Na introdução a Trabalho colectivo e trabalho produtivo na evolução do pensamento marxista, ao arrolar as cinco características da economia política marxista, Jacques Nagels refere a quarta característica - “ análise económica (da economia política marxista) é conduzida do ponto de vista da produção” -, de forma sucinta e pedagógica que convida à transcrição. Não a farei como tradução literal mas como breve reflexão procurando fixar (nunca decorar… que foi coisa a que sempre fui alérgico) o essencial da página e meia de leitura.
Aliás, diria que ler Marx, ou ler sobre Marx, em português é experiência interessantíssima de que relatarei vivências que, julgo, ilustram toda a impressionante riqueza e actualidade do pensamento marxista. Mas, agora, não é disso que estou a tratar…
Do que estou a tratar é da análise económica, que pode ser “conduzida” a partir i) da óptica da produção (ou da oferta), ii) da óptica das esferas da circulação do capital – tanto a comercial como a que inclui a moeda, o crédito, o financiamento – e iii) da óptica da procura (do consumo).
Sublinhando-se que optar por uma não significa ignorar as outras, o marxismo considera que a produção desempenha o papel motor, o que de forma alguma exclui ou desvaloriza a importância das outras parcelas na actividade económica.
Esta escolha é coerente com o marxismo como um todo pois, como escrevemos na anterior mensagem, “é na produção que o homem se confronta e mede com a natureza, inclusive a sua, apoiando-se nas técnicas, em tudo o que antes se dotou como instrumentos, é na produção que se trabalha e cria, é na produção que a ciência se introduz no processo económico”. E é coerente com o papel central que Marx atribuiu ao progresso técnico, que se manifesta quando e onde o "saber social" se materializa em meios de produção (outro tema que fica “em carteira”…).
E aqui reside uma questão da maior importância teórica – lembre-se que estamos a reflectir sobre a base teórica do Partido que se tomou ao tomar partido… de classe – que é o do valor das mercadorias. Na produção, cria-se um valor de troca (que vai ao mercado…) porque, nessa produção, se cria ou transforma um valor de uso, em unidade dialéctica, e quem diz criação/aumento de valor diz, no quadro do modo de produção capitalista, criação de mais-valia.
Como se lê em Nagels, e largamente fundamentado, “para os marxistas, todo o átomo de mais-valia é criado na produção e nenhum átomo de mais-valia é criado fora da produção”, o que levanta uma questão (ou duas?): é assim para todos os marxistas?, ou não é marxista quem assim não analisa?
É imprescindível referir a noção de relações de produção, que se define como as relações sociais que os seres humanos estabelecem entre si em função do lugar que ocupam na produção. A noção de classe social, que escora a tomada de partido, está, nesta abordagem, intrinsecamente ligado à noção de relações de produção, pelo que a óptica da produção representa uma opção da análise própria da economia política marxista.
Com que a prática tem de ser coerente.
Aliás, diria que ler Marx, ou ler sobre Marx, em português é experiência interessantíssima de que relatarei vivências que, julgo, ilustram toda a impressionante riqueza e actualidade do pensamento marxista. Mas, agora, não é disso que estou a tratar…
Do que estou a tratar é da análise económica, que pode ser “conduzida” a partir i) da óptica da produção (ou da oferta), ii) da óptica das esferas da circulação do capital – tanto a comercial como a que inclui a moeda, o crédito, o financiamento – e iii) da óptica da procura (do consumo).
Sublinhando-se que optar por uma não significa ignorar as outras, o marxismo considera que a produção desempenha o papel motor, o que de forma alguma exclui ou desvaloriza a importância das outras parcelas na actividade económica.
Esta escolha é coerente com o marxismo como um todo pois, como escrevemos na anterior mensagem, “é na produção que o homem se confronta e mede com a natureza, inclusive a sua, apoiando-se nas técnicas, em tudo o que antes se dotou como instrumentos, é na produção que se trabalha e cria, é na produção que a ciência se introduz no processo económico”. E é coerente com o papel central que Marx atribuiu ao progresso técnico, que se manifesta quando e onde o "saber social" se materializa em meios de produção (outro tema que fica “em carteira”…).
E aqui reside uma questão da maior importância teórica – lembre-se que estamos a reflectir sobre a base teórica do Partido que se tomou ao tomar partido… de classe – que é o do valor das mercadorias. Na produção, cria-se um valor de troca (que vai ao mercado…) porque, nessa produção, se cria ou transforma um valor de uso, em unidade dialéctica, e quem diz criação/aumento de valor diz, no quadro do modo de produção capitalista, criação de mais-valia.
Como se lê em Nagels, e largamente fundamentado, “para os marxistas, todo o átomo de mais-valia é criado na produção e nenhum átomo de mais-valia é criado fora da produção”, o que levanta uma questão (ou duas?): é assim para todos os marxistas?, ou não é marxista quem assim não analisa?
É imprescindível referir a noção de relações de produção, que se define como as relações sociais que os seres humanos estabelecem entre si em função do lugar que ocupam na produção. A noção de classe social, que escora a tomada de partido, está, nesta abordagem, intrinsecamente ligado à noção de relações de produção, pelo que a óptica da produção representa uma opção da análise própria da economia política marxista.
Com que a prática tem de ser coerente.
(continuarei, eventualmente… aqui)
2 comentários:
Muito bem!
Uma das grandes dificuldades na compreensão da economia política marxista reside na compreensão das consequências concretas da análise sob a perspecitca da produção, bem como na delimitação do que é produção.
Estas dificuldades não surgem por acaso. A alienação do operariado do domínio sobre a sua produção e o papel de domínio do capital, como relação social de produção assim o exigem.
Até entre nós estas dificuldades ganham expressão na luta do dia-a-dia. As estatísticas não dão relevo a esta lógica. É o caso do PIB, sempre abordado na lógica da despesa, é a inflação e deterimento dos salários e do valor de troca da produção, é a monetarização e financeirização da ciência económica que nos dá a ideia que economia é apenas moeda e finanças públicas.
Para ilustrar esta dificuldade gostaria de vos dar um exemplo retirado da minha experiência pessoal. Se estivermos atentos hoje alguns sectores inconformados sobrevalorizam os chamados direitos dos consumidores. Retomam e valorizam uma lógica liberal, a liberdade de escolha, a «democracia económica» dizem os friedman e vitor bentos... Reparem que esta abordagem do consumo (que em si não pode ser desvalorizado) responsabiliza as massas de consumidores (os trabalhadores) pelas sua «erradas» (dizem) opções. Responsabilizam-nos pelo endividamento externo, das famílias e do Estado. Quantas vezes não ouvimos a comparação entre o país e uma família? E que não podemos gastar mais do que temos?
Também nós, por vezes, pelas dificuldades da luta, pelas nossas deficiências de organização, também por algum facilitismo, optamos por não combater efectivamente estas abordagens pois analisamos a nossa economia (doméstica e mundial) na óptica da despesa, na óptica da circulação e não na da produção...
Tão dificil é por vezes falar em salários e em jornada de trabalho. Tão dificil é por vezes falar em produtividade, diferente de intensidade, diferente de qualificação, etc.
Tão dificil é por vezes lembrar que pobreza ou pauperismo é muito mais que a aparência do consumo nos apresenta.
Abraço... e continua!
Espero a continuação das tuas lições de Economia que me têm sido muito úteis. Achei muito interessante o comentário anterior porque eu também tenho sido muito confrontada com problemas idênticos.
Um beijo.
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