Depois de uns dias de sol e do calor, de muita cor e enorme confiança, o regresso ao frio e à chuva, ao monótono cinzento e à pequenez desconfiada e descrente.
- Não, não se trata de um congénito e “patriótico” pessimismo. Já houve tempo em que o Chico (o Buarque, o da Holanda, o tão brasileiro e tão nosso) escreveu cartas a cantar um fado tropical com o desejo de que o Brasil fosse um enorme Portugal. Hoje, escrevo curtas notas (à minha medida) com a pena de que Portugal não seja um pequeno Brasil. Na confiança, na esperança, na vontade.
- Os noticiários de cá trazem-nos tristeza, mau tempo e pior humor, algumas acusações e justificações, umas sem fundamento convincente e outras mais “sacudir água do capote” e sempre com a culpa ou nos excessos do clima ou na crise vinda de fora.
- Do Rio trouxemos outro ambiente. Sei que se vivesse no Brasil não seria “lulista”, e muito menos o seria incondicionalmente, mas acompanho com grande interesse o caminho que Lula da Silva protagoniza, tento perceber, como observador atento, as alianças, algumas bem estranhas e só permitidas por uma estrutura institucional como aquela, tão diferente da nossa, apercebo-me, junto de quem as vive, de mudanças, e algumas não pequenas. Há, nesse caminho contraditório de escolhas e escolhos, percursos de consenso, e há consensos que impõem percursos num caminho.
- A passagem das “favelas” a “comunidades”, a questão da segurança, a recuperação da confianças das pessoas, do povão que está “na merda” (palavras de Lula), o falar de igual para igual com os “grandes do mundo” sem mudar de linguagem e, sobretudo, o crescimento de uma economia pletórica em recursos próprios, procurando sempre (?), tentando e tenteando, que, sem rupturas com o capitalismo, não sejam as forças do capital, de dentro ou de fora, a comandar e a sempre decidir, tudo isto dá alento.
- Por cá, ouvimos e lemos que o investimento diminuiu, que as remessas dos emigrantes tiveram uma queda de 10%, que os 10 “mais ricos” em 2009 ganharam na Bolsa 5 milmilhões de euros (500 milhões de euros per capita!), estando entre eles os que lideram o regateio do aumento de salário mínimo como se fosse um atentado à economia nacional subir 25 euros, pouco se aproximando dos 500 euros mensais que levariam a que fosse necessário um milhão de meses de salário mínimo para se ter o que, na média, “ganharam”, em 2009, um dos tais “dez mais ricos” na Bolsa!...
- No Brasil não há disto? Claro que há, e com números talvez maiores, mas o que é notícia é o crescimento da economia, é o acréscimo 2,5 pontos acima da inflação dos salários, é o crescimento das pensões (6,5%), do salário mínimo, o que Lula diz é que, se se resistiu ao pior da crise com a resposta do incentivo ao consumo popular, agora é a altura do incentivo ao investimento sem prejuízo da necessária continuação da melhoria do nível de vida da população. E, pensando nas eleições de 2010, Meirelles, do Banco Central, diz que estas podem prejudicar a manutenção do caminho da economia, o que interpretei como um sinal para a necessidade de que se deva continuar a linha que tem sido seguida, enquanto Mantega, o ministro da Fazenda, contrapõe que as eleições não irão perturbar esse caminho, o que interpretei como a confiança de que essas eleições irão ser ganhas por quem vai suceder a Lula e continuar a linha que tem sido seguida.
3 comentários:
Grandes curtas notas!
Abraço.
São as incoerências do nosso Lula (ou seriam as coerências com a política nacional)que nos afligem para decidir sobre em quem votar nas próximas eleições. Seja como for, e ainda que muitos dos recursos deságuem no mar de lama da corrupção, há que se votar em quem mais se aproxima de tornar um pouco mais feliz a vida dos (antes)excluídos ou dos novos incluídos.
É verdade que Lula se tem aproximado do povão mas será que o sistema que comanda a política brasileira irá permitir que essa aproximação venha a ser mais eficiente?
Gostei muito de ler todas as notas. Um beijo.
Enviar um comentário