam do Rio de Janeiro cidade (maravilhosa) conquanto todas sejam do Estado do Rio de Janeiro; as de hoje, já escritas neste cantinho do Zambujal de todos os regressos, nasceram em Volta Redonda.
- Há 70 anos, ao começar a 2ª grande guerra, Volta Redonda não existia. Existia o rio que dava uma volta redonda naquela vastidão sem aglomerados populacionais, com laranjais (e tangerinais), umas fazendas de exploração agrícola e pouco mais. Ali foi escolhida a localização de uma siderurgia (a Companhia Siderúrgica Nacional) e assim nasceu uma cidade. Era o tempo de Getúlio Vargas, e tudo foi possível com o apoio financeiro e outro dos Estados Unidos (e, decerto, com a sua inspiração…). A cidade do aço e para que se fizesse aço no Brasil. Como se continua a fazer, e a que o actual dono, um conhecido por "senhor Benjamim", quer juntar cimento. Que seja seu, e que português é. Ou era, ou foi. Num negócio de milhões. De muitos zeros, em reais e em euros.
- Volta Redonda écidade simpática, com bairros de vivendas agradáveis, nenhumas vi ostensivas embora se identificassem diferenças segundo as construídas para operários e as construídas para administrativos, um muito acolhedor Hotel (de) Bela Vista (também para o alto forno e aciaria), uma "tasca do portuga". Um sítio para turismo e uma história para estudar e conhecer bem. (E o tempo?, e o tempo?). No entanto, esta nossa visita a Volta Redonda foi sobretudo de afecto, para oferta generosa de partilha de ambiente familiar, para dele sermos parte por dois dias e assim selarmos uma amizade que vem crescendo em cada contacto e entre-comunicação.
- Nestas décadas de Volta Redonda, por aqui passou a História. Que, como em todos os lugares, é uma história de lutas. Um monumento de Óscar Niemeyer homenageia 3 metalúrgicos vítimas da repressão a uma manifestação, monumento que, por sua vez, foi dinamitado mas resistiu. Tendo nascido empresa estatal, embora com um estatuto especial e o apoio de vultuosos capitais dos Estados Unidos, a sua privatização, em 1993, foi um enorme negócio e criou uma situação económica de que o Estado não se desobrigou mas de que alguns capitais privados muito beneficiaram. Hoje, e aos poucos, muitos dos privilégios sociais criados com a cidade, e conseguidos pelos metalúrgicos, têm sido retirados do usufruto colectivo pelo “senhor Benjamim”, o “dono da CSN”. Mais algo, e muito, a estudar, a aprender, não obstante alguns dos métodos praticados nesta siderúrgia nacional, sua criação e privatização, lembrem a “nossa” SN, criada privada com apoio substancial do Estado, nacionalizada depois de 1974 e, depois, “devolvida”, e destruída copmo estrutura produtiva, como quase toda a economia produtiva portuguesa.
3 comentários:
Até a escultura os incomodava...
É bom saber-vos aqui perto, de novo!
Beijos
Volta Redonda agradece a visita. Pena que estavam fechados, para o recesso das festas de fim de ano, "paraísos" como a Cervejaria Mistura Clássica. Fica para a próxima, que não deve demorar. Saudações Cariocas!
O Sr. Benjamin pode se afogar, asfixiado por tantos bens que a privatização (aqui chamada por Elio Gaspari, escritor e jornalista de O Globo, de Privataria) lhe entregou. Fosse mais inteligente e menos cego (por poder e dinheiro), cuidaria para que os moradores da cidade continuassem a sentir-se donos do espaço público além do complexo industrial - as áreas verdes e de lazer que "compensam" o ônus de uma indústria que (ainda) polui e incomoda. Quem mora em VR merece mais desse Senhor Benjamin, senhor do poder. Porque essas pessoas têm pela CSN uma espécie de amor incondicional desde sempre - tal qual se pôde ver pela declaração apaixonada de um senhor de 90 anos, que afirma, com fé inabalável,"depois de Deus, devo tudo à CSN". A "equilibrar forças", um Prefeito com shape de Papai Noel (ou Pai Natal) que faz oposição ao Senhor Benjamin, e que o incomoda sempre que necessário. E que também é adorado pelos eleitores...nem tanto quanto o são a cidade e a CSN, é claro!
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