Amsterdam, Congresso Marx em Maio e outras circunstâncias afastaram-me deste cantinho.
E hoje, ao regressar, a anteceder o necessário balanço de Marx em Maio, mas a ele ligadas, as eleições em França e na Grécia.
Lendo os "sinais". Que só assim devem ser lidas as eleições.
E os"sinais" são aparentemente contraditórios, com a comunicação social a fazer eco, não da informação mas do modo como "convém" informar. Muita alegria nas ruas de Paris e arredores do hexágono, com cânticos de vitória... da esquerda, saudando o fim da austeridade; na Grécia, uma queda brutal do Pasok o Partido Socialista da Grécia), e também da dita Nova Democracia, castigando os fautores (internos) da austeridade como solução (de quê?).
No meio das contradições, o não à austeridade como "sinal" convergente. Para ser lido ou para ser manipulado?
E Marx, nisto?
Transcreve-se um seu texto quase desconhecido, um pequeno capítulo (o 27 de uma série não sequencial) de uma "novela humorística":
«Capítulo 27
"Ignorância, ignorância". "Porque (...) o seu joelho se dobrava demasiado para um lado!", mas faltava-lhe a certeza, e quem pode assegurar, quem pode descobrir que parte é a direita e qual é a esquerda?
Diz-me tu, mortal, donde vem o vento ou então se Deus tem nariz, e eu te direi que é a direita e que é a esquerda?
Não são outra coisa que conceitos relativos, é como misturar a loucura e a demência com equilíbrio.
Oh! Todas as nossas aspirações serão vãs e a nossa nostalgia uma ilusão até que tenhamos acertado em saber que é a direita e que é a esquerda, já que a esquerda colocará os cabrões e a direita os cordeiros.
Se se volta, se toma outra direcção porque à noite se teve um sonho, então os réprobos estarão à direita e os santos à esquerda com as nossas miseráveis visões.
Por isso, explica-me o que é a direita e o que é a esquerda e se desfará completamente o nó da criação. Acheronte movebo, disso eu deduzirei com precisão onde irá parar a tua alma, e depois deduzirei também em que escalão te encontras agora já que a relação originária aparecerá mensurável; enquanto a tua colocação fora determinada pelo volume da tua cabeça; sinto vertigem, se aparece um Mefistófeles serei Fausto, pois está claro que todos nós somos um Fausto, já que não sabemos que parte é a direita e qual é a esquerda, por isso a nossa vida é um circo; corremos em círculo, procuramos todas as partes até que caímos sobre a areia e o gladiador, a vida, precisamente, nos mata; devemos ter um novo salvador, pois - pensamento tormentoso, roubas-me a saúde, matas-me - não podemos distinguir a parte esquerda e a parte direita, não sabemos onde se encontram.»
apresentação de
José Viale Moutinho
versão portuguesa de
João Folgado
arca das letras, Porto 2007
2 comentários:
Aguardo reposta às perguntas que deixas... mas sem a expectativa de ser surpreendido. Vamos ver, diria o cego.
E Marx nisto?
"Oh! Todas as nossas aspirações serão vãs e a nossa nostalgia uma ilusão até que tenhamos acertado em saber que é a direita e que é a esquerda, já que a esquerda colocará os cabrões e a direita os cordeiros."
Soberbo texto...
Já não falo em direita e esquerda embora pense que sobre esse tema tenha ideias relativamente claras.
Falo em alternância, mudança de política, construção de um mundo diferente e melhor e aí, sim, está MARX.
Um beijo.
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