Não há uma sequência planeada de temas. Nestas reflexões, as cerejas vão saindo umas atrás das outras ao sabor das leituras e releituras e adia-se a arrumação. Por isso mesmo me parece que estão a faltar umas palavras sobre necessidades. Não abro um parêntese, não saio do rumo, apenas introduzo umas considerações sobre um tema que se me afigura sempre em falta. Talvez por lhe dar tanta importância.
É verdade que se pode pegar nele de forma que desvie do essencial, que pode mesmo servir para aquela deriva intencional (mal intencionada) de dividir Marx, de seccionar a juventude da maturidade como se esta (a matura idade) não seja claramente explicada por aquela, como se não houvesse um percurso que, tal como o da História, avança sem cortes mas com saltos (qualitativos) provocados pelos passos (quantitativos) que se vão dando… por vezes “marcando passo”
A nossa base teórica, no que respeita à economia, não pode menos-considerar as necessidades. O ser humano tem a sua “primeira natureza” enquanto matéria organizada em ser vivo, com as necessidades que lhe são… naturais, isto é, as de se manter matéria organizada, viva: alimenta-se, protege-se do meio de que é parte, reproduz-se para se continuar; tem uma “segunda natureza” enquanto animal que se socializa, que comunica, que trabalha, que divide trabalho, que vai criando necessidades que são naturais a essa “natureza social” porque humanas e em constante progresso, embora a escala do tempo possa ser imperceptível para o nosso horizonte individual, tão limitado nos anos de sua duração.
Estou, é evidente, a entrar por áreas que não são as do sapateiro que sou, a tocar rabecão que não é o meu instrumento (nenhum o é…), se calhar a dizer disparates. Mas não a dispara(ta)r! Comedido.
O que quero tornar claro é que, ao tomar partido, assumimo-nos materialistas, históricos e dialécticos. E que as necessidades nossas são as de ser(mos) animal e humano, isto é, social.
Temos necessidades! A economia estuda (ou deveria estudar) como, pelo trabalho (necessidade nossa, imaterial), servindo-nos e transformando a natureza que nos rodeia e em que somos, as satisfazemos. Criando valor – de uso e de troca – até ao acto de usar o valor de uso, até consumirmos, consumo que já é de outras áreas que não a da economia.
Por isso, a avaliação (digamos moral) das necessidades está fora das nossas fronteiras, embora as várias áreas do pensamento e da compreensão do que somos e como estamos tenham de se integrar numa visão de conjunto. E tomar partido! Não como economista, mas reflectindo-se evidentemente na economia que, como economista, cada um pratica.
Por isso, gosto de citar Marx (pois claro!): "Para a nossa finalidade (…) é totalmente indiferente se um produto real, por exemplo, como o tabaco, é do ponto de vista fisiológico, um meio de consumo necessário ou não; basta que, em conformidade com o hábito, [ele seja] um tal [meio de consumo necessário]."
É verdade que se pode pegar nele de forma que desvie do essencial, que pode mesmo servir para aquela deriva intencional (mal intencionada) de dividir Marx, de seccionar a juventude da maturidade como se esta (a matura idade) não seja claramente explicada por aquela, como se não houvesse um percurso que, tal como o da História, avança sem cortes mas com saltos (qualitativos) provocados pelos passos (quantitativos) que se vão dando… por vezes “marcando passo”
A nossa base teórica, no que respeita à economia, não pode menos-considerar as necessidades. O ser humano tem a sua “primeira natureza” enquanto matéria organizada em ser vivo, com as necessidades que lhe são… naturais, isto é, as de se manter matéria organizada, viva: alimenta-se, protege-se do meio de que é parte, reproduz-se para se continuar; tem uma “segunda natureza” enquanto animal que se socializa, que comunica, que trabalha, que divide trabalho, que vai criando necessidades que são naturais a essa “natureza social” porque humanas e em constante progresso, embora a escala do tempo possa ser imperceptível para o nosso horizonte individual, tão limitado nos anos de sua duração.
Estou, é evidente, a entrar por áreas que não são as do sapateiro que sou, a tocar rabecão que não é o meu instrumento (nenhum o é…), se calhar a dizer disparates. Mas não a dispara(ta)r! Comedido.
O que quero tornar claro é que, ao tomar partido, assumimo-nos materialistas, históricos e dialécticos. E que as necessidades nossas são as de ser(mos) animal e humano, isto é, social.
Temos necessidades! A economia estuda (ou deveria estudar) como, pelo trabalho (necessidade nossa, imaterial), servindo-nos e transformando a natureza que nos rodeia e em que somos, as satisfazemos. Criando valor – de uso e de troca – até ao acto de usar o valor de uso, até consumirmos, consumo que já é de outras áreas que não a da economia.
Por isso, a avaliação (digamos moral) das necessidades está fora das nossas fronteiras, embora as várias áreas do pensamento e da compreensão do que somos e como estamos tenham de se integrar numa visão de conjunto. E tomar partido! Não como economista, mas reflectindo-se evidentemente na economia que, como economista, cada um pratica.
Por isso, gosto de citar Marx (pois claro!): "Para a nossa finalidade (…) é totalmente indiferente se um produto real, por exemplo, como o tabaco, é do ponto de vista fisiológico, um meio de consumo necessário ou não; basta que, em conformidade com o hábito, [ele seja] um tal [meio de consumo necessário]."
Repito, modificando: basta que, em conformidade com o hábito (poderia dizer-se: com a cultura própria do tempo-em-que), esse produto real (essa mercadoria saída da esfera produtiva…) seja sentida como uma necessidade, isto é, seja um meio de consumo sentido como necessário, independentemente de considerações fisiológicas ou outras, como morais ou éticas. E aqui entram em campo as relações sociais de produção e a superstrutura da formação social, ou seja a exploração capitalista, a publicidade, a ideologia que se impõe dominantemente, a partir da relação de forças na luta de classes.
(segue já… amanhã)
3 comentários:
Que impõem essas (novas) necessidades mas, ao contrário do que alguns pensadores burgueses pretendem impor, não são criadoras de novos valores (de uso e de troca). É a tal questão... Este serviço prestado nas ou às empresas produtoras, intimamente associado à circulação, na lógica de que promove as vendas (as necessidades que geram na sociedade), torna-se indispensável à lógica do sistema capitalista, tendo em conta os interesses de acumulação e a obrigação de realizar o máximo de produção (independentemente do maior ou menor interesse dessa produção para a comunidade). É o caso do armamento, que tal como o tabaco, não interessa se do ponto de vista fisiológico é necessário ou não. Interessa é que no estado de desenvolvimento actual, na actual correlação de forças da luta de classes o armamento e a guerra serve, e de que forma, os interesses capitalistas.
É isso!
Aliás... já falaremos das armas, essa mercadoria intrinsecamente capitalista, cujo valor de uso, ao ser usado, consumido, não só é consumido como destrói, i.e., ajuda à "necessidae" de criação de novos valores de uso!
Boa!... (sem jactância)
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