quarta-feira, agosto 11, 2010

Tomar partido!

Tomar partido!
Gosto muito desta expressão. E mais ainda fiquei a gostar quando a traduzi do francês, do título de um livro de Georges Cogniot, militante e dirigente do Partido Comunista Francês de 1921 até à sua morte (1978): Parti pris (1976).
Pois tomar partido é fazer da vida uma luta por aquilo que nos levou a tomar partido. Não é fácil. Mas passou a ser, para quem tomou partido, a razão de ser.
E, repare-se, o tamanho das letras não é indiferente. Em tomar partido, partido não está em maiúsculas porque não quer dizer (não deve querer dizer) entrar para um grupo, uma associação, uma seita, tomar partido, não é (não deve ser) igual a tornar-se sectário.
Mas quando é uma concepção de vida e de humano, quando é uma opção vital (para a vida) pelo social, pelo privilégio do colectivo sobre o individual, quando é a assunção de “o outro (como) o mais elevado objecto da necessidade humana” (Marx), tomar partido é, também, tomar Partido. Porque só com outros, e com eles organizado, terá sentido e realização. Ou com ele, Partido, solidários.
Ser de um Partido, de um colectivo de diferentes com quem se partilham concepções, objectivos e luta, é forma de tomar partido. Estar dentro, adoptar as regras-estatutos coerentes com o partido que se tomou, respeitá-las, aceitar a base teórica, participar na vida interna, debater e contribuir para as pequenas e as grandes decisões, ajudar a levá-las à prática (mesmo que contra elas se tenha estado no debate interno). É isto tomar partido e, por isso e para isso, ser de um Partido.
Ser comunista é ter tomado partido, é ser do Partido Comunista, é conhecer e adoptar os estatutos por eles serem as regras da forma organizacional que corresponde ao partido que foi tomado, é participar – de acordo com essas regras – na vida interna desse colectivo.
Não é fácil. Porque é… humano. Porque é o indivíduo no colectivo, e o colectivo na sociedade como ela é e muda em cada momento, na correlação de forças sociais que se luta por alterar.
A História é a da luta de classes, enquanto houver classes.
Tomar partido é ser de uma classe e estar, individualmente e no colectivo, na luta dessa classe. Que é dura e, por vezes, violenta. Porque há o inimigo de classe, objectivo, capaz de tudo, sem constrangimentos éticos (ou com a sua “ética”...), e há os que, não sendo objectivamente da classe inimiga, se tornam, subjectivamente, inimigos da própria classe e aliados da classe que não são, por quererem que a luta se faça de outra maneira e não recuam, sabotando, intrigando, sempre na tentativa de contrariar as maneiras que não sejam a sua – individual ou de grupúsculos desligados das massas que pretendem iluminadamente representar.
Nada disto tem a ver com diferenças de opinião, com debate de ideias, com discussão e confronto e desejado acerto de vias de fazer a mesma luta. Dentro do Partido ou com quem, tendo tomado partido, procura formas de intervir na luta social.
(continuarei)

5 comentários:

Graciete Rietsch disse...

Gostei muito deste teu post. Ainda hoje ao almoço, eu e a minha filha Susana, também camarada,estivemos a conversar sobre o assunto. Nós, mantendo a nossa personalidade e digamos pertencendo ao que ainda se chama uma determinada classe, tomamos partido e entramos numa luta de classes pelo social e, como tu dizes, optando pelo privilégio do colectivo sobre o individual.
Por isso tomamos partido pelo nosso Partido, o PARTIDO COMUNISTA PORTUGUÊS, sem sectarismo, mas com confiança e absolutamente cientes dos seus estatutos. Não digo opções de luta porque elas reflectem as minhas,as nossas.

Um grande abraço,camarada.

Sérgio Ribeiro disse...

Camarada Graciete (e Susana), muito obrigado pelo teu comentário.
Gostei muito dele.

Grande abraço

Maria disse...

É um 'refresco' para a alma (seja lá o que isso for) ler-te.
Tomar partido é estar do lado certo da vida!

Beijos.

Justine disse...

Excelente texto, reflexão séria e clara.

svasconcelos disse...

Este post foi um dos mais elucidativos ( e ainda por cima bonito:))) sobre o que é tomar partido e o que é , sem suma, ser comunista: lutar por um colectivo, sem perder a individualidade,é certo, mas assumindo a colectividade como a grande razão da nossa luta.
bjs,