quinta-feira, novembro 03, 2011

Não nos deixamos varrer para debaixo do tapete...

Cada vez é mais evidente a clivagem entre a realidade e a imagem que o poder (na promiscuidade do financeiro, do comunicacional e da política) pretende dar dessa realidade, ela mesma complexa, embrulhada e confusa.
Há um mundo ficcional que se procura impor como subsituto da realidade.
A democracia de faz-de-conta, reduzida à componente representativa, que limita, controla, manobra, impede a democracia participativa, toma por vezes aspectos evidentes, gritantes, apesar das carradas de areia atirada aos olhos. As ondas levantadas pelo anúncio de um referendo na Grécia, a escondida eventualidade de um referendo no Reino Unido sobre a permanência na U.E. ilustram essa clivagem. Com expressões públicas, publicadas, desde a surpresa ao pânico.
Quando em Portugal há um mal estar larvar, mesclado de resignação e desespero, protesto e indignação, quando se sai de uma semana de mobilização e luta, quando se prepara uma greve geral, quando se afirma - e se esconde - uma presença relevante e contundente, a nível parlamentar, de uma esquerda consequente, ainda que minoritária, é significativo que um senhor chamado Sarkosy se permita dizer que "o programa português funcionou porque o governo liderado então pelo senhor Sócrates e a oposição se puseram de acordo", usando esse exemplo, mas também o da Irlanda e da Espanha, para concluir que o consenso multipartidário é decisivo. Que entende ele por consenso? A exclusão, metendo debaixo do tapete, tudo o que e quem não está de acordo?
É absolutamente inaceitável que um presidente francês, desqualificado e em vésperas de perder a escassa representatividade que tem, decrete, para Estados soberanos, como funciona a democracia, apresentando Portugal como o exemplo... por estarem todos de acordo!
Pois não é verdade, e fique-se certo que, por enorme que seja o tapete (ou o manto da fantasia) não cabemos debaixo dele. Até porque lixo são eles, e são eles que o fazem. Tóxico.

7 comentários:

cid simoes disse...

Só os masoquistas adoram os sádicos. "governo e a oposição consequente de acordo..."

samuel disse...

Com esta corja só concordo numa coisa: discordar!

Abraço.

Graciete Rietsch disse...

Onde está a oposição ao governo de Sócrates, que acabou por assinar a troika com esse mesmo governo? É a mesma que segue o caminho que ele abriu?
Já não há paciência para ouvir esses incompetentes mal intencionados.
Preciso é mesmo lutar.

Um beijo.

Antuã disse...

Isto tem que dar tábuas!...

Guilherme da Fonseca-Statter disse...

A propósito dos «Merkozys» de serviço e das suas boutades, vem-me à memória a reflexão de Marx sobre a mediocridade grotesca de Louis Bonaparte.

cid simoes disse...

Caro Fonseca-Statter; ando a ler "o preço das coisas" com muito interesse.

Guilherme da Fonseca-Statter disse...

Se Sérgio Ribeiroe me permite usar este espaço para isso, quero agradecer ao Cid Simões o interesse pelo livro «O Preço das Coisas» e - se quiser - faça crítica. É sempre bem vinda! Vou ser se começo a «blogar»...