quinta-feira, maio 31, 2012

Antropólogo, merceeiro, matemático?... economistas são os outros

O antropólogo José Ferreira (Fala Ferreira) publicou esta "matemática do desastre" que merece ser transcrita por este economista (tenho carta de condução de economista desde 1958)

Matemática do desastre

Saiu hoje a notícia de uma queda abrupta na receita do IVA em relação ao ano passado. A Unidade Técnica do Orçamento de Estado encontrou um erro nas contas do Ministério das Finanças. A quebra fiscal afinal foi de 7,4% e não de 3,5% previamente anunciados. O primeiro ponto a notar é que os cortes em despesa do Estado foram “compensados” pelo abrandamento da economia. Resultado: as medidas da Troika deixaram-nos na mesma.
No entanto, uma análise de merceeiro ou melhor, de antropólogo que gosta de economia, deixa-me ainda mais preocupado. A quebra de receita fiscal foi no IVA (Imposto sobre o Valor Acrescentado). Ora, notemos duas coisas. Uma, o PIB é o somatório do valor acrescentado de todas as empresas. Outra, a dívida e o défice público são calculados em percentagem do PIB. O que quer dizer que, mesmo que o governo não se endivide mais, a dívida pode aumentar apenas porque o PIB caiu. Ora, não será a quebra inesperada do IVA o indicador de uma quebra inesperada do PIB.
Passos Coelho disse hoje que vamos no bom caminho. Mas porque nos aplaudem; não porque estejamos a mostrar resultados. Até porque, segundo uma nota à comunicação social, o erro foi nas contas do ano passado. Esqueceu-se de dizer que as contas deste ano tomam por base as do ano passado. Nunca se faz um Orçamento de Estado a partir do zero (ver definição no wikipedia), mas sempre ajustando o do ano anterior. Portanto, os números não contam como quer dizer o nosso Primeiro Ministro; as comparações é que contam.
Não é possível ver algo positivo aqui. Não é possível dizer que as medidas de austeridade foram implementadas sem contar com uma folga que afinal existia. Afinal, segundo a mesma notícia, apesar das medidas de austeridade, a despesa do Estado aumentou, sobretudo devido aos juros da dívida pública. A única “esperança” é que a quebra no IVA se deva a uma fuga ao fisco. Afinal só isso explicaria a discrepância entre a queda do IVA e a queda do PIB. Lembremo-nos que o governo prevê uma quebra do PIB 3,3%; e a queda do IVA foi de 6,8%.


Isto sem falar de médico e de louco,
de que todos temos um pouco...
mas lúcidos, merda!, como dizia um outro que era poeta
(como todos também somos)

4 comentários:

Carlos Gomes disse...

Assembleia da República aprova orçamento suplementar
http://dre.pt/pdf1sdip/2012/05/10600/0285102856.pdf
- Eles gastam, gastam, gastam...nós pagaamos!

Mário Pinto disse...

Prezado,

Ainda que a condução legitime experiencia como critério de idoneidade, essa velocidade não está permitida em Portugal.

Um abraço

Antuã disse...

Não comerei jamais coelho. Veneno é o que o coelho tem.

Graciete Rietsch disse...

Tantas contradições!!!!!
Até onde chegaremos sem que as pessoas se apercebam da embrulhada em que andam metidas!!!!!

Um beijo.